sábado, 31 de maio de 2008

O quase-novo-desenvolvimentismo, os trabalhadores e o imperialismo


Já tive a oportunidade de escrever recentemente, aqui mesmo, a respeito do quase-novo-desenvolvimentismo, modelo político-econômico que expressa a práxis do governo Lula.

No outro texto eu proponha uma reflexão a respeito do caráter inequivocamente, exclusivamente e intransigentemente burguês de tal "projeto" de orientação governamental.

Entendo que é importante ressaltar um outro aspecto do quase-novo-desenvolvimentismo de Lula: sua íntima vinculação com os interesses do grande capital estrangeiro atuante no país.

Na última semana divulgou-se alguns dados fundamentais para desnudar os sérios limites do modelo político-econômico do governo Lula. Por um lado, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) divulgou que mais da metade dos R$ 6,1 bilhões em isenções fiscais prometidas até 2011, como parte na "nova política industrial" do governo federal, vão para o setor automobilístico controlado oligopolisticamente por um punhado de gigantescas transnacionais. Por outro lado, o Banco Central divulgou que o déficit na conta corrente do Brasil no primeiro trimestre do ano bateu todos os recordes, chegando à marca histórica de mais de R$ 10 bilhões, sendo o principal elemento responsável por estes números negativos, o aumento em 118% das remessas de lucros e dividendos para o exterior por parte do capital estrangeiro (no qual o setor automobilístico ocupa um posto de primeira importância).

É extremamente significativo, para a compreensão do caráter de classe do quase-novo-desenvolvimentismo de Lula , que o setor empresarial mais beneficiado pelo projeto de política industrial recentemente lançado pelo governo federal é o mesmo que, além de promover uma intensa drenagem de recursos produzidos no país para o exterior, desenvolve uma política extremamente agressiva contra seus trabalhadores e, mais ainda, os sindicatos de seus trabalhadores (com demissões ilegais, retirada de direitos e etc.).

É importante, da mesma forma, não desconsiderar que, diante das pressões inflacionárias crescentes que se apresentam na atual conjuntura, crescem, no governo, paralelamente, as exigências por restrição ao consumo das massas e pela retirada de direitos dos trabalhadores, de modo a agir contra a inflação salvaguardando os interesses empresariais. Neste contexto, apenas uma clara orientação classista pode preparar adequadamente os movimentos populares e as organizações sindicais e políticas da classe trabalhadora para barrar a ofensiva capitalista que, tal como o lobo em pele de cordeiro, nos ameaça.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Paul Singer e a crise energética e alimentar


Apesar de não endossar algumas categorias suas – como a de “ex-pobres” – o texto abaixo, publicado pelo economista Paul Singer (um dos mais importantes do Brasil) na Folha de São Paulo, é extremamente valioso para contribuir na tomada de consciência a respeito da dinâmica inevitável que o sistema econômico capitalista impõe à população mundial, já em nossos dias.

O preço do petróleo está batendo recordes quase diariamente. No momento, ele gira ao redor de 130 dólares o barril. O índice dos preços de alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) foi, em média, 127 em 2006 e 157 em 2007, subindo para 220 em março de 2008 (1998-2000 = 100). Nunca em tempos de paz houve pressões inflacionárias tão violentas a partir do encarecimento de bens essenciais.

Por Paul Singer*


Eis a grande novidade dessa dupla crise que se deve às mesmas causas: a redução da pobreza em grandes países periféricos, como a China, a Índia e o Brasil (além de outros), que expandiu fortemente a demanda por derivados de petróleo e por alimentos "nobres" -carne e laticínios, cuja produção exige muito mais trabalho humano, energia e recursos naturais não renováveis, como terra e água.
A elevação dos preços do petróleo e da comida deveria provocar um aumento de sua produção, pois seu encarecimento a torna mais lucrativa. Mas a elevação da produção alimentar esbarra na disponibilidade de terra e água, limitada pela sua poluição pelos elementos químicos utilizados pelos agricultores. O mesmo vale para o aumento da produção de petróleo, limitado pelas reservas exploráveis.
Estamos nos defrontando com um cenário que Celso Furtado previu em 1974, quando escreveu "O Mito do Desenvolvimento Econômico". Ele sustentava que era um mito esperar que o desenvolvimento econômico dos países do Terceiro Mundo lhes permitiria alcançar o nível de vida usufruído apenas pelos povos do Primeiro Mundo, porque não haveria recursos naturais suficientes para que isso pudesse acontecer.
Quase um terço de século decorreu desde então, e o que parecia na época um exagerado temor malthusiano tornou-se consensual, sobretudo desde que se comprovou que o clima da Terra está aquecendo, com conseqüências danosas para os recursos naturais do planeta.
A nova classe média nos países chamados de emergentes passou a ter dinheiro para alcançar o padrão de vida de sua congênere do Primeiro Mundo. Essa mudança seria desejável se ela não impactasse desfavoravelmente sobre a grande massa que continua pobre.
A carestia da comida, causada pelo aumento da demanda dos ex-pobres, empobrece ainda mais os que já gastam a maior parte do que ganham para alimentar a família. Os cereais que lhes mataria a fome tendem agora a ser dados aos animais cujos derivados alcançam preços cada vez mais atraentes.
O funcionamento do mercado mundial de alimentos produz "naturalmente" esses efeitos perversos. Motins da fome estouram em cada vez mais países e, de acordo com a FAO, em 37, dos quais 21 africanos, há crise alimentar.
Premidos pelo desespero dos famintos, cada vez mais governos (inclusive o brasileiro) tratam de restringir a exportação de alimentos básicos para garantir o abastecimento do mercado interno. O que naturalmente agrava a situação dos pobres nos países que dependem de alimentos importados.
A ONU, alarmada com a gravidade da situação, está solicitando das nações mais ricas recursos para impedir que a fome se alastre pelo mundo, pondo em risco não só o combate à pobreza mas também a paz mundial.
Governos terão de adotar medidas de emergência para garantir um abastecimento alimentar mínimo a todos: estatizar os estoques de alimentos para evitar que sejam açambarcados pelos que têm dinheiro para formar estoques privados. E racionar a sua venda, por preços que os mais pobres possam pagar; eventualmente, taxar mais os alimentos derivados de animais para possibilitar o aumento da produção dos alimentos vegetais, indispensáveis à nutrição do conjunto da população; taxar também os derivados de petróleo, para reduzir a utilização do transporte individual e aumentar a do transporte coletivo.
A crise alimentar e energética poderá talvez ser contida por medidas como essas, mas sua resolução exigirá mudanças mais profundas.
Os padrões de consumo terão de ser acomodados à real disponibilidade de recursos naturais, e esta deverá ser alargada por mais investimentos no aumento da produção agrícola sustentável do ponto de vista social e ambiental.
As crises energética e da mudança climática terão de ser resolvidas pelo desenvolvimento de fontes renováveis de energia limpa, única maneira de acabar com as emissões de gases resultantes da queima de combustíveis fósseis.
A crise alimentar não pode deixar de limitar, em alguma medida, a produção de agrocombustíveis, de modo que o desenvolvimento de outras fontes de energia – solar, eólica, hidráulica – terá de receber prioridade.


* Paul Singer é economista, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Vitória da razão

Podemos comemorar a decisão do STF que autoriza a pesquisa com células-tronco embrionárias. Contra as forças organizadas do obscurantismo, prevaleceu o interesse da ciência, da razão e da humanidade que, de acordo com a decisão apertada do STF ( e isto é, por si, sintomático), devolve as esperanças para um sem número de cidadãos brasileiros deficientes físicos que devem ser tratados com a prioridade que merecem na formulação da política pública.

Retomar o caminho, resgatar o debate!

Não é mais possível, nem mesmo para o mais ufanista dos regionalistas da cidade, negar que Campos dos Goytacazes vive uma gravíssima crise política que, na verdade, se entrelaça com uma mais séria crise econômico-social.
Muito já se falou e se escreveu, principalmente nos inúmeros blogs da cidade, a respeito das manifestações, origens e conseqüências da crise presente, assim como de seus personagens principais. A exigência de uma alternativa às duas (ou seriam, agora, três) facções políticas que se estraçalham pelo controle do orçamento público municipal – exigência que ganhou corpo e consistência a partir da rede de blogs da cidade que culminou no simbólico ato “Chega de Palhaçada” – se tornou um ponto central na agenda campista, a tal ponto que esta “bandeira” – a da “terceira via” – vem sendo disputada retoricamente pelos mesmos setores que vêm se beneficiando com os múltiplos escândalos de corrupção denunciados e investigados pela Polícia Federal, Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal.
A recente prisão do antigo chefe da Polícia Civil e correligionário de Anthony Garotinho, pela organização de um esquema poderoso de corrupção mafiosa na secretaria estadual de segurança pública, esquema este que, segundo a Polícia Federal, teria em Garotinho um de seus principais articuladores, lança uma pá de cal sobre sua tentativa de se colocar no debate público como uma alternativa eleitoral moralizadora a nível municipal.
Não restam mais dúvidas, ou, pelo menos, não podem mais restar, de que é vital para o presente e para o futuro do município romper com a bizarra bipolaridade política imposta aos seus cidadãos. No entanto, o caminho através do qual seguiu o debate sobre a “terceira via”, ou melhor, sobre a necessária alternativa política a ser construída na cidade parece haver conduzido, também, a um ponto de estrangulamento, um ponto morto.
Algumas limitações importantes sufocaram, ao menos momentaneamente, o avanço da construção de uma via popular, democrática e progressista para a gestão municipal de Campos. Em primeiro lugar, o enquadramento rígido do debate sobre a “terceira via” nos marcos institucionais do PT campista, subordinou o primeiro às contradições e limitações do modus operandi do segundo.
Em segundo lugar, uma abordagem extremamente pragmática e imediatista acabou conduzindo a maior parte dos defensores da “terceira via” a subordinar o projeto de construção de uma alternativa política para a cidade à exigência de viabilidade eleitoral imediata da chapa que se lançaria como representante destes anseios de mudança. Faço questão de defender a tese segundo a qual uma alternativa política digna deste nome, com base de sustentação real suficiente para impor todas as mudanças que a cidade necessita, para ser efetiva, precisaria construir-se solidamente através de um processo de elaboração coletiva levada a cabo pela participação ativa e democrática do maior número de indivíduos e organizações possível, em uma perspectiva de mais largo prazo que não estivesse focada prioritariamente no pleito municipal deste ano.
O fato de a maioria dos defensores da “terceira via” defenderem um projeto político de natureza gerencial-empresarial, expresso em slogans em defesa da “eficiência administrativa” e na busca de alianças com expressivas lideranças empresariais da cidade, da mesma maneira, amputou o projeto da “terceira via” de toda possibilidade de assumir um caráter inequivocamente democrático, popular e progressista e, em função disto, romper as teias do clientelismo que envolvem grande parte das camadas populares da cidade.
Os mais recentes acontecimentos e reviravoltas envolvendo os dirigentes das principais facções políticas da cidade poderiam ser uma oportunidade para que voltássemos ao debate.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Trabalhar menos para trabalharmos todos


