Importante estudo dirigido pelo pesquisador peruano Alberto Chong dedicou-se a avaliar o impacto das telenovelas na sociedade brasileira. Importantíssima pesquisa que permite avaliar com objetividade o peso sócio-político da TV e , em consequência, permite impulsionar a reivindicação pela efetiva regulamentação e democratização dos meios de comunicação no Brasil. Segue abaixo a entrevista concedida por Alberto Chong à revista Época.
De que forma as telenovelas influenciaram a sociedade brasileira?
Durante o período da ditadura, os autores já viam nas novelas a oportunidade de lutar contra o sistema, apresentando novas ideias e valores. Há, de forma recorrente, a crítica à religião, ao machismo e ao consumo de luxo e a ideia de que a riqueza e o poder não trazem felicidade. A família está no centro dessas transformações. As novelas são um instrumento muito poderoso na formação de um modelo bastante específico de família: branca, saudável, urbana, bonita, consumista – e pequena.
Vem daí a explicação para a influência das novelas na queda da taxa de fertilidade?
Sim. A família pequena é uma imposição da produção, que tem limitações de elenco. Para que a história aconteça, são necessários pelo menos cinco ou seis núcleos. Então nenhum pode ser grande demais. Por um tempo essa família tão reduzida era irreal. Com o tempo, porém, a repetida exposição desse perfil influenciou fortemente na preferência por menos filhos e pelo custo financeiro mais baixo dessa escolha. Ao longo dos anos, essa queda na taxa de fertilidade foi caindo mais em áreas alcançadas pela televisão do que em áreas que não recebiam o sinal.
As mulheres são o público principal das novelas. Elas são mais influenciáveis por esse tipo de conteúdo?
Uma das ideias mais disseminadas pelas novelas, em todos os tempos, é, certamente, a emancipação feminina, junto com a entrada da mulher no mercado de trabalho. A busca do amor e do prazer pelas personagens femininas também é uma constante em qualquer trama – mesmo que ela tenha de cometer adultério, o que também é comum nas histórias.
No Brasil, de acordo com o IBGE, vem das mulheres a maior parte dos pedidos de divórcio. Quanto as novelas contribuem para isso?
Estudar o Brasil sob esse ponto de vista é interessante, porque os casos de divórcio aumentaram dramaticamente nas últimas três décadas. Estima-se que as taxas aumentaram de 3,3 em cada cem casamentos em 1984 para 17,7 em 2002, mais do que em qualquer outro país latino-americano.
Nosso estudo avança na hipótese de que os valores da televisão, mais precisamente das novelas, contribuíram de fato para esse aumento, principalmente a partir do momento em que no Brasil há um alcance desse tipo de programa como em nenhum outro país. A novela é, de longe, a maior atração da TV e é veiculada pela Rede Globo, que tem mantido um domínio quase absoluto do setor por cerca de três décadas.
Percebemos que, quando a protagonista de uma novela era divorciada ou não era casada, a taxa de divórcio aumentava, em média, 0,1 ponto porcentual. A mudança é positiva. A simples possibilidade do divórcio dá às mulheres a chance de igualdade de gênero no casamento e na distribuição do trabalho, dentro e fora de casa. Também diminui a violência doméstica, os homicídios e suicídios.
Há algum período da história das novelas no Brasil em que essa influência no comportamento tenha sido mais ou menos forte?
Acredito que as novelas tenham tido um impacto mais poderoso quando começaram a ser veiculadas em massa. O que corresponde aos anos 70, principalmente, muito mais que nos anos 90 ou nos dias de hoje. O público, aos poucos, vai se acostumando aos temas e à forma como a trama acontece. A audiência naquele tempo também era muito maior, refletindo-se na influência. Mas é fato que existe um efeito cumulativo e é sobre ele que focamos nossos estudos.
A padronização dos valores, de comportamentos e ideais que a televisão introduz é negativa?
É uma questão de perspectiva. As novelas, em especial da TV Globo, impõem um estilo de vida moderno e urbano que diminuiu as taxas de fertilidade e aumentou as de divórcio. Isso pode ser visto de forma positiva por um grupo e de forma negativa por outro.
O brasileiro é o povo mais influenciado por novelas na América Latina?
Não há evidências concretas em relação a isso, visto que não temos um estudo do impacto das novelas latinas como temos do caso brasileiro. Acredito que no México haja também certa influência, assim como em argentinos, peruanos ou venezuelanos.
Mas é indiscutível que no Brasil haja um fenômeno bastante particular não só nos valores e personagens que as telenovelas nacionais retratam, mas também na maneira com que elas são feitas – o ritmo, o tipo de diálogo, tudo é muito marcante e característico. A esse respeito, eu não ficaria surpreso se o impacto das novelas no Brasil fosse mais forte que em outros países.
