quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Lula, a educação, e o superávit primário


Reproduzo abaixo uma importante notícia publicada no blog do movimento Desemprego Zero (http://www.desempregozero.org/) que vem organizando importantes intelectuais keynesianos, desenvolvimentistas e nacional-desenvolvimentistas em torno de uma agenda político-econômica novo-desenvolvimentista para o Brasil. O relatório do TCU sobre os investimentos do governo federal em educação deixa claro que, tal como nos tempos de FHC, o direito à educação das massas populares, assim como os demais direitos sociais, vão sendo sistematicamente imolados no altar do superávit primário. O quase-novo-desenvolvimentismo de Lula não rompe com a histórica incapacidade da burguesia no Brasil referente à promoção e generalização de uma ordem social minimamente democrática, aprofundando o crônico e calamitoso atraso cultural do país.


TCU: governo só aplicou 11% na educação em 2008

O governo federal aplicou, no primeiro semestre deste ano, apenas 11% de sua receita em educação. O valor ficou muito abaixo do mínimo de 18% que a Constituição federal obriga a investir no setor, alerta relatório aprovado na quarta-feira pelo
Tribunal de Contas da União. O relator do caso, ministro Augusto Nardes, classificou a situação de preocupante e recomendou que o governo tome medidas rápidas para elevar os gastos até o fim do ano. O Ministério da Educação (MEC) contestou as críticas e sustentou que o piso constitucional será respeitado.
De acordo com o relatório do TCU, os investimentos federais em educação somaram R$ 6,88 bilhões entre janeiro e junho. TCU: governo deixou de aplicar quase R$ 4 bilhões Se a norma dos 18% da receita tivesse sido observada, o gasto com o setor alcançaria a cifra de R$ 10,84 bilhões. Ou seja: pelos cálculos do tribunal, o governo deixou de aplicar quase R$ 4 bilhões no setor na primeira metade do ano.


Em seu voto, o ministro Augusto Nardes afirmou que o diagnóstico dos auditores do TCU indica uma “necessidade premente” de adotar medidas para garantir que o piso de investimento no setor seja respeitado. “O exame realizado pela Secretaria de Macroavaliação Governamental destacou, em síntese, como informação preocupante do ponto de vista do estrito cumprimento da a Constituição, que o percentual de aplicação das despesas (…) se encontra muito aquém do percentual mínimo”, escreveu Nardes.


Os ministros do TCU também determinaram que a Secretaria do Tesouro Nacional deixe de contabilizar indevidamente, como investimentos em educação, restos a pagar que foram cancelados no Orçamento deste ano. Segundo o relatório do TCU, isso explica a diferença de R$ 176 milhões entre os números informados pelo governo e o que a União realmente gastou no setor, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).
No ano passado, o governo superou por pouco o piso constitucional: a despesa com educação foi equivalente a 18,95% das receitas federais, segundo o TCU. A regra estabelece o mínimo que deve ser gasto no setor, sob pena de responsabilização dos governantes, mas não fixa um limite de investimentos. Para estados e municípios, o gasto obrigatório na área equivale a 20% da receita.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

As drogas da ilusão e as armas da crítica


A situação político-social na cidade de Campos se tornou tão problemática, precária e, chegaria mesmo a dizer, desesperadora, que importantes setores da camada da sociedade campista dotada de maior formação cultural resolveram embarcar na lógica da auto-ilusão em relação às potencialidades progressistas do governo da Sra. Garotinho.


É possível identificar com alguma clareza dois elementos determinantes fundamentais que explicam o adesismo destes setores à candidatura Rosinha. De um lado, está a rejeição ao asqueroso esquema clientelístico-corrupto estabelecido no governo municipal, cujo representante eleitoral era o adversário da Sra. Garotinho. Por outro lado, está o ultra-pragmatismo que transforma o palpável e imediato no único fundamento da realidade, o que exclui qualquer estratégia política de mais largo prazo da agenda. A principal conseqüência deste ultra-pragmatismo é reduzir o político ao eleitoral, e o eleitoral às circunstância dadas no momento imediato.


Dentro de um ambiente político-cultural marcado por uma associação entre ultra-pragmatismo e rejeição à situação estabelecida, a única alternativa considerada viável é aquela que está imediatamente dada, independentemente de seus vícios concretos e notórios. Quando o “rouba mas faz” é considerado um avanço pelo qual se empenhar diante do “rouba mas não faz” estabelecido, mesmos as promessas e clichês mais repetitivos expressos pelas figuras políticas mais intensamente submetidas ao crivo da prática e da experiência concretas, e reprovadas neste plano, conseguem ganhar uma aura de novidade e mobilizar esperanças em torno de si.


As drogas da ilusão que entorpeceram importantes setores da sociedade campista que poderiam ser a base de um processo de verdadeira transformação político-social na cidade são os frutos amargos de uma atmosfera político-cultural asfixiante e tóxica. Diante do fato consumado da eleição da Sra. Garotinho, do deslocamento político – ao menos imediatamente – da facção adversária, e da impressionante massa de cidadãos que se negaram a participar deste processos eleitoral que, tal como estava dado no segundo turno, expressava os piores vícios da cidade (quase 70 mil eleitores se abstiveram, votaram nulo ou em branco), é preciso manter engatilhadas as armas da crítica, pois o entorpecimento causado pelas drogas da ilusão podem fazer a cidade perder a pouca capacidade de questionamento, vigilância e reivindicação que produziu até aqui.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Crise ameaça fortalecer a direita


Em recente entrevista a BBC, o historiador britânico Eric Hobsbawn expôs sua idéia de que, assim como nos anos 30, a crise econômica traz consigo o risco de fortalecimento da direita diante de uma esquerda despreparada. Seguem abaixo alguns trechos principais da entrevista.