Hoje, em diversas cidades e estados do país, os sindicatos de trabalhadores filiados às várias centrais sindicais organizaram atos, manifestações e passeatas como parte de uma campanha nacional pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários e direitos, pela defesa da previdência pública e pela reforma agrária.
Os elevados ganhos de produtividade e de crescimento geral da atividade econômica, ou seja, da acumulação de capital, do período recente, tornam não apenas possível, como também necessária a redução da jornada de trabalho sem retirada de direitos dos trabalhadores, pois, em caso contrário, o resultado deste processo será o aumento do já monstruoso nível de desigualdade social e concentração de renda no país.
Uma das marcas fundamentais do sistema econômico capitalista é a constante renovação revolucionária dos padrões tecnológicos e organizacionais da produção. Nos marcos da propriedade privada e da economia de mercado, este constante processo de elevação da produtividade do trabalho significa, inevitavelmente, para a classe trabalhadora, desemprego e precarização.
Nos marcos de uma racionalidade e de uma lógica de interesses sociais distinta, o avanço da produtividade do trabalho pode e deve significar ampliação do tempo livre, da autonomia humana. O que realiza o movimento sindical neste dia de hoje, é apontar para a solução da crise social do desemprego estrutural massivo causado pelos avanços da tecnologia de produção a serviço do capital, indicando, inclusive a possibilidade de articulação de uma greve geral em defesa desta bandeira para breve. Até a vitória e sempre!

terça-feira, 27 de maio de 2008

O revisionismo neoconservador

Desde a semana passada, como resposta aos diversos eventos que têm sido realizados pelo país afora em memória dos acontecimentos históricos do ano de 1968, a grande imprensa nacional vem promovendo - através de alguns artigos de alguns pesquisadores e supostos especialistas – uma campanha de revisão histórica do significado das lutas contra a ditadura militar no Brasil, em especial, da luta armada.
Primeiramente, o historiador Marco Antônio Villa da USP publicou um artigo na Folha de São Paulo no qual buscava defender a tese segundo a qual a luta das organizações da esquerda armada, nos anos 60 e 70, teria tido papel nulo no desmantelamento do regime ditatorial e, além do mais, não deveria, sua história, ser reivindicada pelo “Brasil democrático” de hoje, pois sua luta era tão anti-democrática quanto o regime militar, já que seu propósito era a construção do socialismo e não da “democracia”.
Hoje, no jornal O Globo, o jornalista Merval Pereira retomou a tese de Marco Antônio Villa – e de outros historiadores – reafirmando a necessidade de promover a revisão da maneira como a história da luta armada contra a ditadura militar é contada no presente. Segundo Merval Pereira, Villa e outros, ao invés de serem considerados heróis que sacrificaram a vida no combate concreto contra a concreta ditadura militar, os guerrilheiros do passado devem ser considerados como anti-democráticos e truculentos rebeldes absolutamente insignificantes na história recente do Brasil.
Diante desta campanha revisionista neoconservadora é importante reafirmar algumas questões básicas: 1) independentemente de poder, ou não, ser considerada a estratégia de luta mais adequada para a época, o fato é que o desgaste promovido pela ação guerrilheira urbana e rural no aparato da ditadura militar não pode deixar de ser levado em consideração na análise do conjunto do período histórico em foco; 2) a imensa maioria dos trabalhadores, estudantes e intelectuais – além de soldados, cabos e sargentos expulsos das Forças Armadas – que compunham os contingentes armados das organizações da esquerda guerrilheira dos anos 60 e 70, realmente não estava sacrificando sua vida pelo tipo de “democracia” na qual vivemos hoje - com 90% da população dividindo apenas 25% da riqueza do país, e com 60% da população carcerária constituída de gente que sequer passou por um julgamento; 3) pessoas como Carlos Marighella, Carlos Lamarca, entre outros, devem sim ser considerados como heróis do povo brasileiro, pois lutaram e morreram defendendo a única democracia que vale este nome, aquela que se expressa não apenas no direito de votar, mas também na esfera muito real da vida sócio-econômica da nação.
Contra o revisionismo neoconservador que tenta se aproveitar da atmosfera obscurantista que invade boa parte dos departamentos universitários de ciências humanas e sociais no país, sem mencionar a grande imprensa, é preciso manter erguida bem alta a bandeira da verdade histórica e dos valores do progresso, da igualdade e da justiça social.

sábado, 24 de maio de 2008

A democracia de Uribe e Bush


No dia em que o alto escalão do Estado colombiano veio a público para celebrar o suposto assassinato exitoso de Manuel Marulanda, comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP), Faço questão de propor um aprofundamento da reflexão a respeito da terrível situação real na qual está envolvido o povo irmão da Colômbia.
O presidente colombiano Álvaro Uribe Vélez, aliado incondicional e intransigente da presidente Bush e de sua política externa para a América Latina, além de promover, seguidamente, atos provocativos meticulosamente planejados contra os países vizinhos do “eixo do mal” sul-americano (como os classificariam o Departamento de Estado dos EUA), também trabalha ostensivamente para construir, no exterior, a imagem de que a Colômbia é um país democrático cujo governo luta contra a ameaça anti-democrática de uma narco-guerrilha esvaziada de todo significado político e social.
Por um lado, é bastante questionável a maneira pela qual as forças político-militares irregulares das FARC-EP são apresentadas no exterior. Sua inserção social no país, entre setores tão diversos como o campesinato, o operariado e certas camadas da classe média, é bastante real e, indo mais além, é inquestionável – de um ponto de vista seriamente analítico – que as FARC-EP se constituem em uma força beligerante em um país em franca situação de guerra civil.
Por outro lado, o governo colombiano de Uribe - que anistiou e integrou à vida política formal do país os contingentes paramilitares da extrema-direita (responsáveis por inúmeros massacres e extermínios, além de explicitamente envolvidos com o narcotráfico) – deve se responsabilizar, em sua “cruzada” contra o “terrorismo”, o “extremismo” e pela “democracia”, por mais uma brutal e recente onda de assassinatos de lideranças sindicais naquele país. A notícia que divulgo abaixo (retirada do site da Agência de Notícias por uma Nova Colômbia) refere-se a uma tradicional prática na vida política colombiana: o assassinato sistemático de líderes sindicais, em especial daquelas categorias mais organizadas e ativas. É importantíssimo que nos preocupemos em conhecer efetiva e realmente o que se passa no país vizinho, recusando a opção fácil de aceitar passivamente a propaganda reacionária do pensamento único imposto pela grande mídia do capital.

Nova e macabra onda de assassinato de sindicalistas

Novamente, uma onda de assassinatos cobra a vida de destacados ativistas do movimento dos trabalhadores colombianos. Durante os primeiros três meses de 2008 foram assassinados os seguintes 19 sindicalistas:

Em 2 de Janeiro, em Medellín,
Mario Zuluaga Correa, da Associação Médica Sindical, Asmedas; em 12 de janeiro, em San Jerônimo, Antioquia, Ramiro de Jesús Pérez Zapata, dirigente de Adida, Fecode, Cut; em 24 de janeiro, em Chaparral, Tolima, Israel González, secretário geral da Astracotol, Fensuagro, Cut; em 28 de janeiro, em Itaguí, Antioquia, Yebraín Suárez, do Sigginpec, Cgt; em 2 de fevereiro, em Macarena, Meta, José Martin Duarte Acero, do Sintrambiente, Cgt; em 08 de fevereiro, em Tame, Arauca, María del Carmen Meza Pasachoa, da Asidar, Fecode, Cut; em 09 de fevereiro, em Balboa, Cauca, Arley Benavides Samboní, da Anthoc, Cut; no mesmo 09 de fevereiro, em La Vega, Cauca, José Giraldo Mamián, da Asoinca, Fecode, Cut; em 04 de março, em Ocaña, Norte de Santander, Carmen Cecilia Carvajal Ramírez, da Asinort, Fecode, Cut; em 06 de março, em Bogotá DC, Leonidas Gómez Rozo, do comitê de empresa do Citibank, Uneb, Cut; em 08 de março, em Medellín, Antioquia, Gildardo Gómez Alzate, do Centro de Estudos e Investigações Docentes de Adida, Fecode, Cut; em 09 de março, em San Vicente del Caguán, Caquetá, Carlos Burbano, vice-presidente local da Anthoc, Cut; em 12 de março, em Codazzi, César, Víctor Manuel Muñoz, da Aducesar, Fecode, Cut; em 15 de março, em Puerto Asís, Putumayo, Manuel Antonio Jiménez, da Cicacfromayo, Fensuagro, Cut; em 18 de março, em Cartago, Valle, José Gregorio Astros Amaya, da Aseimpec, Cgt; em 22 de março, em Riohacha, Guajira, Adolfo González Montes, da Comissão de Propaganda de El Carrejón, Sintracarbón, Cut; e em 1º de abril, em La Hormiga, Putumayo, Luz Mariela Díaz López (que estava grávida de 7 meses) e Emerson Iván Herrera Ruales, da Asep, Fecode, Cut.


Vários desses assassinatos têm tido características extremamente atrozes. Os autores têm torturado as vítimas de forma vil. Leônidas, Gildardo e Adolfo, apesar de terem sido mortos em três locais distantes do país, Bogotá, Medellín e Riohacha, sofreram ataques muito parecidos, estripados dentro de suas casas, em que receberam numerosos golpes e punhaladas. Os criminosos nestes três casos usaram apenas armas perfuro cortantes. O corpo de Carlos Burbano foi encontrado em uma lixeira, cruelmente torturado. Ainda que o magistério, que realizou as maiores mobilizações em 2007 e já alcançava maior presença política, é novamente o setor que mais assassinatos registra, desta vez os assassinatos têm atingido uma ampla gama de sindicatos, em uma verdadeira agressão contra a ascensão do movimento grevista registrado no país, em setores tão diversos como a mineração (Billiton – Corromatoso), a agricultura (palma aceitera), a saúde e a administração pública (Dian, Justiça).