Há como comparar a influência da novela no Brasil com a do cinema na sociedade americana?
Existem indicações claras de que os filmes americanos têm enorme impacto naquela sociedade. A questão da violência, por exemplo, é alvo de muitos estudos recentes. Mas acredito que essa influência tenha características próprias, e não há como fazer uma comparação com as novelas no Brasil.
Pode-se dizer que, no Brasil, a novela é o melhor canal para a difusão de ideias sociais?
Sim, acredito que seja o mais eficaz. Por isso esses estudos são tão importantes para os países em desenvolvimento. Nas sociedades em que a alfabetização é relativamente baixa e a leitura dos jornais é limitada, a televisão desempenha um papel crucial na circulação das ideias.
A televisão tem influência enorme em países como o Brasil, onde ainda há forte tradição oral. Nosso trabalho sugere que os programas orientados para a cultura da população local têm o potencial de atingir uma grande quantidade de pessoas com muito baixo custo e, portanto, poderiam ser usados por políticos para transmitir mensagens sociais e econômicas importantes — sobre aids, educação, direitos das minorias etc.
Estudos recentes feitos por psicólogos sociais realçam o papel dos meios de comunicação, rádio e telenovelas em particular, como uma ferramenta para a prevenção de conflitos. A nossa investigação sugere que esse instrumento funciona na formação das mais variadas políticas de desenvolvimento e deve ser aproveitado.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
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12 comentários:
Muito interessante a entrevista Maycon. Mas da para perceber o relativismo de fundo que orienta o diagnóstico sobre a importancia das novelas. "Se é bom ou ruim, depende da perpectiva.". E o mais engracado com relacao a isso foi realmente a afirmacao de que a preferencia das novelas, em comparacao com a leitura, tem a ver com nossa "tradicao oral". Como sempre, o argumento da tradicao, como o da cultura, serve para tirar o foco do processo de construcao social e política da tal "tradicao" ou cultura oral.Alias, um erro conceitual muito grave, porque oralidade implica que a transmissao direta, boca a boca seja o meio de comunicao, o que nao é o caso das novelas. A idéia de que nao se pode comparar com o cinema norte-americano é a pérola que fecha.
Muito boa a entrevista, você poderia explorar mais este tema em seu blog. Quais as maiores influências da sociedade brasileira.
É um entrenimento lixo com uma dramaturgia vagabunda.
Alienante
Imbecilizante
Escravizante
Doutrinador
O povo acredita que é cultura mas é destruicao de valores.
e aí roberto leia no meu blog pq estou escrevendo sobre as novelas meubog é luizricardosolux.blogspot.com
vlw
O AUTOR DA NOVELA "TEMPOS MODERNOS"DA REDE GLOBO ESTÁ EXAGERANDO COM O PERSONAGEM GILMAR.O QUE ELA FAZ COM AS SUAS VÍTIMAS É PURO SEQUESTRO E TERRORISMO.JÁ ULTRAPASSOU O LIMITE DO RAZOÁVEL EM DISSO AS PESSOAS ESTÃO TROCANDO DE CANAL QUANDO ELE APARECE.EU SOU UM DESTES.
FIM DE MAIS UMA NOVELA OU INÍCIO DE UM NOVO DELINGUENTE?
E mais uma vez a Globo nos deixa perplexo ao final de mais uma novela, isto é, deixa perplexo apenas as pessoas que tem algum discernimento, pois nossos jovens, frente tantas aberração estão apenas achando tudo muito natural, pois eles tem sido criados com isto à sua frente dentro de seu próprio lar e a naturalidade passa a ser seu aprendizado, mesmo que tal naturalidade seja torpe e isenta de qualquer realidade.
Não entendam este meu desabafo como obra de qualquer pastor fanático não que tais pastores estejam equivocados perante tais atos a deteriorar a formação de nossas crianças.
Como se já não bastassem tantas cenas e historias de mau exemplo como a deteriorização da família, exaltando as traições conjugais, e até muitas vezes sendo culminadas com tais traições entre pais e filhos, agora, como aconteceu nesta que acabou ontem, os personagens ruins da novela, os ditos vilões, responsáveis por tantas injustiças e crueldades durante todo o percurso da história, acabam tendo o mesmo fim feliz das vítimas deles, como que para premiar todas as maldades cometidas.
Não bastasse ainda tudo isto ainda criam personagens gays para todas as novelas, fazendo o papel dos melhores da trama, menosprezando assim os que levam uma vida em sua normalidade.