Muitos consideram o que está acontecendo como uma volta ao estadismo e até do socialismo. O senhor concorda?


Bem, certamente estamos vivendo a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Lembro-me de um título recente do Financial Times que dizia: O capitalismo em convulsão. Há muito tempo não lia um título como esse no FT.


Agora, acredito que esta crise está sendo mais dramática por causa dos mais de 30 anos de uma certa ideologia “teológica” do livre mercado, que todos os governos do Ocidente seguiram.
Porque como Marx, Engels e Schumpter previram, a globalização - que está implícita no capitalismo -, não apenas destrói uma herança de tradição como também é incrivelmente instável: opera por meio de uma série de crises.


E o que está acontecendo agora está sendo reconhecido como o fim de uma era específica. Sem dúvida, a partir de agora falaremos mais de (John Maynard) Keynes e menos de (Milton) Friedman e (Friedrich) Hayek.


Todos concordam que, de uma forma ou de outra, o Estado terá um papel maior na economia daqui por diante.


Qualquer que seja o papel que os governos venham a assumir, será um empreendimento público de ação e iniciativa, que será algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora.


E em relação ao Estado como redistribuidor? O que tem sido feito até agora parece mais pragmático do que ideológico...


Acho que continuará sendo pragmático. O que tem acontecido nos últimos 30 anos é que o capitalismo global vem operando de uma forma incrivelmente instável, exceto, por várias razões, nos países ocidentais desenvolvidos.


No Brasil, nos anos 80, no México, nos 90, no sudeste asiático e Rússia nos anos 90, e na Argentina em 2000: todos sabiam que estas coisas poderia levar a catástrofes a curto prazo. E para nós isto implicava quedas tremendas do FTSE (índice da bolsa de Londres), mas seis meses depois, recomeçávamos de novo.


Agora, temos os mesmos incentivos que tínhamos nos anos 30: se não fizermos nada, o perigo político e social será profundo e ainda mais depois de tudo, da forma com a qual o capitalismo se reformou durante e depois da guerra sob o princípio de “nunca mais” aos riscos dos anos 30.


O senhor viu esses riscos se tornarem realidade: estava na Alemanha quando Adolf Hitler chegou ao poder. O senhor acredita que algo parecido poderia acontecer como conseqüência dos problemas atuais?


Nos anos 30, o claro efeito político da Grande Depressão a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo.


Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece.


A esquerda está virtualmente ausente, Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.


O que vemos agora não é o equivalente à queda da União Soviética para a direita? Os desafios intelectuais que isto implica para o capitalismo e o livre mercado são tão profundos como os desafios enfrentados pela direita em 1989?


Sim, concordo. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que acabou uma era. Não sabemos o que virá pela frente.


Temos um problema intelectual: estávamos acostumados a pensar até então que havia apenas duas alternativas: ou o livre mercado ou o socialismo. Mas, na realidade, há muito poucos exemplos de um caso completo de laboratório de cada uma dessas ideologias.


Então eu acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla. E principalmente até que ponto esta mistura será motivada pela consciência do modelo socialista e das conseqüências sociais do que está acontecendo.


O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?


Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar que este capitalismo está fundamentado em uma série de crises”.


Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante.


O senhor sente um pouco recuperado depois de anos em que a opinião intelectual ia de encontro ao que o senhor pensava?


Bem, obviamente há um pouco a sensação de schadenfreude (regozijo pela desgraça alheia).
Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado.


O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados.


Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos.


Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média.


Sobretudo, nos últimos 30 anos, os benefíciários deste grande crescimento têm sido nós, no Ocidente, que vivemos uma vida imensuravelmente superior a qualquer outro lugar do mundo.
E me surpreende muito que o Financial Times diga que o que se espera que aconteça agora é que este novo tipo de globalização controlada beneficie a quem realmente precisa, que se reduza a enorme diferença entre nós, que vivemos como príncipes, e a enorme maioria dos pobres.

Escola: por que?

Em uma recente e sempre profundamente esclarecedora entrevista, o mestre Demerval Saviani, simplesmente o maior, mais importante e mais progressista intelectual dedicado à educação no Brasil, trouxe à tona uma questão fundamental para a compreensão da brutal, devastadora e quase terminal crise da educação escolar brasileira, que simplesmente se aprofunda nos dias que correm. Além de não poupar o governo Lula de críticas por sua política educacional inócua expressa no tão alardeado PDE, Saviani reafirma sua posição de apontar a causa principal da crise educacional no caráter miserável do financiamento. Diante do atual investimento público em educação de menos de 4% do PIB, o professor Saviani continua a defender a tese (expressa no Plano Nacional de Educação, vetado por FHC e mantido no limbo por Lula) que afirma a necessidade de destinar em torno de 10% do PIB para a educação de modo que o país possa superar seu histórico, inaceitável e crescente atraso cultural.


Saindo na frente dos possíveis crítico neoliberais de sua proposta, Saviani levanta uma questão interessantíssima que certamente merece uma reflexão: afirma que assim como a indústria automobilística foi, no passado, o motor do desenvolvimento no países do Atlântico Norte (apesar de todas as suas conseqüências negativas), o investimento prioritário em educação poderia constituir no Brasil, o motor de nosso desenvolvimento produtivo e social, não em função da balela do “capital humano”, mas sim em função da demanda agregada produzida por um pesado esforço educacional nacional conduzido pelo poder público.