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Gaza palestina e independente resiste


Hoje, novamente, as tropas das assim chamadas “Forças de Defesa de Israel” (sic) lançaram um maciço ataque por terra a ar contra a população palestina da Faixa de Gaza. Derrotar a independência rebelde dos palestinos de Gaza se tornou um objetivo político-militar de primeira grandeza no que diz respeito às formulações geopolíticas expansionistas do “Estado-Maior” israelense.
Desde 2007, quando as forças do Hamas, apoiadas massivamente pela população civil, derrotaram e expulsaram de Gaza as milícias do partido Al Fatah (em função de sua explícita e agressiva política de colaboração com Israel e os Estados Unidos), este território se transformou, de fato, no único território palestino independente, ainda que com todas as dificuldades e obstáculos impostos à sua viabilização econômico-social.
Apoiar os palestinos de Gaza contra a brutalidade da violência desproporcional de Israel é defender a intransigente rebeldia palestina e sua histórica e legítima luta por independência

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A democracia e os tribunais

Enquanto a população de Campos, ou parte significativa dela, aguarda ansiosamente pelo julgamento dos ministros do Superior Tribunal de Justiça relativo ao agravo de instrumento movido contra a decisão do presidente do tribunal que restabeleceu Alexandre Mocaiber no cargo de prefeito da cidade, gostaria de propor uma reflexão a respeito da natureza e da função da tão amplamente defendida independência do Poder Judiciário. Faço referência aqui à dupla independência do Judiciário, tal como se configura nos Estados que se organizam de acordo com a clássica fórmula de Montesquieu: a) sua independência frente aos demais poderes do Estado (executivo e legislativo), e b) sua independência frente aos cidadãos, suas organizações e sua vontade política.
Se é possível, por um lado, afirmar, em um primeiro momento, que a independência do Judiciário em relação aos demais poderes estatais é uma situação menos problemática, por outro lado, sua independência frente aos cidadão, materializada, principalmente, na forma como é institucionalizada a carreira dos magistrados (cargos não-eletivos e estabelecidos como órgãos do Estado), é absolutamente incompatível com a noção de um Estado substancialmente – e não apenas formalmente – democrático. Os inúmeros casos de corrupção relacionados à atividade dos magistrados é a conseqüência inevitável das prerrogativas praticamente absolutas das quais gozam estes agentes do Estado, no exercício de sua atividade, no contexto de uma sociedade marcada pela desigualdade econômica e social e pelo monopólio classista do empresariado sobre os meios de produção.
A impossibilidade de a sociedade exigir prestação de contas dos magistrados relativamente a seus atos, contrariamente ao que afirma a doutrina conservadora do direito, não é garantia contra as múltiplas influências e pressões sociais sobre a atividade judiciária, é, isto sim, garantia de que apenas as piores e mais reacionárias influências e pressões sociais (como aquelas exercidas pelo poder econômico) se farão sentir sobre a atividade judiciária, determinando sua lógica de modo preponderante.
Dentro de uma concepção democrático-revolucionária do direito, a magistratura como cargo eletivo, revogável a qualquer momento pela cidadania, é o complemento indispensável de uma noção de Estado substancialmente democrático, garantidor do progresso material de toda a sociedade e fundado na soberania popular. No entanto, tal como está institucionalizada a estrutura e a prática judiciária no Brasil, resta a nós, como súditos, aguardar passivamente a manifestação do poder que vem do alto e de bem longe da voz das ruas, torcendo para que o poder econômico e o conservadorismo ideológico não frustrem nossa exigência de justiça.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Mantendo a chama acesa


Contra a avassaladora torrente reacionária que converteu a maior parte do panorama acadêmico na área das ciências sociais - entendidas em sentido amplo - em um lugar comum da reprodução sistemática da ideologia da classe dominante em suas várias versões (desde o individualismo metodológico mais rasteiro até o pós-modernismo mais "arrojado"), alguns bravos intelectuais, professores, e pesquisadores se mantém firmes na defesa de uma concepção de mundo racional, científica e, por isto, progressista e revolucionária.

Faço questão de utilizar este espaço para divulgar uma das iniciativas levadas adiante por alguns membros deste minoritário e aguerrido campo da intelectualidade marxista brasileira: a revista "História e Luta de Classes".


Já está acessível o número 5 da Revista História & Luta de Classes, com o dossiê TRABALHADORES E SUAS ORGANIZAÇÕES. Segue abaixo o sumário da revista .

A revista é produzida por um coletivo de associados e pode ser adquirida diretamente com seus integrantes ou através do e-mail http://br.f524.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=historiaelutadeclasses@uol.com.br, mediante depósito bancário no valor de R$ 15,00 por exemplar (incluída a postagem nacional).
Conforme explicitado no editorial de seu primeiro número, a revista orienta-se pelos "ventos constantemente renovados do marxismo" e, "em tempos de domínio social da barbárie neoliberal e de hegemonia conservadora no pensamento acadêmico, com destaque para a área da História e das Ciências Sociais, a Revista História & Luta de Classes procura servir como ferramenta de intervenção daqueles historiadores e produtores de conhecimento que se recusam a aderir e se opõem a essa dominação".
Estão disponíveis ainda exemplares dos números 3 (Escravidão, Trabalho, Resistência) e 4 (América Latina Contemporânea).

Comissão Editorial - História & Luta de Classes



HISTÓRIA & LUTA DE CLASSES – NÚMERO 5
TRABALHADORES E SUAS ORGANIZAÇÕES
ABRIL DE 2008


SUMÁRIO

Apresentação: A Classe Trabalhadora, suas lutas e organizações
Beatriz Loner, Eurelino Coelho e Marcelo Badaró Mattos

ARTIGOS
Existe uma economia moral dos trabalhadores? Apontamentos para uma história das estratégias operárias durante a Segunda Guerra Mundial
Fernando Pureza

Marxismo e Revolução: da “Estratégia de Derrocada” à “Guerra de Posições”
Ricardo Gama da Costa

Conluio e cadeias: Considerações sobre a direção pecebista na conjuntura do Estado Novo. 1936-1940
Carlos Zacarias de Senna Júnior

O Jornal do Povo e a luta por direitos – 1948
Victor Coelho

O ABC dos trabalhadores no pós-1964: Os grupos de Teatro Ferramenta e Forja
Kátia Paranhos

Das lutas operárias às reformas reacionárias: uma proposta de periodização para a história do Partido dos Trabalhadores
Felipe Demier

A CUT e a mobilização popular na Constituição de 1988
Gelson Rosentino de Almeida

Escombros do muro de Berlim sobre o PT e a CUT
Teones Pimenta de França

Memória e conflito no Partido dos Trabalhadores
Igor Santos

A conversão da CUT e a relação com o FAT (1990-2000)
Rodrigo Teixeira

RESENHAS
Resenha do livro ROCHA, Ronald. O movimento socialista no limiar dos impérios financeiros.
Jefte Pinheiro Júnior

Resenha do livro MUNTEAL, VANTAPANE, & FREIXO, (orgs). O Brasil de João Goulart: um projeto de nação
Rodrigo Castelo Branco

Resenha do Livro PETRAS, James. Imperialismo e luta de classes no mundo contemporâneo
Waldir José Rampinelli

Resenha do Livro AMORIM, Henrique José Domiciano. Teoria social e reducionismo analítico: para uma crítica ao debate sobre a centralidade do trabalho.
Edílson José Gracioli

Não à privatização da cultura!


Faço deste espaço, neste momento, uma tribuna aberta para o manifesto dos servidores públicos da área da cultura estadual do Rio de Janeiro, que vêm denunciando o projeto de privatização da cultura em nosso estado e conclamando à solidariedade. Com a palavra, os servidores da cultura.


À classe artística BRASILEIRA:


Encaminhamos a todos o link do abaixo-assinado contra a proposta de mudança de gestão da malha cultural do Estado do Rio de Janeiro constituída pelas unidades da Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro/Funarj, da Fundação Museu da Imagem e do Som/MIS, da Fundação Casa França-Brasil e da Fundação Teatro Municipal, mudança esta proposta pela atual Secretária de Cultura do Estado, Sra. Adriana Rattes.

Como a própria Secretária expôs em assembléia recente no Teatro João Caetano, segundo sua proposta os novos funcionários da Cultura seriam contratados temporariamente por duas OS - organizações sociais de direito privado - através de processo seletivo, com duração de dois anos somente. Imaginem o desastre que seria uma escola de arte trocando seus professores e coordenadores a cada dois anos, o mesmo ocorrendo com o pessoal dos museus, teatros, casas de cultura e etc.

Ironicamente, a Secretária argumenta que sua proposta integra uma "política cultural", esquecendo-se, talvez, que políticas culturais pressupõe continuidade nas ações e qualificação progressiva do corpo funcional. Na educação, por exemplo, os objetivos são plenamente atingidos quando da conclusão de ciclos de vários anos de duração; educação infantil, ensino fundamental, médio, superior, pós-graduação, etc.Assim, perguntamos: como ter escolas de arte e cultura de qualidade com trocas bienais dos funcionários? Além disso, continua a Secretária, quem escolheria os funcionários seriam os gestores das OS, isto é, a cada governo haveria uma troca generalizada dos contratados temporários, possibilitando, dessa maneira, toda a sorte de contratações irregulares por conveniências políticas e troca de favores variados.A causa diz respeito a toda classe artística e a população brasileira como um todo, por isso solicitamos que assinem nosso abaixo-assinado e encaminhem o link abaixo para o maior número de pessoas.


