terça-feira, 4 de novembro de 2008

Camarada Marighella: pesente!


Neste dia de hoje completam-se 39 anos desde que foi assassinado, em um ardil promovido pelas forças da repressão política da ditadura empresarial-militar que se impôs ao país de 1964 a 1985, Carlos Marighella, um dos mais importantes heróis do povo brasileiro do século XX. Marighella, independentemente das nossas divergências em relação ao método estratégico do foquismo adotado pela Ação Libertadora Nacional (ALN) sob a sua direção, soube expressar muito do que havia de melhor na esquerda brasileira no período.


Combatendo as forças sociais e políticas da reação, foi preso durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. Com a reabertura, foi eleito para a Assembléia Nacional Constituinte, desenvolvendo intensa atividade em defesa dos interesses da classe trabalhadora e contra a subordinação do Brasil ao imperialismo, no entanto, a vida pública legal durou pouco e em 1948 volta, junto com o PCB à clandestinidade, agora para o resto da vida.


De um ponto de vista político-estratégico, já desde o final dos anos 50 começa a estabelecer o seus pontos de ruptura em relação à ortodoxia estalinista do PCB, tal ruptura se aprofunda definitivamente em 1964 e em 1967, na conferência da OLAS ( Organização Latino-Americana de Solidariedade) em Havana – para a qual se dirige como dissidente, contra a direção do PCB -, passa a seguir um caminho separado do “partidão”. Marighella vai percebendo, de maneira cada vez mais clara, o equívoco do ultra-pragmatismo do PCB resultante do alinhamento imediato com o governo da URSS e sua linha de colaboração com as “burguesias nacionais”.


No último período de sua trajetória política, Marighella recusa a capitulação do PCB à ditadura, disfarçada sob o manto da pragmática “oposição legal” ao regime de exceção, e organiza a luta armada contra o governo, o capital e pelo socialismo. Miseravelmente, a maior parte da esquerda brasileira (e internacional) se encontrava (como se encontra) enredada em uma série de concepções teórico-político-estratégicas seriamente equivocadas que não podiam, de fato, apontar o caminho mais correto a ser trilhado no contexto de uma dura e prolongada luta contra as forças organizadas do capital naquele momento. A ALN não foi exceção e pereceu, mas Marighella e os demais companheiros tombados nesta luta, souberam escrever mais uma página de heroísmo na história das lutas do povo brasileiro, e sua bravura plantou as sementes das grandes lutas de massa que contribuíram para por fim à ditadura posteriormente.


Segue abaixo um poema escrito por Marighella que, além de expressar a sensibilidade do homem que soube se entregar por toda a vida pela causa da justiça, do progresso e da liberdade, ainda – entendo eu – serve como um epitáfio para o combatente e um símbolo de horadez legado às novas gerações de socialistas.



Liberdade


Não ficarei tão só no campo da arte,

e, ânimo firme, sobranceiro e forte,

tudo farei por ti para exaltar-te,

serenamente, alheio à própria sorte.


Para que eu possa um dia contemplar-te

dominadora, em férvido transporte,

direi que és bela e pura em toda parte,

por maior risco em que essa audácia importe.


Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,

que não exista força humana alguma

que esta paixão embriagadora dome.


E que eu por ti, se torturado for,

possa feliz, indiferente à dor,

morrer sorrindo a murmurar teu nome.

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