No entanto, o que de mais fundamental e transcendente aparece na entrevista de Saviani, de meu ponto de vista, é a responsabilização do pensamento educacional hegemônico atualmente, fortalecido no contexto de um ambiente intelectual dominado pelo pós-modernismo, por uma grande parte de nossa crise educacional atual. Com seus ataques ao conteúdo científico das disciplinas escolares, ao papel dirigente dos professores no processo de ensino-aprendizagem, à autoridade da escola enquanto instituição formativa, e a sua função primordial de socialização de conhecimentos racionais universais, o pensamento educacional pós-moderno prepara o terreno ideológico para as mais reacionárias políticas de desescolarização (aberta ou disfarçada) promovidas pelos neoliberais, tais como a introdução do “ensino on-line” decretada por José Serra no ensino médio de São Paulo. Nós, professores, estudantes e cidadãos em geral que se importam com a educação neste país, precisamos estar preparados e organizados para defendermos a educação escolar, pois a cada dia ela sofre ataques mais violentos e devastadores.

Crise financeira faz aumentar vendas de 'O capital'




Saiu no portal digital das Organizações Globo a notícia que segue abaixo, para quem passou todos os últimos anos sendo comparado aos dinossauros ou trilobitas, este ressurgir do pensamento de Marx traz um facho de luz no meio das trevas da grande crise instalada na economia mundial.


A atual crise financeira global está causando na Alemanha um grande aumento das vendas do livro "O capital", escrito por Karl Marx em 1867 para analisar o modo de produção capitalista. "Marx está novamente na moda", disse ao jornal "Neue Ruhr Zeitung" Joern Schuetrumpf, responsável pela editora Karl-Dietz, de Berlim, que publica as obras de Marx e Friedrich Engels em alemão. As vendas do primeiro volume da obra, explicou Schuetrumpf, triplicaram desde 2005, chegando a 1.500 exemplares.




Para o mês de dezembro, a editora espera um aumento ainda maior da demanda, considerando que algumas das teorias escritas pelo filósofo -- dentre as quais aquela que afirma que o capitalismo em excesso acabe por se auto-destruir -- estão mais atuais do que nunca. O próprio governo alemão pode ter contribuído para o boom de Marx nas livrarias, já que no final do último mês de setembro o ministro das finanças alemão, Peer Steinbrueck, declarou ao jornal "Der Spiegel" que "tudo o que está acontecendo mostra que algumas partes da teoria marxista não estavam tão erradas”

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Com os bancários, contra os banqueiros!

Em solidariedade à luta dos bancários contra o governo e a patronal, publico aqui o manifesto do MNOB (Movimento Nacional de Oposição Bancária) filiado à CONLUTAS. Segue abaixo também o endereço eletrônico do blog criado pelo MNOB para divulgar o cotidiano da luta na qual estão empenhados. Avante companheiros!

Lula dá R$160 bilhões aos banqueiros, mas não negocia com bancários

A crise financeira se agrava e está se espalhando pelo planeta. É óbvio que o Brasil não passaria imune. Só mesmo o nosso presidente da República para dizer que a crise era problema do Bush.


Agora, fazendo igual aos governos americano e europeus, Lula está abrindo os cofres da nação para socorrer os bancos no Brasil. Já foram disponibilizados R$160 bilhões dos compulsórios. E não para por aí. Estão queimando as reservas cambiais para segurar o preço do dólar e garantir que as empresas que especulavam o real não quebrem também.

Para os patrões, tem muito dinheiro. Para os trabalhadores, nada.

Um acordo dos bancos públicos (BB, CEF, Basa e BNB) custaria infinitamente menos que os gastos com o socorro ao mercado que Lula está fazendo. No entanto, a agilidade demonstrada para socorrer os especuladores é totalmente oposta à iniciativa de negociar um acordo com os bancários.

Sindicato de São Paulo afirma que crise não afeta bancos brasileiros

Um engano ou uma manobra? O Sindicato dos Bancários de São Paulo vinha segurando a greve desde o final de setembro e polemizava com a Oposição/MNOB. Dizia que não havia problemas com a crise que vinha se desenvolvendo no cenário internacional.

Agora, os banqueiros já estão afirmando que a crise chegou ao Brasil. Há boatos de uma forte queda nos papéis do Unibanco e do Safra, o que poderia estar dificultando o acordo da campanha salarial na Fenaban.

O próprio governo está jogando bilhões no mercado para tentar amenizar os efeitos da crise, antes que haja um processo de quebradeira no sistema financeiro nacional. Mas, o Sindicato continua a afirmar que não há problemas com os bancos brasileiros porque eles estão com seus ativos ligados aos papéis nacionais.

Com esse posicionamento, o sindicato não ajuda os trabalhadores a se prepararem para a crise. Faz um discurso igual ao de Lula e manobra a situação para conseguir um acordo melhor na campanha salarial.

O MNOB não concorda com isso. Em nossa opinião, é preciso debater os problemas de forma séria e preparar a categoria para a grande crise que poderá vir. Evidentemente, não podemos passar um quadro de terror, mas é preciso esclarecer a real situação e cobrar dos responsáveis que paguem pela crise.

O sindicato também não pode esconder o fato de o governo estar dando tanto dinheiro ao mercado. Coerente com sua visão de que tudo vai bem no mundo dos negócios, o sindicato afirma que os bancos vão especular e ganhar mais com o dinheiro liberado pelo governo.

Se isso é verdade (e isso faz sentido) o sindicato deveria estar exigindo de Lula que não desse dinheiro para socorrer os especuladores e que fizesse uma estatização do sistema financeiro.

Mas este é o problema do sindicato e da CUT. Sua ligação com o governo Lula o impede de defender uma política coerente que prepare os trabalhadores para a crise e que fortaleça a luta pelos direitos.

Estatização do Sistema Financeiro é a única saída

O MNOB já defendeu, em seus jornais, a estatização do sistema financeiro sob o controle dos trabalhadores. Evidentemente, quando os bancos estavam ganhando rios de dinheiro e as idéias liberais estavam em alta, nossa proposta parecia ser loucura.

