domingo, 31 de maio de 2009

Os anti-democráticos defensores da “democracia”

Já foi possível escrever neste espaço o quanto o capitalismo contemporâneo vai se tornando progressivamente incompatível com uma democracia que vá além de ser um simples mecanismo para formar governos por meio do voto. O grande capital, para garantir a manutenção de um “regime democrático” cada vez mais domesticado aos seus interesses de classe exclusivos precisa avançar contra as efetivas liberdades democráticas das maiorias populares e dos críticos da ordem.

No contexto da crise econômica mundial na qual estamos mergulhados, esta tendência autoritária e tecnocrática da burguesia se reforça. De um ponto de vista internacional, os representantes políticos intelectuais e políticos do grande capital têm voltado suas baterias ao ataque contra as experiências democráticas na América Latina, em especial na Venezuela, buscando afirmar que qualquer democracia que vá além, em termos de soberania popular, dos métodos pasteurizados da poliarquia do capital não é, verdadeiramente, democracia mas “populismo”, um termo tão indefinido como “terrorismo” e manejado politicamente pelos mesmos setores.

A não tão recente intervenção do rei espanhol, herdeiro da sanguinária ditadura de Franco, ordenando que o presidente da Venezuela se calasse causou êxtase entre os anti-democráticos defensores da “democracia”. Há poucas semanas atrás, no entanto, a grande mídia fez questão de manter nas sombras a autoritária medida do governo espanhol que jogou arbitrariamente na ilegalidade uma lista de candidatos às eleições ao Parlamento Europeu. A Iniciativa Internacionalista, lista encabeçada por Alfonso Sastre, um dos maiores escritores vivos no mundo, foi jogada na ilegalidade por meio de uma operação jurídica que pretende calar toda e qualquer iniciativa crítica à gestão capitalista da sociedade – e da crise econômica – e que represente, no âmbito do Estado espanhol, as nacionalidades oprimidas dos bascos, galegos e etc.

Graças a um vultoso movimento internacional de apoio à legalidade da Iniciativa Internacionalista, a ilegalização operada pelo ministério do interior espanhol foi revertida. Este é mais um evento que faz lembra de um raciocínio clássico da socialista revolucionária alemã Rosa Luxembrg. Rosa afirmava, ainda nas primeiras décadas do século XX que não era fundamentalmente o futuro do movimento operário e popular que dependia do futuro da democracia, mas sim o futuro da democracia que dependia do futuro do movimento operário e popular.

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