sábado, 16 de maio de 2009

Emir Sader, o PT e o capital financeiro

Emir Sader é um ilustre representante daquele setor da intelectualidade progressista que, ainda que mantendo uma concepção claramente anti-neoliberal da política e da economia, mantém-se identificado com o PT e com o governo Lula. No último artigo publicado no seu blog, o professor Sader defende um programa de controle do capital financeiro com subordinação do Banco Central e fortalecimento do mercado interno com distribuição de renda e expansao do emprego como forma de fortalecer a posição do país no contexto da crise.

Algumas questões importantes se colocam para todos aqueles que como o professor Emir Sader apontam no sentido do enfrentamento aos interesses do grande capital mas se mantém vinculados ao projeto partidário do PT. Há no petismo contemporâneo alguma possibilidade de superar, internamente, a orientação impressa por aqueles que trouxeram Henrique Meirelles para o Banco Central? Se esta possibilidade existe, ela é capaz de se expressar no governo atual ou na candidatura governista para 2010? Esperar que os Mercadantes, Paloccis e Genoínos imponham o controle governamental nacional-desenvolvimentista sobre o Banco Central, sobre os fluxos de capital financeiro e sobre os interesses do grande capital em geral, não é mais ou menos o mesmo, ou talvez menos realista, do que esperar que o vereador petista de Campos use o seu mandato a favor de um projeto político efetivamente democrático, popular e progressista?

Se a resposta às duas primeiras questões é negativa e à terceira é positiva, temos que colocar claramente para os companheiros e companheiras progressistas que se mantém no PT que a saída é pela esquerda. Nós do PSoL estamos de braços abertos para receber todos aqueles que querem trilhar de verdade o caminho da luta pela democracia e pela justiça social no país e no município. Segue abaixo o artigo do professor Sader.

Aprender com a crise e sair mais fortes

Uma crise, que não foi gestada aqui, nos atinge profundamente. Por que, como defender-nos dela e que lições tirarmos? Como sair mais fortes dela? A primeira lição é localizar e combater as fragilidades que permitem que uma crise nascida lá fora penetre tão fundo na nossa economia. As vias de indução da crise são duas: o peso do capital financeiro e o do mercado externo na economia.

A desregulamentação levada a cabo pelas políticas neoliberais promoveu uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo ao especulativo, ao mesmo tempo que fez com que a economia dependesse desses capitais, que passaram a ter um poder de veto sobre a economia. As crises neoliberais – incluídas as três do governo FHC – assumiram a forma de ataques especulativos, em que o capital financeiro se vale do papel estratégico que passou a ter, para desequilibrar a economia, para obter ainda mais concessões.

Nesta crise, o capital financeiro foi o canal indutor da crise externa para a economia brasileira. A regulação da sua circulação torna-se obrigatória, para limitar sua capacidade de ação negativa sobre a economia. Da mesma forma que é fundamental subordinar o Banco Central – cuja independência de fato e as taxas de juros reais mais altas do mundo expressam a força o capital financeiro – ao conjunto de prioridades econômicas e sociais do governo.

A fortíssima recessão internacional induziu para nossa economia uma grande retração da demanda externa. Os países participantes dos processos de integração regional sofrem menos a crise, porque diversificaram seu comércio internacional – para a Europa, para a Ásia, para o comercio intrarregional – e expandiram o mercado interno de comercio popular. (O México, que assinou Tratado de Livre Comércio com os EUA e tem com esse país 90% do seu comércio exterior, é a maior vítima da crise, já apelou ao FMI.)

A via para defender-nos dessa vertente é diminuir o peso do mercado externo e das exportações, aumentando o peso do mercado interno de consumo e os intercâmbios regionais, que estão mais ao nosso alcance controlar. Fortalecer o mercado interno de consumo popular associa estreitamente a expansão econômica com a distribuição de renda sobre suas diferentes formas – elevação do poder aquisitivo real dos salários, do nível de emprego formal, entre outras. Nenhum apoio a empresas privadas sem contrapartida indissolúvel de garantia do nível de emprego.

Atuando dessa maneira, estaremos agindo contra as duas mais nefastas conseqüências das políticas neoliberais: a financeirização da economia e a precarização das relações de trabalho. Sair mais fortes da crise significa atuar contra esses efeitos, bloquear a possibilidade de sofrer outras crises como esta ou a sequência de uma crise que deve se prolongar muito lá fora.

Essas medidas, junto a um conjunto de outras, significa, concretamente dar passos claros na direção de um novo modelo econômico e de um projeto de sociedade e de Estado com um perfil muito distinto – na verdade, contraposto – ao neoliberal. Sair fortalecidos da crise – na realidade, poder sair da crise – é sair com um padrão de desenvolvimento distinto, produtivo, distribuidor de renda, integrador, soberano

O neoliberalismo nos levou a esta crise. Pelas bolhas especulativas que se acumularam e finalmente explodiram no centro do capitalismo. Somos vítimas da propagação dessa crise, pelas fragilidades que o neoliberalismo produziu na nossa economia. Sairemos mais fortes, na medida em que sairmos do modelo neoliberal e passemos a construir um modelo pósneoliberal, centrado na esfera social e nos direitos, no lugar do mercado e do ajuste fiscal, fortalecendo a esfera pública em detrimento da esfera mercantil.

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