Hoje, a crise escancarou o que representa o sistema financeiro sob o controle do mercado. Uma imensa massa de papéis podres, algo em torno de US$14 trilhões, que nenhum governo, ou nem todos os governos juntos, pode salvar.

Trilhões serão jogados no fosso aberto pelo sistema financeiro mundial. Dinheiro dos contribuintes, recursos oriundos da riqueza produzida por milhões de trabalhadores que vão se evaporar e desaparecer nesse enorme buraco.

A estatização do sistema financeiro seria uma medida séria e responsável, para evitar todo esse gasto e acabaria de vez com a especulação. Mas, essa medida teria de ser feita sob o controle dos trabalhadores para que fossem assegurados todos os direitos trabalhistas e um bom funcionamento do sistema estatizado.

http://mnobcampanhasalarial.blogspot.com/

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dia dos professores: dia de luta!

Uma das falácias da intelectualidade neoliberal é afirmar o estágio atual de desenvolvimento do capitalismo como aquele em que vai se consolidando uma “sociedade pós-industrial”, uma “sociedade do conhecimento”. Dentro desta linha de argumentação o antagonismo entre capital e trabalho estaria em vias de extinção, já que o processo produtivo material estaria perdendo completamente sua relevância frente aos processos econômicos baseados no conhecimento.
Os neoliberais profetizam a alvorada de uma espécie de Era de Aquário do conhecimento, ao mesmo tempo em que formulam políticas públicas que precarizam os sistemas de ensino e seus profissionais. A degradação da carreira do magistério está diretamente ligada às políticas neoliberais que, ao submeter as maiorias populares ao desemprego estrutural, privam a escola da “promessa integradora” que sempre constituiu o principal fundamento de sua legitimação diante das massas.
O capitalismo contemporâneo é naturalmente inimigo dos professores porque possui como prioridade combater, simultaneamente, os espaços públicos e democráticos institucionalizados no Estado e o conhecimento racional. Nós professores temos como função primordial socializar o conhecimento racional (científico, filosófico, artístico, e etc) e porque, como já dizia o mestre Demerval Saviani, “ se os dominados não dominarem aquilo que os dominantes dominam jamais se libertarão de sua dominação”, nossa profissão possui, imanentemente, um conteúdo democrático e progressista. Precisamos ter clareza de que os interesses do capital se opõem ao nosso progresso e à natureza de nossa carreira, portanto, companheirada, neste dia dos professores devemos saber que nossa atividade docente exige, como seu complemento indispensável, a organização e a luta!

Fenômeno Gabeira: irracionalismo reacionário


Em primeiro lugar é preciso deixar claro que este texto não reflete nenhuma espécie de apoio, condescendência ou mesmo tolerância em relação a candidatura de Eduardo Paes, um típico playboy oportunista a serviço do neoliberal ortodoxo governo de Sergio Cabral, e como tal, uma candidatura que precisa ser denunciada e combatida como inimiga dos trabalhadores e dos interesses populares. No entanto, a chegada de Fernando Gabeira ao segundo turno das eleições municipais do Rio de Janeiro, e sua liderança nas pesquisas merecem uma análise específica.
O último debate eleitoral realizado pela Band mostrou um Gabeira bastante desorientado, o que, de meu ponto de vista foi uma surpresa. Gabeira foi incapaz de posicionar-se com firmeza e clareza a respeito de um qualquer projeto concreto seu, ao contrário, apenas mesclou uma postura comportamental intempestiva com apelos genéricos e vagos a um suposto “horizonte político” alternativo que ele representaria.
Desta forma, é bastante interessante o crescimento da candidatura Gabeira por sobre uma quase completa ausência de conteúdo programático concreto e racional. À exceção de suas promessas de submeter a cidade do Rio de Janeiro a um “choque de capitalismo” e de aproximar-se incondicionalmente da “iniciativa privada”, Gabeira não traz de concreto nada mais do que uma imagem, um símbolo, ou como querem alguns de seus apoiadores, um conceito: o conceito Gabeira.
Gabeira, dentro desta perspectiva que vem impulsionado sua candidatura, não precisa apresentar um conjunto de propostas ou um programa racional, basta que ele apresente a si próprio como conceito. Gabeira representa uma espécie de mito: o mito do governante “pós-moderno”. Assim como grande parte da população carioca, um setor importante da intelectualidade campista está seduzida pelo “Fenômeno Gabeira”, prendendo-se à forma da candidatura e esquecendo seu conteúdo. Não é demais lembrar que a candidatura de Gabeira possui como um de seus homens fortes o ex-czar financeiro de FHC, Armínio Fraga, e que une em torno de si os setores políticos mais reacionários da burguesia brasileira: PSDB e DEM.
O sucesso da candidatura Gabeira é um perigoso sinal de que amplos setores da população, principalmente dos setores mais esclarecidos, estão disposto a se entregarem à sedução de fenômenos políticos irracionalistas, desprovidos de conteúdo racional e baseados em elementos tão vagos como uma imagem, um símbolo, ou coisa que os valha. Gabeira, assim como Paes, é um inimigo das necessidades sociais das maiorias populares e,como ele, precisa ser combatido. Assim como em Campos, no Rio também, neste segundo turno o correto é convocar à diferenciação em relação às opções reacionárias por meio do voto nulo.

sábado, 11 de outubro de 2008

História oculta do sionismo


O recente atentado realizado por extremistas nacionalista-religiosos fanáticos de direita contra um dos mais importantes intelectuais críticos israelenses, Uri Avnery, assim como o aumento da violência do Estado sionista contra a agricultura palestina, consolidando um verdadeiro holocausto agrícola, exige que se aprofunde uma reflexão sobre a natureza do sionismo e do Estado de Israel neste ano em que se completam 60 anos de sua fundação. Para contribuir com esta reflexão, disponibilizo abaixo alguns trechos do livro recentemente publicado pela editora Sundermann (editora do PSTU) sobre o sionismo. “A história oculta do sionismo” de Ralph Shoenman (judeu e sobrevivente do holocausto nazista) revela importantes informações sobre a história do movimento sionista, e de suas lideranças e possibilita uma reflexão racional, objetiva e precisa sobre a ideologia que sustenta a legitimidade do Estado de Israel.

