quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Avançando para o passado?


A nomeação de Paul Volcker, um dos mais importantes homens de ação econômica da ortodoxia neoconservadora estadunidense, por Barack Obama para chefiar seu conselho econômico é um dos primeiros e mais significativos sinais de que a “mudança’ da qual Obama seria a principal expressão, não promete realmente ir muito além do simbólico (ainda que isto, por si só, não seja desprezível) e estabelecer uma ruptura efetiva com a política econômica de privilegiamento do grande capital monopolista levada ao extremo nos anos Bush.

Volcker deve ser lembrado como personagem-chave na deflagração da crise das dívidas externas latino-americanas quando, na direção do Federal Reserve, por meio de uma agressiva operação de elevação das taxas de juros, garantiu, com maestria, a transferência da maior parte das perdas causadas pelas crises do petróleo para cá, a periferia do capitalismo. Efetivamente, não foi possível na época – nem era esta a intenção básica – evitar o estabelecimento de um ambiente recessivo nos Estados Unidos, no entanto, os interesses e ganhos do setor financeiro daquele país foram habilmente defendidos.

Com a euforia imediata do momento pós-vitória eleitoral de Obama se dissolvendo, já é possível ouvir, com uma certa potência, as primeiras vozes indignadas - em meio à opinião pública democrata dos Estados Unidos - contra o possível “estelionato eleitoral” representado por Obama. Curiosamente, o tema relativo à possível frustração causada pela debilidade do mudancismo concreto da orientação política e econômica de Obama ficou ausente da grande mídia corporativa durante todo o processo de campanha eleitoral, mas, hoje, são os setores mais avançados da sociedade estadunidense que, incipientemente, começam a colocá-lo na arena de debates.

Nunca é demais lembrar a idéia de que a presente crise do capitalismo não trará automaticamente nenhuma solução progressista, ao contrário, a tendência principal é que o grande capital imponha às maiorias populares o ônus da crise. Isto tende a se manifestar em todas as latitudes, seja aqui com Lula ou lá com Obama, tanto em um caso como no outro é somente a vigilância cidadã e democrática que pode impedir que a direita saia fortalecida deste processo, ou seja, que avancemos em direção ao passado.

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