Funcionários da Cultura




segunda-feira, 19 de maio de 2008

O quase-novo-desenvolvimentismo de Lula


Recentemente o economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira publicou na Folha de São Paulo um artigo que, na prática, constituiu-se em uma espécie de manifesto em defesa do que ele próprio chamou de “novo-desenvolvimentismo”. Longe de refletir apenas a elocubração intelectual isolada de um homem das ciências sociais, o texto deve ser entendido como a expressão dos interesses dos grandes oligopólios do setor industrial brasileiro, através das palavras de um de seus destacados intérpretes.
O projeto do “novo-desenvolvimentismo” ataca a ortodoxia monetarista e também o que chama de “dogmatismo neoliberal”. Reivindica o legado de Keynes, do desenvolvimentismo clássico (impondo-lhe, no entanto, restrições) e exige a reconstrução de um Estado que intervenha na economia com base em um planejamento estratégico: criando incentivos setoriais e globais no contexto de uma política industrial e promovendo, de modo geral, o aumento da demanda agregada. Ao financiamento baseado na captação de recursos no exterior, opõe o fortalecimento da poupança interna como base do financiamento futuro da economia. Inclusive o nível ideológico é contemplado pelo projeto em questão, em relação ao qual Bresser Pereira ressalta a necessidade de promover o nacionalismo e o fervor patriótico em oposição ao cosmopolitismo globalizante do neoliberalismo “puro-sangue”.
É claramente possível identificar os traços marcantes deste projeto “novo-desenvolvimentista” no “governo-de-condomínio” montado por Lula com base na representação corporativa, ou setorial, no interior dos ministérios e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Diante das expectativas de ganho futuro e das presentes taxas de acumulação, o setor industrial do grande capital nacional (mas também estrangeiro) rompe com a letargia e se torna capaz de, ainda que incipientemente, botar na mesa um esboço de projeto econômico próprio.
É preciso, no entanto, esclarecer duas questões fundamentais. Em primeiro lugar, o projeto “novo-desenvolvimentista”, ainda que rompa com alguns aspectos da dogmática do neoliberalismo “puro-sangue”, não recua um milímetro da defesa de um projeto de Estado exclusivamente voltado aos interesses da acumulação capitalista, o que, para quem conhece o bê-á-bá da economia política séria (desconsiderando a “teologia” liberal do “Deus-Mercado”) e da história do desenvolvimentismo clássico no Brasil (considerando o “Plano de Metas” de JK e o “Milagre Econômico” dos generais) sabe que isto significa, inevitavelmente, concentração de renda, desqualificação da política social (entendida em sentido amplo), entre outros ataques contra os interesses e necessidades sociais da classe trabalhadora, é o retorno da idéia de “fazer crescer o bolo para depois dividí-lo”, nas palavras do ex-ministro da ditadura e atual conselheiro de Lula, Delfim Neto.
Outro elemento importantíssimo da atual conjuntura, é o fato de que os “novo-desenvolvimentistas” não estão sozinhos no governo Lula, mas coabitam-no com os representantes neoliberais “puro-sangue” do capital financeiro. Esta disputa, que começa a arrastar atrás de si os setores mais confusos e/ou oportunistas da esquerda brasileira, se manifesta basicamente entre a cúpula do IPEA, BNDES, o vice-presidente, entre outros (“novo-desenvolvimentistas”), de um lado, e, principalmente, a cúpula do Banco Central (neoliberais “puro-sangue”), do outro lado. Para todos aqueles que buscam se mater alinhados politicamente na defesa dos interesses da classe trabalhadora, da democracia, e da transformação socialista da sociedade, cabe perceber que envelheceu – ou mudou de mãos – o discurso da simples defesa do crescimento econômico em oposição à estagnação defendida pelos defensores da ortodoxia monetarista. Ou aprofundamos, claramente, o caráter de classe de nossa agenda política ou acabaremos seguindo a reboque do “novo-desenvolvimentismo” do setor industrial do grande capital do país.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Qual terceira via?



A passos largos vou me convencendo de que, infelizmente, o processo de insatisfação e inquietação que deu origem ao "Chega de Palhaçada" não está conseguindo ultrapassar os limites da política tradicional campista, centrada em nomes e personalidades. Não ganha fôlego a discussão de um programa e, por outro lado, esquenta o debate sobre se o candidato da “terceira via” deve ser fulano ou sicrano. O debate sobre o caráter desta “terceira via” também não se aprofunda e tudo leva a crer que se os setores mais bem intencionados (é isto mesmo) prevalecer, teremos uma terceira via a la Tony Blair com uma aliança entre PT e PSDB. Ou seja, vai se desfazendo francamente a possibilidade de uma terceira via de esquerda, única possibilidade, em minha opinião, de se oferecer de fato um programa modernizador, moralizador, democrático e progressista de gestão municipal. Ainda é possível reverter esta trajetória?


Independentemente da questão relativa ao caráter individual das pessoas envolvidas, o que não me proponho, de maneira alguma, a questionar, resta uma grande questão a ser respondida, e ela diz respeito ao caráter do programa da chapa desta “terceira via”. Se é possível ainda, para amplos setores da população, identificar no PT uma possibilidade de mudança progressista, entendo que o mesmo é impossível no que diz respeito ao partido de FHC, das privatizações e do neoliberalismo. Que espécie da base programática comum pode garantir a coesão de PT e PSDB para o pleito municipal? Certamente nenhuma que afirme uma orientação transformadora popular, progressista e democrática. Ao menos é isto o que o que se pode julgar a partir do que existe em comum entre o atual governo petista de Lula e o passado governo tucano de FHC no plano federal.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

A cara feia da desigualdade brasileira


O economista Márcio Pochman, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou os desanimadores resultados de uma pesquisa sobre a desigualdade econômico-social no Brasil. Os números desta pesquisa, além de alarmantes (e revoltantes) contrariam muito do que o governo Lula - e seus apologetas diretos ou indiretos - reivindica como mérito seu, justamente a redução da desigualdade entre os brasileiros.
A pesquisa em questão aponta que os 10% mais ricos do país concentram 75,4% da riqueza produzida pela sociedade. Ou seja, isto significa que os 90% restantes de brasileiros dividem menos de 25% desta riqueza. A pesquisa tem o mérito de orientar-se em um sentido distinto do que se vinha fazendo até agora a respeito do tema. O fato de se basear apenas na renda dos assalariados, desconsiderando os capitalistas, permitia ao governo afirmar que a desigualdade de renda no país estava caindo. Esta metodologia cínica permitia ao governo comemorar o lamentável processo de decomposição da renda da classe média, fator responsável (juntamente com os programas de transferência de renda) pela maior proximidade da renda entre os não-capitalistas.
A pesquisa do IPEA, ao levar em conta a renda dos capitalistas, aponta que não apenas a concentração de renda no Brasil é monumental, como também que ela se mantém relativamente inalterada, desde o século XVIII, de quando datam os últimos dados a respeito da questão.
Pochman atribui a desigualdade brasileira, fundamentalmente, à regressiva estrutura dos impostos cobrados nos país, que faz com que os trabalhadores pobres paguem até 44,5% mais impostos do que os ricos. Estes dados são importantíssimos para silenciar a “eterna choradeira” dos grandes empresários brasileiros que insistem em exigir, dia e noite, menos impostos, e, ao mesmo tempo, devem servir de base para a construção de uma campanha em defesa de uma verdadeira reforma tributária, que estabeleça, imediatamente, um sistema progressivo de impostos que realize o óbvio: cobrar mais de quem tem mais. Caso contrário, nada mudará na cara feia de nossa pavorosa desigualdade.
O “novo-desenvolvimentismo” do governo Lula, com sua orientação macro-econômica pró-capital, não traz para nossa história nada de muito novo. Não é novidade para o povo brasileiro conviver com períodos de expansão da atividade econômica que, ao mesmo tempo, promovem uma tremenda concentração de renda, foi assim com o Plano de Metas de JK e com o “Milagre Econômico” dos militares, justamente os exemplos históricos que o governo Lula reivindica como base de referência.
O recentemente anunciado Programa de Desenvolvimento Produtivo do governo federal, com sua colossal isenção de impostos para os grandes oligopólios do país, mais de 20 bilhões em dois anos, tendem, não a reverter o quadro da desigualdade, mas a aprofundá-lo, extraindo recursos dos trabalhadores, da classe média, e das empresas menores para injetá-los no desenvolvimento do grande capital. Podemos não entender isto como um problema, desde que adotemos a máxima de Delfim Neto: “crescer o bolo para depois dividi-lo”, mas não é possível que tenhamos descido tão baixo em nossas opiniões e convicções, ou será que descemos?

terça-feira, 13 de maio de 2008

O que há no Líbano?


Geralmente os conflitos que se desenvolvem no Oriente Médio chegam até nós, através dos organismos da mídia corporativa, como se fossem absolutamente irracionais pautados por ódios e preconceitos religiosos e étnicos. A atual situação de conflagração político-militar no Líbano não foge à regra. As grandes empresas de comunicação, como já é rotina, deixam de apresentar de maneira objetiva os fatos e fenômenos da realidade para poder enquadrá-los em sua agenda oculta de manipulação ideológica.
Diferentemente do que se tem noticiado, é importante destacar que o atual conflito no Líbano não é um “conflito étnico” ou um “conflito religioso” como se quer fazer crer, mas um conflito político pautado sobre questões políticas relacionadas a temas, tão racionais e “ocidentais”, como soberania nacional, política econômica e etc. De um lado está o governo de Fuad Siniora, cujas bases são partidos políticos muçulmanos sunitas e cristãos de direita, vinculados aos Estados Unidos e a Israel, de outro lado se encontra a oposição liderada pelo Hezbollah (“Partido de Deus”) – com base política entre as comunidades muçulmanas xiitas – e outros partidos cristãos nacionalistas. A oposição aproxima-se politicamente dos governos do Irã e da Síria e opõem-se frontalmente aos Estados Unidos e a Israel.
Para contribuir no esclarecimento do atual conflito libanês, reproduzo abaixo uma entrevista com um importante dirigente do Hezbollah que em meados do ano passado, na época em que passou pelo Brasil e concedeu esta entrevista aos jornalistas do Portal do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), era ministro demissionário do governo Fuad Siniora que, hoje, lança uma campanha política agressiva contra o Hezbollah.


• Trad Hamade, ministro do Trabalho do Líbano, demissionário do governo Fuad Siniora e membro do Hezbollah, visitou o Brasil. Aproveitamos sua presença no país para entrevistá-lo, dando aos leitores do Portal do PSTU a oportunidade de conhecer as posições dessa organização sobre a situação no Oriente Médio.


Portal do PSTU – Boa tarde. Gostaríamos de lhe desejar boas-vindas ao Brasil. O PSTU é um partido socialista com partidos irmãos na América Latina. Nós apoiamos a resistência dos povos árabes contra Israel e o imperialismo e gostaríamos de manter relações com o Hezbollah para atividades de solidariedade à Resistência e, também, para estabelecer contato com os sindicatos no Líbano. No Brasil temos uma atuação importante em sindicatos que buscamos envolver em atividades de solidariedade internacional.