Trecho do livro "A muralha de ferro" de 1926 escrito pelo lider sionista Vladimir Jabotinsky, no caso há 22 anos antes da grande invasão sionista de 48 que fundou o estado de Israel.

"Não cabe pensar em uma reconciliação voluntária entre nós e os árabes, nem agora nem num futuro previsível, Todas as pessoas bem intencionadas, salvo os cegos de nascimento, compreenderam há muito a completa impossibilidade de se chegar a um acordo voluntário com os árabes da Palestina para transformar a Palestina de país árabe em um país de maioria judia. (...) Tente achar ao menos um exemplo de colonização de um país que aconteceu com o acordo da população nativa. Tal coisa nunca ocorreu.
(...)
Qualquer povo lutará contra os colonizadores enquanto lhes reste um fio de esperança de que eles possam evitar o perigo da conquista da colonização. Os palestinos lutarão dessa forma até que não haja mais o menor lampejo de esperança.
(...)
Não podemos dar nenhuma compensação pela Palestina, nem aos palestinos nem aos demais árabes. (...) Qualquer colonização, ainda que a mais restrita, deve-se desenvolver desafiando a vontade da população nativa.
(...) é indispensável a força externa para estabelecer no país as condições de dominação e defesa pelas quais a população local, independentemente de seus desejos, veja-se privada da possibilidade de impedir nossa colonização.
(...)
À censura estúpida de que esse ponto de vista não é ético, respondo: "totalmente falso". Essa é a nossa ética. Não há outra ética."


Citação de Jabotinsky, dirigente sionista morto em 1940, que mostra as raízes racistas do Estado de Israel.

"É impossível que alguém seja assimilado por outro povo que tenha um sangue diferente do seu. Para que seja assimilado este alguém tem de trocar seu corpo, tem de converter-se em um deles, no sangue. Não pode existir assimilação. Nunca poderemos permitir coisas como o matrimônio misto porque a preservação da integridade nacional só é possível mediante a pureza razial, e para tal, temos de ter esse território onde nosso povo constituirá os habitantes racialmente puros."

Citação de Davis Ben Gurion, primeiro chefe de Estado de Israel:

"Quando nos convertermos em uma força com peso, como resultado da criação de um Estado, aboliremos a partilha e nos expandiremos para toda a Palestina. O Estado será somente uma etapa na realização e sua tarefa é preparar o terreno para nossa expansão. O Estado terá de preservar a ordem, não através da pregação, mas das metralhadoras"
"Deveríamos nos preparar para avançar em uma ofensiva. Nosso objetivo é esmagar o Líbano, a Transjordânia e a Síria. O ponto débil é o Líbano, porque o regime muçulmano é artificial e fácil de ser minado. Teremos de implantar um Estado cristão ali e então derrotaremos a Legião Árabe, eliminaremos a Transjordânia; a Síria cairá em nossas mãos. Então nós bombardearemos e ocuparemos Port Said, Alexandria e o Sinai."

A passagem a seguir é Yitzhak Gruenbaum, presidente do Comitê da Agência Judia de Resgate, organização sionista para investigar a situação dos judeus europeus durante a II Guerra Mundial.


"Se nos vierem com dois planos - resgatar as massas de judeus da Europa ou resgatar a terra - eu voto, sem vacilar, pelo resgate da terra. Quanto mais se fala da matança de nosso povo, mais se minimizam nossos esforços por reforçar e promover a hebraização da terra. Se houvesse, hoje, alguma possibilidade de comprar alimentos com o dinheiro de Karen Hayesod (Apelo Judeu Unido) para enviá-los através de Lisboa, nós o faríamos? Não. Repito: não.

A passagem a seguir tirada do capítulo 6 é o texto de pacto formal entra a Organização Militar Nacional (OMN) de Itzhak Shamir e o Terceiro Reich Nazista:


"A evacuação das massas judias da Europa é pré-condição para resolver a questão judaica; mas esta somente pode ser possível e completa mediante o assentamento dessas massas na terra natal do povo judeu, a Palestina, e mediante o estabelecimento de um Estado Judeu em suas fronteiras históricas (...) A OMN, que conhece bastante bem a boa vontade do governo do Reich alemão e suas autoridades para com a atividade sionista na Alemanha e em relação aos planos de emigração sionistas, opina que:

1. Pode haver interesses comuns entre o estabelecimento de uma Nova Ordem na Europa, segundo a concepção alemã, e as autênticas aspirações nacionais do povo judeu, personificadas pela OMN.
2. Seria possível a cooperação entre a nova Alemanha e uma renovada nação do povo Hebraico Nacionai, e
3. O estabelecimento de um Estado judeu histórico, sobre bases nacionais e totalitários, unido por uma aliança com o Reich Alemão, seria do interesse para um continuado e fortalecido futuro da posição de poder alemão no Oriente Próximo.
A partir dessas considerações, a OMN na Palestina, sob a condição de que as aspirações nacionais do movimento de libertação isrelense mencionadas acima sejam reconhecidas pelo Reich Alemão, se oferece a participar ativamente na guerra no lado da Alemanha."