Por favor, não chamem isto de discriminação de minha parte, pois nunca tive nem um motivo contrário à aceitação deste em nosso meio, muito pelo contrário, até sou contrário a não aceitação destes por muitos, o que faz certo o sofrimento destes, mas daí a agir como que se fosse um incentivo ás nossas crianças com tanta propaganda desta opção sexual, que só acaba trazendo sofrimento a eles, para mim já é demais.
Será que a censura leva muito dinheiro para aprovar tais histórias absurdas?
Toda vez que surgem debates na TV sobre esta falta de seriedade, sempre aparece um (que certamente esta lá recebendo seu sustento por aquele canal) a dizer com todas as letras, “O seletor de canais da TV serve para ser usado quando não se gosta do programa”; Agora eu te pergunto esta resposta apagaria a responsabilidade de todo os programas ruins da TV?
Existem ainda outros canais que fazem propaganda do crime repetindo incansavelmente as mais famigeradas noticias, como se fosse isto algo prazeroso de se ver, e não algo a preencher a cabeça dos já propensos a esta prática a repetirem o mesmo crime “aprendido” na TV.
(Ivan Teorilang)
Caros interlocutores (virtuais) e caro Roberto Torres, saudações!
Não tenho o hábito de postar comentários em blogs; questões pessoais, nada contra. No momento, pesquiso a respeito do tema aqui, para palestrar sobre um outro. Nessa busca, deparei-me com a entrevista em debate. De todos os comentários, o de Roberto Torres foi o que mais me dispertou a atenção, justamente por se apresentar crítico à entrevista 'blogada'. Só acresceu valor à minha interpretação quando fiz minha leitura dela. Ótimo comentário, meu nobre Roberto, parabéns!
E por razões óbvias, decido compartilhar conhecimento com os demais 'blogueiros'. Com respeito às colocações contrárias, eis a qual posicionamento me disponho ser apologeta: Quando as emissoras de televisão abordam determinada temática, quase sempre estão a apresentar uma posição ideológica que na maioria das vezes se mostra tendenciosa. O roteiro geralmente é apelativo. Sempre estão a apontar ou indicar um caminho que pretendem seja seguido; a difundir uma filosofia comportamental a ser reproduzida; a promover estilos, estereótipos. A busca por imprimir conceitos e formar convicções no telespectador é quase imperceptível por quem 'vê' – e incansável por aquele que absorve. Padronizar comportamentos além de produzir, refazer ou desfazer valores torna-se um fator considerável. Jamais essencialmente elas se propõem a abrir um debate isonômico e democrático a respeito!
Forte Abraço a Todos!
TEXTO CORRIGIDO, FAVOR LER E CONSIDERAR ESTE.
Caros interlocutores (virtuais) e caro Roberto Torres, saudações!
Não tenho o hábito de postar comentários em blogs; questões pessoais, nada contra. No momento, pesquiso a respeito do tema aqui, para palestrar sobre um outro. Nessa busca, deparei-me com a entrevista em debate.
De todos os comentários, o de Roberto Torres foi o que mais me dispertou a atenção, justamente por se apresentar crítico à entrevista 'blogada'. Só acresceu valor à minha interpretação quando fiz minha leitura dela. Ótimo comentário, meu nobre Roberto, parabéns!
E por razões óbvias, decido compartilhar conhecimento com os demais 'blogueiros'. Com respeito às colocações contrárias, eis a qual posicionamento me disponho ser apologeta:
Quando as emissoras de televisão abordam determinada temática em suas telenovelas, quase sempre estão a apresentar uma posição ideológica que na maioria das vezes se mostra tendenciosa. O roteiro geralmente é apelativo. Sempre estão a apontar ou indicar um caminho que pretendem seja seguido; a difundir uma filosofia comportamental a ser reproduzida; a promover estilos, estereótipos.
A busca por imprimir conceitos e formar convicções no telespectador é quase imperceptível por quem ‘vê’ – e incansável por aquele que veicula. Padronizar comportamentos além de produzir, refazer ou desfazer valores torna-se um fator considerável.
Jamais essencialmente elas se propõem a abrir um debate isonômico e democrático a respeito!
Abraço a Todos!
Super reflexiva a sua matéria, obrigada!
ESTOU ORORIZADA,C/ O PAPEL DE GLORIA PIRES NA NOVELA COMO NORMA.
O PAPEL DEMOSTRA QUE NORMA É MAIS BAIXA E SUJA DO QUE "LEONARDO".TDS TEM DIREITOS DE REERGUER A VIDA C/ONESTIDADE E VENCER UM DIA.NO ENTANTO ELA DEVE É VOLTA P/CADEIA.
Por nada, Rejane, eu é que sou grato por sua atenção, obrigado! Se desejar, me siga no meu BLOG, lá eu teço mais temas interressantes: argumentoemdebate.blogspot.com
...Lá eu teço mais temas interessantes.
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