Trad Hamade – O Hezbollah é um partido amigo de todos os povos ou movimentos sociais que lutam pela justiça e pela igualdade e apóia as lutas dos povos que sofrem agressões ou interferências em seus assuntos internos ou até mesmo invasões por outras nações estrangeiras. Essa é a posição do Hezbollah. Avalio muito bem a postura do Brasil politicamente, principalmente dos partidos que apóiam e defendem a causa árabe e apóiam a resistência do povo libanês contra a agressão dos inimigos do povo libanês e árabe.No Líbano, tem uma força sindical muito forte, tradicional, que defende o direito dos trabalhadores na luta para estabelecer a justiça. Atua em conjunto com outras organizações, inclusive de outros países, na luta pelos direitos dos trabalhadores e está aberta a esse tipo de diálogo com outros sindicatos, assim como com partidos como o PSTU.Infelizmente, o sindicato dos trabalhadores no Líbano está sofrendo interferência do atual governo e está lutando para adquirir sua independência e continuar a sua luta para conquistar os direitos dos trabalhadores e resistir aos ataques. São os sindicatos que tomam a frente na defesa dos direitos dos trabalhadores e para representá-los junto aos órgãos políticos. Os governos realmente democráticos não podem interferir na autonomia e independência dos sindicatos, porque eles sabem mais do que ninguém o que o trabalhador precisa. Por isso sabemos que os sindicatos no Líbano vão sair vitoriosos da atual interferência do governo atual e continuar sua luta para conquistar o direito dos trabalhadores.


Os governos dos EUA e de Israel querem o desarmamento do Hezbollah para cumprir uma resolução da ONU. Como o Hezbollah vê o papel da ONU no Líbano e no Oriente Médio?


Trade Hamade – A guerra do ano passado, de julho de 2006 foi a guerra mais sangrenta que já houve no Oriente Médio onde foi clara a derrota do exército agressor, do Estado de Israel apoiada pelo exército americano. Saíram derrotados do Líbano, não atingindo o seu objetivo de querer desarmar um povo que decidiu lutar pela sua terra e manter a soberania de seu país. A resolução da ONU diz respeito ao desarmamento das milícias e o Hezbollah não é uma milícia. É uma resistência popular, legal, que defende a independência de seu país. Não exerceu nenhum papel de terrorismo, de agressão em nenhuma parte do mundo, muito menos do Líbano. Sua existência se dá pelo direito de resistência e defesa de um povo.Ninguém pode interferir na autodeterminação de um povo. O direito de defesa é um direito que consta, inclusive, nas resoluções da ONU para todo o mundo. As forças do exército de Israel ocuparam nosso país durante 28 anos e só promoveram guerras desde sua origem até hoje. Nada mais certo que nosso povo tenha o direito de se organizar e pensar nas estratégias corretas de defesa, conforme achar necessário. E é isso que está sendo feito pelo povo do Líbano e pela resistência libanesa.Não podemos ser considerados milícia. Somos uma resistência popular cujo único objetivo é manter sua independência e manter a soberania do país. São os Estados Unidos que ignoram os direitos humanos em todo o mundo. E o Estado de Israel, que surgiu expulsando o povo palestino de seu território, de tempos em tempos promove guerras contra nossos países em geral. É por isso que pedimos o apoio mundial de todos no mundo contra os nossos inimigos, o governo americano e o Estado de Israel.Certamente, sabemos que seria necessário um órgão internacional para garantir e proporcionar a paz em todos os povos do mundo, mas, infelizmente, a ONU nas mãos do governo americano, é utilizada como instrumento para que ele atinja todos os seus objetivos em nossa região e no mundo todo. O representante do governo americano na ONU, John Bolton, fez uma infeliz declaração quando disse que os Estados Unidos ficarão felizes quando essa organização sumir do mapa. Com isso, eles poderão mandar e desmandar de acordo com tudo o que lhes interessa.Depois do fim da guerra fria, os Estados Unidos se tornaram a única força mundial dominante no mundo todo. Para eles não interessa a existência da ONU a não ser para executar suas ordens e seus objetivos. E como somos parte daqueles que lutam pela paz e pela justiça, estamos lutando para a independência da ONU frente à soberania norte-americana, para salvar a organização e ajudar outros povos a se salvarem das garras dos Estados Unidos.Nós do Líbano, um país com uma pequena população, atuamos com a ONU e apoiamos suas resoluções que beneficiam os países do mundo árabe. No entanto, o único país que, em nenhuma situação aceitou ou colocou em prática as resoluções da ONU foi o Estado de Israel. Nós o consideramos um estado agressor que não se satisfaz com o que tem e promove a miséria em todo o mundo árabe. Dezenas e dezenas de resoluções contrárias a Israel nunca foram conferidas ou cobradas desse Estado. Por um lado, nós defendemos a existência da ONU, por outro, temos esse caso do Estado de Israel que, tendo apoio americano, desrespeita todas as resoluções da ONU ou só cumpre aquilo que lhe convém.


O Hezbollah defende o reconhecimento do Estado de Israel? E a formação do Estado Palestino nos territórios ocupados em Gaza e Cisjordânia? Como o Hezbollah vê os conflitos entre o Fatah e o Hamas?


Trade Hamade – O Hezbollah não reconhece o Estado de Israel por ser um estado agressor, que entrou à força, invadiu a terra e matou o povo e expulsou quem podia expulsar. E como invadiu à força, nós defendemos o direito do povo palestino de tomar de volta a sua terra e retornar ao seu país. Nós apoiamos o governo palestino e todos os partidos e facções que atuam no seu interior e pedimos que eles entrem num acordo para chegar ao seu objetivo final que é o retorno dos palestinos espalhados no mundo para aquela região. É uma situação desagradável para nós vermos os conflitos entre os partidos palestinos. Achamos que é uma necessidade extrema a união do povo palestino. Quem acaba perdendo com essa divisão é o povo palestino que vive em desgraça há várias décadas. Os únicos que, de fato, se beneficiam com esses conflitos é o Estado agressor de Israel.


Sobre essa questão da formação do Estado Palestino, vocês defendem em todo território histórico ou nos territórios ocupados?


Trade Hamade – Em minha opinião, creio que teria de ser formado um Estado Palestino, onde tanto judeus quanto palestinos poderiam viver democraticamente em seu interior. Mas os Estados Unidos e o Estado de Israel sequer reconheceram aquelas partes do país para formarem o Estado Palestino. Há décadas, acontecem encontros, negociações entre as duas partes, patrocinadas pelos países da Europa e pelos Estados Unidos para formar dois estados, o Estado de Israel e o Estado Palestino. Esses acordos sempre foram respeitados pelo povo árabe e pelo povo palestino e jamais foram respeitados ou cumpridos pelos Estados Unidos e por Israel, que sempre fizeram o contrário das resoluções da ONU e atacaram os palestinos.É como convidar alguém para sentar numa mesa com um enorme banquete e não deixar a pessoa tomar sequer um copo de leite dessa mesa. O povo palestino até hoje não conseguiu sequer o reconhecimento de seu Estado nos territórios ocupados. Os palestinos têm o direito de ver reconhecido o seu Estado. Na verdade, há uma enganação fortíssima dos Estados Unidos e de Israel que dizem que querem a paz, que querem manter a paz na região, mas isso não passa de palavras. O povo palestino aceitou o mini-estado formado pela Cisjordânia e Gaza e sequer esse mínimo foi respeitado, sempre continuaram sendo atacados pelo governo americano e pelo Estado de Israel. O que acontece realmente é que o povo palestino está sofrendo diariamente massacres e massacres para os obrigarem a aceitar a paz que Israel e o governo americano querem. São crianças, mulheres e homens mortos para que seja implementado o plano de domínio americano e israelense. Tudo o que os palestinos querem é o seu direito de viver. A causa palestina é uma causa justa que defende o direito de um povo existir e ela é fortificada com a luta [armada] de seu povo e com o apoio de países amigos como o Brasil e outros países que apóiam o direito palestino de ter um país. Por isso, acreditamos que eles vencerão no fim e terão seu território.


Como o Hezbollah vê a situação no Iraque? O Hezbollah apóia a resistência iraquiana?


Trade Hamade – O Hezbollah tem sua preocupação central no Líbano, que é o país onde ele existe, mas ele apóia a autodeterminação do povo iraquiano e sua luta contra a invasão norte-americana para que o povo tenha o direito de viver independente e possa constituir um governo no qual veja representado democraticamente todas as forças políticas e religiosas do próprio povo. O Hezbollah apóia todos os povos que buscam justiça. A única saída que vemos para o Iraque é a retirada das tropas americanas e deixar que o povo iraquiano eleja seus governantes e garantam a vida digna para aquele país. Os americanos estão preocupados com sua situação no Iraque, mas a única saída possível é eles saírem de lá e deixarem os iraquianos decidirem sobre si. Essa é a única situação viável. Fora isso, o Iraque continurá sendo um campo de batalha.


Qual a proposta do Hezbollah para a crise política do Líbano hoje?


Trade Hamade – O Hezbollah faz parte de uma força de oposição na qual estão presentes vários partidos políticos no Líbano. Essa força política apresentou um projeto de lei para o governo com três pontos essenciais para sair da crise: o primeiro é a formação de um governo que defenda a soberania do país; o segundo é a formação de um governo onde sejam representadas todas as forças políticas; e o terceiro é que, é necessário garantir as reformas de tudo aquilo que foi destruído no ano passado. Esses pontos são o ponto de partida para uma reforma política no interior do país, que garanta uma política nova. Também foi pedida uma nova eleição do poder legislativo. Esse ano termina o mandato do presidente da república. Está sendo procurado um candidato que consiga expressar todas as forças políticas presentes no país, através de um acordo entre todas as forças políticas.


E sobre a conferência Paris III, a conferência de “doadores” que prevê que sejam feitas “doações”, mas também um plano de privatização das empresas do Líbano?


Trade Hamade – A economia do Líbano está enfrentando uma situação muito difícil. O governo, infelizmente, está gastando mais do que pode arrecadar. Isso acarretou em um aumento da dívida externa e interna. A economia do país está necessitando de uma reforma política onde haja arrecadação e projetos concretos bem executados para o país.Durante uma conferência no parlamento libanês sobre as resoluções do encontro em Paris, havia duas correntes políticas que estavam discutindo as resoluções. Uma corrente representada por mim e outra corrente era a equipe econômica do governo, que seguia a cartilha do Banco Mundial sem levar em consideração a realidade do país e os processos que passamos com todas as reformas. Com isso, o mais provável é que fossem acumuladas mais dívidas. No novo plano, a equipe econômica do governo propunha que se deixasse de lado o setor agrícola e industrial para se concentrar no setor de serviços. A nossa posição era que fossem revitalizados os setores agrícola e industrial e também o setor de serviços. Na reforma tributária, a única solução por eles apontada era pôr mais impostos e diminuir os direitos dos trabalhadores. Estamos reivindicando a reforma política e administrativa principalmente para garantir a união e o fortalecimento dos três setores no país. A equipe econômica do governo queria privatizar tudo e agora. Para nós, deveria privatizar os setores públicos que não funcionassem e mais para frente ver se seria necessário privatizar o resto. Infelizmente, estamos com as mãos atadas já que as resoluções do Banco Mundial são “palavras divinas” que não podem ser discutidas ou contrariadas. Ao invés de saldarmos dívidas, estamos aumentando. Não podemos aceitar. É como dizer que eu posso trazer dinheiro e gastar a vontade e deixo que meus filhos e netos se virem mais tarde. Estão oferecendo empréstimos a longo prazo que parecem resolver os problemas, mas só empurram pra mais tarde. Esse é o capitalismo e o liberalismo que querem para o nosso povo.