Credo Capitalista


Neste momento de grave e violenta crise do capitalismo, no qual os teólogos do deus-mercado estremecem e muitos começam a renegar a fé, publico aqui a paródia do credo cristão redigido por Paul Lafargue, genro de Karl Marx.

Creio no Capital que governa a matéria e o espírito;
Creio no Lucro, seu filho legítimo, e no Crédito, o Santo Espírito, que dele procede e é adorado conjuntamente;
Creio no Ouro e na Prata que, torturados na Casa da Moeda, fundidos no cadinho e batidos na balança, reaparecem ao mundo como Moeda legal e que, consideradas demasiado pesadas, depois de terem circulado sobre toda a terra, descem às caves do Banco para ressuscitar como Papel-moeda; creio na Renda a cinco por cento, a quatro e a três por cento igualmente e na Cotação autêntica dos valores; creio no Grande Livro da Dívida Pública, que garante o Capital contra riscos do comércio, da indústria e da usura; creio na Propriedade individual, fruto do trabalho dos outros, e na sua duração até ao fim dos séculos; creio na Eternidade do Assalariamento que desembaraça o trabalhador das preocupações com a propriedade; creio no Prolongamento da jornada de trabalho e na Redução dos salários e também na Falsificação dos produtos; creio no dogma sagrado: COMPRAR BARATO E VENDER CARO; e igualmente creio nos princípios eternos da nossa muito santa igreja, a Economia política oficial.
Amém.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Não à farsa eleitoral!


Diante da definição judicial a favor da realização de um segundo turno na eleição municipal de Campos, gostaria de fazer algumas considerações. Em primeiro lugar, é importante afirmar que a realização do segundo turno traz um aspecto positivo que diz respeito ao fato de que todos os atores e setores políticos da cidade serão forçados a se posicionar claramente, perante o público, a favor de uma ou outra das facções políticas do lumpen-empresariado campista ou a favor da independência de um programa político alternativo e progressista.


Em segundo lugar, é fundamental que os setores mais críticos e avançados da sociedade campista saibam se posicionar corretamente neste processo eleitoral, denunciando o caráter igualmente anti-democrático, patrimonialista e reacionário das duas facções em disputa, rompendo com o simplismo e irracionalismo das posições anti-fulano ou anti-beltrano, vazias de conteúdo, na imensa maior parte das vezes, e que conduz ao apoio a um ou outro dos grupos em questão, perpetuando a nefasta bipolaridade política estabelecida no município. Sendo assim, entendo que é uma tarefa prioritária a articulação de uma campanha política enfática pelo voto nulo neste segundo turno que carregará, por sua própria natureza, a marca do clientelismo, da compra de votos, da corrupção e da ilegalidade. Não a esta farsa eleitoral! Não à falsa bipolaridade política estabelecida! Voto Nulo!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Um ataque silencioso

A presente crise que estremece e promete assolar a economia mundial é, ao mesmo tempo, uma tremenda crise de legitimidade para a ideologia neoliberal e sua crença na onipotência do deus-mercado e na superioridade de seus valores. No entanto, nós, os críticos do neoliberalismo, não podemos nutrir ilusões e passar a acreditar que os representantes políticos e intelectuais do grande capital irão assumir seus erros e se render derrotados. A luta de classes, como já dizia o velho Marx, não é uma disputa em nível intelectual apenas, onde a derrota dos argumentos esgrimidos por um dos lados leva a sua capitulação. Ao contrário, o pensamento burguês se encontra em crise de legitimidade, mais ou menos profunda, desde o século XIX, mas não é por isto que a burguesia ficou mais disposta a abdicar de sua posição dominante na economia e na política.


No Rio de Janeiro, o governo Sérgio Cabral, nos fornece um bom exemplo do que está dito mais acima. Sendo um governo autenticamente neoliberal, a administração Cabral realiza uma autêntica “fuga para frente” no que diz respeito ao caráter privatista e pró-mercado de sua política educacional. Na semana passada, foi assinado um decreto que constitui um brutal - mas silencioso – ataque à educação pública em nosso Estado. O governador Sérgio Cabral instituiu um projeto que permite à iniciativa privada, em troca de isenção tributária, adotar escolas estaduais, tornando-se, na prática, sua gestora.


Diante da profunda crise que devasta a educação pública no Estado, e configura mesmo a falência da rede estadual de educação, o governo Sérgio Cabral abdica, definitivamente, da responsabilidade de garantir à população fluminense o direito à educação escolar, esfacelando a rede estadual e rifando o patrimônio público. É vital que a sociedade oponha-se a este nefasto projeto de privatização que o desgoverno Sérgio Cabral pretende consolidar.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Arregaçar as mangas


