quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Escola: por que?

Em uma recente e sempre profundamente esclarecedora entrevista, o mestre Demerval Saviani, simplesmente o maior, mais importante e mais progressista intelectual dedicado à educação no Brasil, trouxe à tona uma questão fundamental para a compreensão da brutal, devastadora e quase terminal crise da educação escolar brasileira, que simplesmente se aprofunda nos dias que correm. Além de não poupar o governo Lula de críticas por sua política educacional inócua expressa no tão alardeado PDE, Saviani reafirma sua posição de apontar a causa principal da crise educacional no caráter miserável do financiamento. Diante do atual investimento público em educação de menos de 4% do PIB, o professor Saviani continua a defender a tese (expressa no Plano Nacional de Educação, vetado por FHC e mantido no limbo por Lula) que afirma a necessidade de destinar em torno de 10% do PIB para a educação de modo que o país possa superar seu histórico, inaceitável e crescente atraso cultural.


Saindo na frente dos possíveis crítico neoliberais de sua proposta, Saviani levanta uma questão interessantíssima que certamente merece uma reflexão: afirma que assim como a indústria automobilística foi, no passado, o motor do desenvolvimento no países do Atlântico Norte (apesar de todas as suas conseqüências negativas), o investimento prioritário em educação poderia constituir no Brasil, o motor de nosso desenvolvimento produtivo e social, não em função da balela do “capital humano”, mas sim em função da demanda agregada produzida por um pesado esforço educacional nacional conduzido pelo poder público.


No entanto, o que de mais fundamental e transcendente aparece na entrevista de Saviani, de meu ponto de vista, é a responsabilização do pensamento educacional hegemônico atualmente, fortalecido no contexto de um ambiente intelectual dominado pelo pós-modernismo, por uma grande parte de nossa crise educacional atual. Com seus ataques ao conteúdo científico das disciplinas escolares, ao papel dirigente dos professores no processo de ensino-aprendizagem, à autoridade da escola enquanto instituição formativa, e a sua função primordial de socialização de conhecimentos racionais universais, o pensamento educacional pós-moderno prepara o terreno ideológico para as mais reacionárias políticas de desescolarização (aberta ou disfarçada) promovidas pelos neoliberais, tais como a introdução do “ensino on-line” decretada por José Serra no ensino médio de São Paulo. Nós, professores, estudantes e cidadãos em geral que se importam com a educação neste país, precisamos estar preparados e organizados para defendermos a educação escolar, pois a cada dia ela sofre ataques mais violentos e devastadores.

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