O que acontecerá com o futuro da resistência caso ocorra acordos na região, como por exemplo, entre a Síria e os EUA ou o Irã?


Trade Hamade – A resistência libanesa é um assunto interno do país e faz parte da defesa do país contra as agressões constantes dos países agressores e independem dos acordos feitos na região. É um direito conquistado de um povo, nada além.


Entrevista concedida a Carol Rodrigues e Fabio Bosco

sábado, 10 de maio de 2008

1968: o ano que não acabou.


Aproveito a ocasião para divulgar um evento a ser realizado nesta semana na cidade do Rio de Janeiro para rememorar e celebrar as lutas que sacudiram o mundo em 1968. Professores, pesquisadores, dirigentes partidários da esquerda socialista e demais intelectuais envolvidos com o tema promovem o evento “Nós que amamos tanto a Revolução”. Uma ótima oportunidade para trazer de volta ao debate público o exemplo e as lições que devemos aprender com o ano que não acabou.


De 12 a 15 de maio, no Rio de Janeiro, haverá o seminário "Nós que amamos tanto a revolução", para relembrar e discutir a efervescência política e cultural de maio de 1968 em todo o mundo.

1968 - 40 anos


12 de maio - "1968 no mundo"


Palácio Gustavo Capanema


Rua da Imprensa, 16 - Centro


Debate às 10 horas:


Edgar Sanchéz - Lider estudantil no México em 68 - PRT (México)

Valério Arcary - Professor do CEFET/SP

Carlos Nelson Coutinho - Professor da UFRJ


Mediadores:Chico Alencar - Professor e deputado federal - PSOL/RJ

Adriana Facina - Professora da UFF e do OiCult


Oficina às 14 horas:Exibição e debate de filmes sobre 1968

Sala 106 - IFCS/ UFRJ

Largo de São Francisco - Centro


Atividade Cultural às 18h:

Samba, choro e cinema

Beco do RatoRua Morais e Vale, 11 - Lapa


13 de maio - "Movimento estudantil e educação: a atualidade de 1968"

CFCH - Praia Vermelha/UFRJ


Debate às 10 horas com:


Roberto Leher - Professor da UFRJ - LPP

Patrícia Mafra - Professora da rede estadual-RJ

Elinor Brito - Presidente FUEC em 1968


Mediadores:

Cyro Garcia - Presidente do PSTU/RJ


DCE da UFRJ


Oficina às 14h


Oficina com o Grupo Tortura Nunca Mais


Auditório do CFCH/Praia Vermelha/UFRJ


Atividade Cultural às 18h

Apresentação teatral

Teatro de Arena da UFRJ


14 de maio - "1968 sob a ótica da luta de classes"


Bloco O - Gragoatá - UFF


Debate às 10 horas com:

Mário Maestri - Professor da UFPF/RS

Milton Temer - Presidente da Fundação Lauro Campos

Marcelo Badaró - Professor da UFF


Mediadores:Marcelo Freixo - Professor e deputado estadual PSOL/RJ


MST


Oficina às 14h


Os Comunistas na década de 60:


Ivan Pinheiro - Presidente do PCB/RJ

Claudio Gurgel - Professor da UFF


Atividade Cultural às 18h

Cineclube OiCultFilme - Os Sonhadores


Debate com:Maurício Vieira - Professor da UFF


15 de maio - "Lutas anti-imperialistas e movimentos sociais"

Sala Celso Lemos - IFCS/UFRJ


Debate às 10 horas com:


Carlos Walter - Professor da UFF

Virgínia Fontes - Professora da UFF

Marildo Menegatti - Professor da UFRJ

D. Waldyr Calheiros - Bispo emérito de Volta Redonda


Mediadores:

Eliomar Coelho - Vereador PSOL/Rio de Janeiro -RJ

Demian Melo - Grupo de estudo GETTHI-Marx


ATO PÚBLICO ÀS 15 HORAS

Atividade Cultural


Confraternização de Encerramento

Ocupação Manoel Congo

Rua Evaristo da Veiga, 17 - Térreo

Uma pequena, mas efetiva, vitória.

Esta semana se encerra com uma pequena, mas efetiva, vitória para todos aqueles que defendem um avanço na educação brasileira. Foi aprovado, por unanimidade, no Senado Federal, como resultado de uma organizada e eficiente campanha de mobilização e pressão dos sindicatos de sociólogos e profissionais da educação, o Projeto de Lei que altera a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e inclui, como disciplinas obrigatórias no Ensino Médio, a Sociologia e a Filosofia.
Desde o ano passado já havia uma resolução do Conselho Nacional de Educação que estabelecia a obrigatoriedade das duas disciplinas no currículo do ensino médio das escolas públicas e privadas do país, no entanto, apenas 17 estados efetivamente cumpriram a resolução. Os estados “rebeldes”, liderados por São Paulo e seu governo tucano, valeram-se de cínicos e mesquinhos pseudo-argumentos financeiros e orçamentários para recusar-se a aplicar a norma estabelecida pela mais alta instituição educacional do país. Não é demais lembrar que em 2001 o então presidente, tucano, e sociólogo, Fernando Henrique Cardoso já havia vetado, com os mesmos pseudo-argumentos, um Projeto de Lei similar.
A recente aprovação do Projeto de Lei, que só aguarda a sanção presidencial, constitui um real avanço no que diz respeito à educação de nossa juventude. Estas duas disciplinas, que foram banidas do currículo básico da educação brasileira pela ditadura militar, têm o papel de levar aos estudantes brasileiros o desenvolvimento de uma consciência crítica, científica e racional sobre a dinâmica da vida social e, inclusive, sobre a construção da personalidade. Acredito, como sociólogo e educador, que a introdução das disciplinas de Sociologia e Filosofia é um importantíssimo fator que pode contribuir de maneira decisiva para o combate à alienação que, por todos os lados, se impõe à juventude brasileira de nossos dias. É possível dizer ainda mais, valendo-me dos conceitos dos teóricos críticos da Escola de Frankfurt, abre-se um espaço real para que nossas escolas deixem de ter o papel de ser um espaço de reprodução da mera Razão Prática e passem a, ainda que incipientemente, proporcionar o desenvolvimento da Razão Crítica. Isto, no entanto, depende de uma série de outros elementos como a qualidade e o caráter da formação dos professores, sua disposição para a organização sindical, e etc. Porém, o momento é de comemorar este avanço.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

60 Anos de Israel


Neste período em que se iniciam as atividades em referência aos 60 anos de fundação do Estado de Israel, deixo minha homenagem ao brioso, heróico e destemido povo palestino que resiste, apesar de toda a desproporcional violência, em defesa de seus direitos legítimos. Segue abaixo uma poesia escrita na prisão por um importante poeta e combatente palestino.


Não iremos embora


Tawfic Zayyad*


Aqui Sobre vossos peitos

Persistimos

Como uma muralha

Em vossas goelas

Como cacos de vidro

Imperturbáveis

E em vossos olhos

Como uma tempestade de fogo

Aqui

Sobre vossos peitos

Persistimos

Como uma muralha

Em lavar os pratos em vossas casas

Em encher os copos dos senhores

Em esfregar os ladrilhos das cozinhas pretas

Para arrancar

A comida de nossos filhos

De vossas presas azuis

Aqui sobre vossos peitos

Persistimos

Como uma muralha

Famintos

Nus

Provocadores

Declamando poemas S

omos os guardiões da sombra

Das laranjeiras e das oliveiras

Semeamos as idéias como o fermento na massa

Nossos nervos são de gelo

Mas nossos corações vomitam fogo

Quando tivermos sede

Espremeremos as pedras

E comeremos terra

Quando estivermos famintos

Mas não iremos embora

E não seremos avarentos com nosso sangue

Aqui

Temos um passado

E um presente

Aqui

Está nosso futuro


*Tawfic Zayyad, palestino de Nazaré, é considerado um pioneiro da poesia de resistência. A maior parte de sua obra foi escrita na prisão.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Aos amigos tudo...


Esta frase, de autoria de um antigo oligarca mineiro, reflete muito bem o espírito da facção política que se apropriou do poder público municipal em Campos. Mesmo após todas as revelações realizadas pelas últimas investigações, nas quais uma série de personalidades ligadas ao establishment municipal apareceu locupletando-se com recursos públicos, os porta-vozes televisivos do atual governo exigiram, no dia seguinte ao retorno do prefeito afastado, a punição exemplar (inclusive com a utilização da Lei de Segurança Nacional) dos populares envolvidos nas manifestações contra a decisão do STJ.
O mais recente capítulo da história de abusos e ilegalidades relacionadas à atual gestão municipal é a irregularíssima alteração tardia do edital do concurso público para a Secretaria Municipal de Educação. Quase dez por cento da população se inscreveu para concorrer às vagas oferecidas para o serviço público no município que, segundo os registros do Ministério do Trabalho, tem a pior situação relativa à geração de empregos no Estado do Rio de Janeiro. Não é possível que mais esta afronta à cidadania seja aceita passivamente pela população. Chega de abusos e de palhaçada. O povo exige respeito. Como já dizia o filósofo John Locke, ainda no século XVII, quando os representantes violam os direitos fundamentais do povo, é obrigação deste povo rebelar-se contra eles. Sábias e necessárias palavras.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Josef Fritzl e o Super-Homem de Nietzsche