O resultado eleitoral da cidade de Campos, ainda que não totalmente resolvido até agora em função das previsíveis querelas jurídicas, não traz – como já era de se esperar - nenhuma boa notícia para o futuro dos munícipes. A vitória de uma ou outra das facções políticas principais do lumpen-empresariado local representa a tremenda capacidade de reprodução dos esquemas de poder baseados no clientelismo corrupto e corruptor que são, ao mesmo tempo, o reverso da moeda da estagnação (ou decomposição?) econômica da cidade e da devastadora miséria e incontáveis carências que afligem a imensa maioria de sua população. A manutenção do binômio estagnação-miséria como característica fundamental do município torna bastante difícil a tarefa de derrotar politicamente as duas facções dominantes já mencionadas, principalmente se esta tarefa for limitadamente compreendida como um esforço a ser empreendido apenas seguindo o calendário eleitoral. É preciso ter clareza que os esquemas de poder estabelecidos precisam ser derrotados, mais que eleitoralmente, politicamente, e isto somente poderá ser realizado por um esforço coordenado, consciente e militante, de largo prazo, e em um sentido decididamente político que se proponha, em primeiro lugar, combater a arrasadora desigualdade social constitutiva da sociedade campista.
A expressiva votação da candidatura do PC do B deixa claro que uma parcela significativa – ainda que previsível e inevitavelmente minoritária – da população campista (por nascimento ou escolha) resiste ao corrosivo ambiente político-cultural dominante e à profunda putrefação ética que dissemina em todos os estratos sociais, e está disposta a apoiar politicamente um projeto que defenda a ruptura dos esquemas de poder estabelecidos e das facções políticas que os articulam. Entendo que é necessário relacionar os elementos anteriormente explicitados com o tremendo êxito da blogosfera campista em se tornar um indispensável, vital e, diria mesmo, poderoso ponto de referência ético-político para os crescentes setores mais críticos da população. A consagração da credibilidade da blogosfera campista em detrimento da maior parte da imprensa comercial tradicional é a prova cabal da vitória da tese que afirma que credibilidade midiática não está ligada à mítica “imparcialidade” (como querem os liberais e positivistas) mas sim ao posicionamento decididamente parcial do lado da crítica e dos interesses e necessidades sociais progressistas.
O momento atual é o momento de arregaçar as mangas. Os cidadãos e forças políticas verdadeiramente democráticas e progressistas da cidade precisam se organizar para construir uma vontade coletiva que possa agregar em torno de um movimento político-social (muito mais que eleitoral) transformador, setores da classe trabalhadora pauperizada das periferias e distritos, os estudantes e intelectuais avançados, além da classe média trabalhadora e dos pequenos empresários, com base em um programa democratizante e de combate à desigualdade social. Somente o fortalecimento de um movimento político-social como este pode enfrentar a apatia e desmoralização corruptas, no plano ético, o privatismo individualista e conservador, no plano cultural, e o facciosismo irracionalista, no plano político, que garantem, juntamente com o binômio estagnação-miséria, no plano econômico-social, a reprodução do nefasto quadro atual.

Quem vai pagar?


O neoliberalismo pode ser definido como um projeto político e ideológico baseado em um programa de ampla restrição do controle e da regulamentação pública sobre a atividade econômica privada, e de expansão – praticamente ilimitada - do campo de ação desta última. Tudo ao “Mercado”, nada contra o “Mercado”, assim pode ser resumido o programa neoliberal. Este programa político que foi imposto ao mundo todo pela pressão do grande capital financeiro, principalmente estadunidense, com o suporte dos organismos financeiros internacionais e seus planos de ajuste econômico, foi constituído como projeto unitário da burguesia internacional nos marcos do Consenso de Washington, ao apagar das luzes do século XX.

O programa especificamente político do neoliberalismo tem por fundamento uma ideologia que se tornou amplamente hegemônica nos quadros do pensamento econômico, social e político desde os anos 80, mas desde os anos 90 tornou-se quase absoluta, uma forma de “pensamento único” imposta a todos aqueles que quisessem gozar de algum respeito diante da “opinião pública”. Esta ideologia neoliberal pode ser resumida na crença na onipotência do mercado capitalista na regulação da vida social e na promoção da prosperidade e felicidade aos povos do mundo. A queda do Muro de Berlim impulsionou a supremacia da ideologia neoliberal, hoje, a queda de outro muro: Wall Street (“Rua do Muro”), estabelece o início de sua desmoralização.

Diante do aprofundamento da colossal crise econômica que vai engolfando o mundo todo a partir do mercado financeiro, amplamente desregulado, dos EUA, os antes orgulhosos arautos da “supremacia do mercado” escondem-se ou convertem-se a uma cínica postura de crítica à “especulação financeira irresponsável” (como se houvesse alguma especulação financeira responsável). Os dirigentes políticos da pátria do “estado mínimo” produzem a realidade do Estado máximo para os interesses do capital financeiro. Testemunhamos, agora, o colapso da ideologia neoliberal. Com o navio afundando os ratos começam a fugir, mas fica a questão: quem vai responder pelas privatizações fraudulentas, pelo sucateamento dos serviços públicos e pelo cancelamento de direitos trabalhistas e sociais realizadas em nome da ideologia neoliberal e das “virtudes supremas” do mercado? Quem será responsabilizado? É preciso responder urgentemente a estas questões.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dez razões para recusar o salvamento de Wall Street



Segue abaixo importante manifesto redigido e publicado pelo sociólogo marxista e ativista pollítico estadunidense: James Petras. Uma contribuição fundamental para o debate público e para as ações de massa que se realizam na terra do Tio Sam contra os planos do governo Bush e dos especuladores financeiros.


O secretário do Tesouro Paulson e o presidente Bush, apoiados pela liderança democrata, pediram ao Congresso US$700 mil milhões para salvar instituições financeiras da Wall Street. Ao longo dos últimos anos estes bancos arrecadaram milhares de milhões de dólares tomando empréstimos e especulando com hipotecas, títulos e outros papéis financeiros, virtualmente sem qualquer capital a cobrir as suas apostas.


Com a queda do mercado habitacional, as dívidas financeiras da Wall Street dispararam, o valor dos seus haveres evaporou-se e elas cravadas com trilhões (trillions) de dólares de dívidas. A liderança de Paulson, Bush e do Congresso quer que o contribuinte estadunidense compre as dívidas privadas sem valor da Wall Street, comprometendo a atual e as futuras gerações de contribuintes com papeis desvalorizados. Paulson/Bush e os líderes do Congresso afirmam falsamente que o fracasso em salvar os trapaceiros da Wall Street levará ao colapso do sistema financeiro. De fato, quase 200 dos nossos principais economistas das mais prestigiadas universidades rejeitam o salvamento de Paulson.