O horror causado pela revelação do pai austríaco que estuprou e manteve sob cárcere privado a própria filha por 24 anos, abre uma tremenda possibilidade para avançar no debate filosófico-ético contemporâneo.
Nestes tempos que, não por coincidência, são o auge do neoliberalismo (no plano político-econômico) e do pós-modernismo irracionalista (no plano filosófico), apresenta-se como um dos mais badalados pensadores o filósofo germânico oitocentista Friederich Nietzsche. É possível identificar nas idéias de Nietzsche uma das mais importantes fontes da filosofia que, em nossos dias, se apresenta sob a forma do pós-modernismo.
Nietzsche foi, não apenas, mas principalmente, um filósofo da moral. Sua obra, escrita, de acordo com suas próprias palavras, do ponto de vista de um “soldado prussiano”, ataca frontalmente a moral judaico-cristã dominante no mundo ocidental. Podemos dizer, mais ainda, que sua obra é um ataque à moralidade que busca impor limites éticos aos desejos, paixões e pulsões do indivíduo. Para Nietzsche, o indivíduo livre, o Super-Homem, é aquele que consegue governar sua conduta virando às costas para a moralidade que busca aprisiona-lo. Não por acaso, Nietzsche é citado como uma fonte inspiradora por todo o alto comando nazista, de Hitler a Rosenberg, afinal de contas, quem mais que o oficial nazista da SS pode representar o ideal do amoral Super-Homem de Nietzsche?
Por razões que somente a luta de classes, em seu nível ideológico, pode explicar, Nietzsche chega à segunda metade do século XX e até hoje, como expoente de uma suposta defesa da liberdade individual, como um escritor supostamente “progressista”, incensado, inclusive, por parte da esquerda política e intelectual. Obviamente que o espírito do individualismo negativo e narcísico de Nietzsche casa muito bem com a lógica privatista da desregulamentação selvagem do neoliberalismo contemporâneo e, como conseqüência, não causa surpresa nenhuma que a obra filosófico-moral de Nietzsche esteja em alta no mundo acadêmico. O caso do austríaco bestial, e sua amoral selvageria pode muito bem lembrar a todos nós os riscos de exaltar uma sociedade fundada em Super-Homens nietzscheanos. Recomendo a todos a crítica demolidora a que o filósofo húngaro Györg Lukács submete a obra de Nietzsche em seu livro “O assalto à razão”.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Uma verdadeira alternativa


O ato “Chega de Palhaçada” revelou o cansaço e a indignação de um setor da sociedade campista que ainda não havia encontrado espaço para colocar, pública e explícitamente, suas exigências. Não se trata aqui de menosprezar, de forma alguma, os importantes protestos que vêm sendo realizados em diferentes bairros e distritos da periferia da cidade, sem contar as manifestações de algumas categorias profissionais, mas, por sua proposta de contribuir na construção de uma alternativa política que supere a nefasta bipolaridade estabelecida entre as facções que disputam o controle do orçamento municipal, o “Chega de Palhaçada” pode ser considerado o ato que trouxe um questionamento mais avançado.
É importante, neste momento de reflexão e amadurecimento da crítica, colocar de maneira clara a necessidade de uma verdadeira alternativa política a tudo aquilo que se consolidou na gestão pública da cidade. Mais importante do que eleger nomes ou partidos, ainda que isto seja importante, o momento exige a elaboração de uma pauta programática sobre a qual se construa uma alternativa de verdade. A crise pela qual atravessa a cidade de Campos dos Goytacazes é uma crise muito profunda que não se resolve apenas na superficialidade do âmbito administrativo, em Campos vivemos uma profunda crise econômico-social-política que precisa ser corajosamente enfrentada.
O que dá suporte à putrefata estrutura política que se estabeleceu nesta cidade é, fundamentalmente, a extrema miséria de amplos setores da população, a inadmissível desigualdade social e a asfixiante estagnação econômica. Para combater estes males que, desta forma, são a base do clientelismo corrupto, é necessário um programa que, entre outras coisas, estimule a atividade econômica (principalmente através da incorporação dos pequenos produtores e empreendedores, autônomos, informais e desepregados em iniciativas cooperativas e coletivas amparadas pelo poder público), valorize o serviço público (por meio de uma política de concursos públicos que elimine a nefasta prática do clientelista cabide de empregos e da terceirização), priorize a expansão qualificada das políticas sociais (saúde, educação, moradia, etc) e democratize a gestão pública (através da promoção de plebiscitos, referendos, e a constituição de conselhos populares e de servidores públicos de carreira que estabeleçam a participação popular na gestão e controle dos recursos públicos).
É o momento de lançar e aprofundar o debate sobre uma verdadeira alternativa para a cidade, de modo a não ficarmos eternamente andando em círculos, fugido do ruim para cair no mau. Para os apologetas do pragmatismo absoluto e da realpolitik que venham a afirmar que tais propostas são inviáveis ou inexequíveis é importante perguntar: ao que se pretende ser alternativa? Aguardamos a resposta.

Os 190 anos de Karl Marx


No dia de hoje comemoram-se os 190 anos de nascimento de um homem que iria se torna, sem a menor dúvida, uma das maiores personalidades históricas do mundo: no dia 5 de maio de 1818, na cidade alemã de Treves, nasceu Karl Marx.
Em pleno auge da escalada ideológica do irracionalismo pós-modernista e da dogmática triunfalista neoliberal (agora, com uma roupagem incipientemente neo-desenvolvimentista), certamente, toda a importância do legado de Karl Marx não pode senão ser amplamente menosprezado, principalmente por aqueles que detém o monopólio dos meios de produção e difusão das idéias e valores socialmente hegemônicos.
Dizer de Karl Marx que ele é o homem que soube interpretar a lógica contraditória do sistema econômico capitalista e que fundou o socialismo científico é muito pouco perto da gigantesca contribuição dada por Marx no que se refere a ciência social e ao desenvolvimento de uma concepção efetivamente racional e científica da realidade. Esta contribuição, no entanto, somente poderá ser avaliada massivamente em toda sua profundidade em um contexto social no qual os interesses da classe capitalista não mais determine o sentido das “verdades” produzidas nos ambientes acadêmicos e difundidas pela grande mídia.
De qualquer forma, deixo aqui minha modesta homenagem a um dos mais importantes gênios que a humanidade produziu e recomendo a todos uma aproximação (reaproximação, para alguns), sem preconceitos e pré-noções vulgares, de suas obras e idéias. Diferentemente do que os representantes intelectuais, conscientes ou não, dos interesses do capital vivem a apregoar, Marx nunca esteve tão vivo. Seus conceitos e referenciais de análise nunca foram tão eficientes para dar conta de explicar os fenômenos da sociedade (e até mesmo da natureza), e sua defesa de uma nova ordem socialista que possa superar as inevitáveis contradições do capitalismo nunca foi tão necessária como hoje.

Em cena: o lumpen-empresariado

Neste momento em que alguns setores mais ativos e inconformados da sociedade campista olham para o quadro político-administrativo da cidade e não encontram senão razões para lutar por mudanças profundas, devemos nós, pois me incluo entre estes ativos e inconformados, analisar racionalmente a situação para não desperdiçarmos nossos esforços em falsas alternativas ou mudanças meramente superficiais.
O problema da corrupção em larga escala na cidade de Campos é multicausal, entram aí a exrema miséria material de amplas franjas da população, a estagnação econômica da cidade que faz do poder público a principal fonte de ativos econômicos, e etc. Gostaria, no entanto, de chamar a atenção para a necessidade de identificar um elemento muitas vezes negligenciado: a base social das facções políticas que disputam oligopolosticamente o orçamento municipal.
Se, por um lado, não restam dúvidas da capacidade de mobilização de setores populares pelas duas facções que disputam o poder municipal, por outro lado, o que as investigações recentes revelam é algo bem mais sério e menos óbvio. Há todo um setor do empresariado campista, do qual não sabe exatamente a dimensão, mas que não é uma ínfima minoria, que, atuando na educação, na saúde, na comunicação, na construção civil e etc, incorporou como modus operandi de sua atividade o parasitismo corrupto e clientelístico sobre os cofres públicos. É este setor, que eu venho chamando de lumpen-empresariado, que forma a mais poderosa base de sustentação do atual arranjo político da cidade, qualquer alternativa política, para ser séria, vai ter que, inevitavelmente, romper com estes setores e contruir uma base de sustentação política em outros setores da sociedade: as maiorias populares confinadas nas periferias e nos distritos rurais, a classe média que luta para não desaparecer, a juventude que abandona a cidade aos montes, e etc. É por uma mudança real que devemos lutar!

sábado, 3 de maio de 2008

Exportando democracia?



Possivelmente, a maioria dos cidadãos brasileiros acredita que as tropas de nossas Forças Armadas que se encontram no Haiti, estão realizando algum tipo de missão filantrópica naquele país ou auxiliando-os - bem ao gosto da ideologia do presidente George W. Bush – a construir sua democracia. A verdade, no entanto, é bem diferente. Os cerca de 1200 soldados enviados ao Haiti pelo presidente Lula cumprem, naquele país, uma missão que, a cada dia que passa, revela mais o seu caráter criminoso.
Desde que chegaram ao Haiti, em 2004, as tropas de Lula vêm sustentando militarmente a política de recolonização do país imposta pelos EUA que transforma o pequeno país caribenho em uma região ilimitadamente aberta às mercadorias e aos investimentos das grandes transnacionais. O governo títere, lá instalado, assina tratados nos quais se compromete a abrir mão de qualquer controle soberano sobre a economia. A privatização dos serviços públicos avança a passos largos e as condições de vida do povo haitiano são cada vez mais drásticas.
Recentemente ocorreu uma explosão de manifestações populares espontâneas contra o violento aumento dos preços dos alimentos que vêm condenando a população do país à fome generalizada. Diante das manifestações dos famintos haitianos, as tropas de Lula lideraram a brutal repressão que ceifou a vida de vários cidadãos daquele país. O episódio mais recente desta seqüência de abusos cometidos contra o brioso povo haitiano foi a proibição das manifestações operárias e populares no primeiro de maio, imposta pelo governo-fantoche e garantida pelas tropas de Lula. É vergonhoso que um governo liderado por um ex-sindicalista que dirigiu inúmeras manifestações em defesa da liberdade de organização e expressão, aja, em um país estrangeiro e soberano, como força repressora anti-popular e pró-colonialista. É cada vez mais imperioso exigir a retirada das tropas brasileiras do Haiti, em apoio à reivindicação das próprias massas populares haitianas.
A organização sindical popular haitiana Batay Ouvriye (Batalha Operária), que vem liderando boa parte das lutas contra a alta do custo de vida e contra a ocupação militar estrangeira, divulgou anteontem, a seguinte nota à imprensa sobre a proibição dos protestos do primeiro de maio que divulgo abaixo.

Na presente nota, a Batay Ouvriye quer anunciar e outra vez denunciar, a toda imprensa, o fato de que estão nos negando novamente o direito de nos manifestarmos em pleno primeiro de maio! Efetivamente, em Cabo-Haitiano, mas também em Porto-Príncipe, a policia nos proibiu de sair às ruas, sob o pretexto de que existem muitas mobilizações, fazendo referência às expressões burguesas e governamentais como festas e outras exposições alienantes. Contudo, sabemos que o direito de manifestação é constitucional e, sobretudo, que o primeiro de maio é puramente comemoração da mobilização da classe operária. Por isso, de toda forma, estaremos nas ruas! Não só para seguir denunciando o alto custo de vida, o salário baixo, o desemprego e a corrupção que os acompanham, mas também as medidas paliativas com as quais pensam em sair desta crise, como proibir de fato nossas mobilizações.

Quem chora pelo Tibete?


A proximidade dos jogos olímpicos de Pequim trouxe para o primeiro plano dos noticiários internacionais as ondas de manifestações contrárias ao governo chinês e em defesa da independência tibetana. Apesar de ser extremamente condenável a opressão da burocracia chinesa sobre os tibetanos, a maneira como a situação tibetana é transmitida pela mídia corporativa dos países capitalistas centrais esconde, talvez, muito mais do que revela sobre a realidade.

Segue abaixo um texto do filósofo esloveno Slavoj Zizek sobre as relações entre China e Tibete que questiona muito do senso comum midiático sobre a questão, apesar de não ser um texto muito recente (já foi divulgado há algumas semanas), acho que vale muito a leitura.



O Tibete não é tudo isso

E se aqueles que se preocupam com a falta de democracia na China estiverem na realidade preocupados com o desenvolvimento acelerado do país?

As notícias publicadas em toda a mídia nos impõem uma imagem determinada que é mais ou menos como segue. A República Popular da China, que, nos idos de 1949, ocupou ilegalmente o Tibete, durante décadas promoveu a destruição brutal e sistemática não apenas da religião tibetana, mas também da própria identidade dos tibetanos como povo livre. Os protestos recentes do povo tibetano contra a ocupação chinesa foram novamente sufocados com força policial e militar bruta. Como a China está organizando os Jogos Olímpicos de 2008, é dever de todos nós que amamos a democracia e a liberdade pressionarmos a China para devolver aos tibetanos aquilo que ela lhes roubou; não se pode permitir que um país que possui um histórico tão deficiente em matéria de direitos humanos passe uma mão de cal sobre sua imagem com a ajuda do nobre espetáculo olímpico. O que farão nossos governos? Vão ceder ao pragmatismo econômico, como de costume, ou encontrarão a força necessária para colocar nossos mais elevados valores éticos e políticos acima dos interesses econômicos de curto prazo? Embora a atividade chinesa no Tibete sem dúvida tenha incluído muitos atos de destruição e terror assassino, existem muitos aspectos dela que destoam dessa imagem simplista de "mocinhos versus vilões". Enumero, a seguir, nove pontos a serem mantidos em mente por qualquer pessoa que faça um julgamento sobre os fatos recentes no Tibete.


Poder protetor


1) Não é fato que até 1949 o Tibete era um país independente, que então foi repentinamente ocupado pela China. A história das relações entre eles é longa e complexa, e em muitos momentos a China exerceu o papel de poder protetor. O próprio termo "dalai-lama" é testemunho dessa interação: reúne o "dalai" (oceano) mongol e o "bla-ma" tibetano.

2) Antes de 1949, o Tibete não era nenhum Xangri-Lá, mas um país dotado de feudalismo extremamente rígido, miséria (a expectativa média de vida pouco passava dos 30 anos), corrupção endêmica e guerras civis (sendo que a última, entre duas facções monásticas, ocorreu em 1948, quando o Exército Vermelho já batia às portas do país). Por temer a insatisfação social e a desintegração, a elite governante proibia o desenvolvimento de qualquer tipo de indústria, de modo que cada pedaço de metal usado tinha que ser importado da Índia. Mas isso não impedia a elite de enviar seus filhos para estudar em escolas britânicas na Índia e transferir seus ativos financeiros a bancos britânicos, também na Índia.

3) A Revolução Cultural que devastou os mosteiros tibetanos na década de 1960 não foi simplesmente "importada" dos chineses: na época da Revolução Cultural, menos de cem guardas vermelhos foram ao Tibete, de modo que as turbas de jovens que queimaram mosteiros foram compostas quase exclusivamente de tibetanos.

4) No início dos anos 1950, começou um longo, sistemático e substancial envolvimento da CIA na incitação de distúrbios anti-China no Tibete, de modo que o receio chinês de tentativas externas de desestabilizar o Tibete não era, de modo algum, "irracional". 5) Como demonstram as imagens veiculadas pela TV, o que está acontecendo agora nas regiões tibetanas já não é mais um protesto "espiritual" pacífico de monges (como o que aconteceu em Mianmar um ano atrás), mas (também) bandos de pessoas matando imigrantes chineses comuns e incendiando suas lojas. Logo, devemos avaliar os protestos tibetanos segundo os mesmos critérios com os quais julgamos outras manifestações violentas: se tibetanos podem atacar imigrantes chineses em seu próprio país, por que os palestinos não podem fazer o mesmo com colonos israelenses na Cisjordânia?

6) É fato que a China fez grandes investimentos no desenvolvimento econômico do Tibete e em sua infra-estrutura, educação, saúde etc. Para explicar em termos simples: apesar de toda a opressão inegável, nunca, em toda sua história, os tibetanos medianos desfrutaram de um padrão de vida comparável ao que têm hoje.

7) Nos últimos anos, a China vem mudando sua estratégia no Tibete: a religião despida de política hoje é tolerada e mesmo apoiada. Mais do que na pura e simples coação militar. Em suma, o que escondem as imagens veiculadas pela mídia de soldados e policiais chineses brutais espalhando o terror entre monges budistas é a muito mais eficaz transformação socioeconômica em estilo americano: dentro de uma ou duas décadas, os tibetanos estarão reduzidos à situação dos indígenas americanos nos EUA. Parece que os comunistas chineses finalmente entenderam a lição: de que vale o poder opressor de polícias secretas, campos e guardas vermelhos destruindo monumentos antigos, comparado ao poder do capitalismo sem freios, quando se trata de enfraquecer todas as relações sociais tradicionais?


Ideologia "new age"


8) Uma das principais razões por que tantas pessoas no Ocidente tomam parte nos protestos contra a China é de natureza ideológica: o budismo tibetano, habilmente propagado pelo dalai-lama, é um dos pontos de referência da espiritualidade hedonista "new age", que está rapidamente se convertendo na forma predominante de ideologia nos dias atuais. Nosso fascínio pelo Tibete o converte numa entidade mítica sobre a qual projetamos nossos sonhos. Assim, quando as pessoas lamentam a perda do autêntico modo de vida tibetano, não estão, na verdade, preocupadas com os tibetanos reais. O que querem dos tibetanos é que sejam autenticamente espirituais por nós, em lugar de nós mesmos o sermos, para continuarmos a jogar nosso desvairado jogo consumista. O filósofo francês Gilles Deleuze [1925-75] escreveu: "Se você está preso no sonho de outro, está perdido". Os manifestantes que protestam contra a China estão certos quando contestam o lema olímpico de Pequim, "Um mundo, um sonho", propondo em lugar disso "um mundo, muitos sonhos". Mas eles devem tomar consciência de que estão prendendo os tibetanos em seu próprio sonho, que é apenas um entre muitos outros.

9) Para concluir, a dimensão realmente nefasta do que vem acontecendo hoje na China está em outra parte. Diante da atual explosão do capitalismo na China, os analistas freqüentemente indagam quando vai se impor a democracia política, o acompanhamento político "natural" do capitalismo. Essa questão com freqüência assume a forma de outra pergunta: até que ponto o desenvolvimento chinês teria sido mais rápido se fosse acompanhado de democracia política? Mas será que isso é verdade? Numa entrevista há cerca de dois anos, [o sociólogo] Ralf Dahrendorf vinculou a crescente desconfiança com que a democracia vem sendo vista nos países pós-comunistas do Leste Europeu ao fato de que, após cada mudança revolucionária, a estrada que conduz à nova prosperidade passa por um "vale de lágrimas". Ou seja, após o colapso do socialismo não se pode passar diretamente para a abundância de uma economia de mercado bem-sucedida: o sistema socialista limitado, porém real, de bem-estar e segurança precisou ser desmontado, e esses primeiros passos são necessariamente dolorosos.


Vale de lágrimas


O mesmo se aplica à Europa Ocidental, onde a passagem do Estado de Bem-Estar Social para a nova economia global envolve renúncias dolorosas, menos segurança e menos atendimento social garantido. Para Dahrendorf, o problema é resumido pelo fato de que essa dolorosa passagem pelo "vale de lágrimas" dura mais tempo que o período médio entre eleições (democráticas), de modo que é grande a tentação de adiar as transformações difíceis, optando por ganhos eleitorais de curto prazo. Não surpreende que os países mais bem-sucedidos do Terceiro Mundo, em termos econômicos (Taiwan, Coréia do Sul, Chile), tenham adotado a democracia plena só após um período de governo autoritário. Esse raciocínio não seria o melhor argumento em defesa do caminho chinês em direção ao capitalismo, em oposição à via seguida pela Rússia? Seguindo o caminho percorrido pelo Chile e a Coréia do Sul, os chineses usaram o poder irrestrito do Estado autoritário para controlar os custos sociais da passagem para o capitalismo, desse modo evitando o caos. Em suma, uma combinação esdrúxula de capitalismo e governo comunista, longe de ser uma anomalia ridícula, mostrou ser uma bênção (nem sequer) disfarçada: a China se desenvolveu na velocidade em que o fez não apesar do governo comunista autoritário, mas devido a ele. E se aqueles que se preocupam com a falta de democracia na China estiverem na realidade preocupados com o desenvolvimento acelerado da China, que faz dela a próxima superpotência global, ameaçando a primazia do Ocidente? Há mesmo um outro paradoxo em ação aqui: e se a prometida segunda etapa democrática que vem após o vale de lágrimas autoritário nunca chegar? É isso, possivelmente, que é tão perturbador na China de hoje: a idéia de que seu capitalismo autoritário talvez não seja apenas um resquício de nosso passado, a repetição do processo de acúmulo capitalista que se desenrolou na Europa entre os séculos 16 e 18, mas sim um sinal do futuro. E se "a combinação agressiva entre o chicote asiático e o mercado acionário europeu" se mostrar economicamente mais eficiente que nosso capitalismo liberal? E se ela assinalar que a democracia, tal como a conhecemos, não é mais condição e motor do desenvolvimento econômico, e sim um obstáculo a ele?

SLAVOJ ZIZEK é filósofo esloveno e autor de "Um Mapa da Ideologia" (Contraponto). Ele escreve na seção "Autores", do Mais! . Tradução de Clara Allain .