A verdade neste assunto é que a retenção dos fundos para a Wall Street levará ao colapso deste sistema financeiro trapaceiro-especulador, o qual criou a atual derrocada econômica. O governo federal poderia e deveria utilizar as centenas de milhares de milhões do dinheiro público para estabelecer um sistema bancário e de investimentos a nível nacional controlado publicamente e sujeito à supervisão de representantes eleitos. O colapso do atual sistema financeiro em bancarrota é tanto uma ameaça como uma oportunidade. O colapso deste sistema corrupto levou à perda de empregos e congelamento do crédito e da concessão de empréstimos.


O estabelecimento de um novo sistema bancário de propriedade pública proporciona uma oportunidade para financiar as prioridade das vasta maioria do povo americano: a re-industrialização da nossa economia, um programa de saúde para todos a nível nacional, garantia e estender a Segurança Social no próximo século, reconstruir nossa infra-estrutura decadente e muitos outros programas essenciais para o modo de vida americano. O problema não é a falsa alternativa de salvar a Wall Street ou o caos e colapso financeiro. A escolha real é entre subsidiar trapaceiros ou estabelecer um sistema responsável, reativo e justo administrado publicamente.


Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street


1- Numa economia de mercado os capitalistas justificam os seus lucros com o risco de perdas que assumem. Os jogadores não podem guardar os seus lucros e passar as suas perdas para os contribuintes. Eles têm de assumir a responsabilidade das suas decisões más.


2- Grande parte das dívidas tóxicas (lixo) foi baseada em práticas fraudulentas – instrumentos financeiros opacos não relacionados com ativos reais (mas que geravam enormes comissões). O salvamento de vigaristas só encoraja mais vigarice.


3- O Tesouro dos EUA comprará papeis sem valor, os bancos privados reterão quaisquer ativos com valor. Nós compramos os limões, eles conduzem os Cadillacs.


4- A probabilidade de o Tesouro recuperar qualquer valor das suas compras da dívida podre é quase zero. Os contribuintes serão fincados em papeis sem compradores.


5- O efeito a longo prazo de um salvamento será duplicar a dívida pública e minar o financiamento para a Segurança Social, Medicare, Medicaid, educação e programas de saúde pública, e ao mesmo tempo aumentar o fardo fiscal das gerações futuras.


6- O dólar desvalorizará quando o poder de atração da dívida governamental diminuir no estrangeiro, aumentando o custo das importações e resultando numa espiral inflacionária que mais uma vez minará os padrões de vida dos trabalhadores.


7- A canalização de fundos para a Wall Street desviará os fundos necessários para retirar-nos desta recessão profunda.


8- O salvamento aprofundará a crise financeira porque, segundo do diretor do Gabinete de Orçamento do Congresso, revelará o fato de que muitas instituições podem estar carregadas com muito mais "ativos tóxicos" e revelará que aquelas instituições não são solventes. Por outras palavras, o Tesouro e o Congresso estão a resgatar dívidas podres a instituições insolventes.


9- O salvamento é destinado a facilitar a concessão de empréstimos. Mas e o problema não é de crédito e sim (como mostrou o Gabinete do Orçamento do Congresso) de insolvência das instituições financeiras, a solução é criar instituições financeiras solventes.


10- O salvamento ignora totalmente as necessidades financeiras de 10 milhões de proprietários de casas que estão a enfrentar arrestos, bem como a bancarrota de pequenas empresas confrontadas com um esmagamento do crédito e as perdas de empregos dos trabalhadores e dos planos de saúde para as suas famílias devido à recessão.


Alternativas ao salvamento da Wall Street


A velocidade com que esta gigantesca quantia de fundos públicos foi disponibilizada pelo Tesouro e pelo Congresso mostra a mentira da sua argumentação de que programas populares não podem ser financiados ou precisam ser cortados.


De fato, investir US$ 700 bilhões na saúde e na educação dos trabalhadores americanos aumentará a produtividade, abrirá mercados e expandirá o poder do consumidor conduzindo a um círculo virtuoso de aumento dos rendimentos públicos e de eliminação de déficits orçamentais e comerciais. Fundos públicos investidos na manufatura, construção, educação e cuidados de saúde conduzem a produtos com valor de uso real e têm um efeito multiplicador sobre o resto da economia ao invés de terminarem nos bolsos de multimilionários que especularam e investiram em fusões e aquisições no estrangeiro.


O Tesouro e o Congresso inadvertidamente revelaram que o financiamento federal está prontamente disponível para reconstruir a economia dos EUA, garantir salários vitais decentes e proporcionar cuidados de saúde para todos se escolhermos responsáveis eleitos que estejam comprometidos com as necessidades dos trabalhadores e não com os multimilionários da Wall Street.

28/Setembro/ 2008

James Petras é professor emérito de sociologia na Binghamton University, New York. É autor de 63 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em publicações profissionais, incluindo American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia e Journal of Peasant Studies. Publicou mais de 2000 artigos e publicações não profissionais tais como New York Times, the Guardian, the Nation, Christian Science Monitor, Foreign Policy, New Left Review, Partisan Review, Temps Modernes, Le Monde Diplomatique. Seus comentários são amplamente difundidos na Internet. Dentre as editoras que publicaram seus livros incluem-se a Random House, John Wiley, Westview, Routledge, Macmillan, Verso, Zed Books e Pluto Books. Ganhou os prémios Life Time Career, Marxist Section, da American Sociology Association, o Robert Kenny Award for Best Book, 2002, e a Best Dissertation, Western Political Science Association in 1968. Seus livros mais recentes são: Zionism, Militarism and the Decline of US Power e Rulers and Ruled in the US Empire