domingo, 31 de maio de 2009

Os anti-democráticos defensores da “democracia”

Já foi possível escrever neste espaço o quanto o capitalismo contemporâneo vai se tornando progressivamente incompatível com uma democracia que vá além de ser um simples mecanismo para formar governos por meio do voto. O grande capital, para garantir a manutenção de um “regime democrático” cada vez mais domesticado aos seus interesses de classe exclusivos precisa avançar contra as efetivas liberdades democráticas das maiorias populares e dos críticos da ordem.

No contexto da crise econômica mundial na qual estamos mergulhados, esta tendência autoritária e tecnocrática da burguesia se reforça. De um ponto de vista internacional, os representantes políticos intelectuais e políticos do grande capital têm voltado suas baterias ao ataque contra as experiências democráticas na América Latina, em especial na Venezuela, buscando afirmar que qualquer democracia que vá além, em termos de soberania popular, dos métodos pasteurizados da poliarquia do capital não é, verdadeiramente, democracia mas “populismo”, um termo tão indefinido como “terrorismo” e manejado politicamente pelos mesmos setores.

A não tão recente intervenção do rei espanhol, herdeiro da sanguinária ditadura de Franco, ordenando que o presidente da Venezuela se calasse causou êxtase entre os anti-democráticos defensores da “democracia”. Há poucas semanas atrás, no entanto, a grande mídia fez questão de manter nas sombras a autoritária medida do governo espanhol que jogou arbitrariamente na ilegalidade uma lista de candidatos às eleições ao Parlamento Europeu. A Iniciativa Internacionalista, lista encabeçada por Alfonso Sastre, um dos maiores escritores vivos no mundo, foi jogada na ilegalidade por meio de uma operação jurídica que pretende calar toda e qualquer iniciativa crítica à gestão capitalista da sociedade – e da crise econômica – e que represente, no âmbito do Estado espanhol, as nacionalidades oprimidas dos bascos, galegos e etc.

Graças a um vultoso movimento internacional de apoio à legalidade da Iniciativa Internacionalista, a ilegalização operada pelo ministério do interior espanhol foi revertida. Este é mais um evento que faz lembra de um raciocínio clássico da socialista revolucionária alemã Rosa Luxembrg. Rosa afirmava, ainda nas primeiras décadas do século XX que não era fundamentalmente o futuro do movimento operário e popular que dependia do futuro da democracia, mas sim o futuro da democracia que dependia do futuro do movimento operário e popular.

sábado, 30 de maio de 2009

Sejamos a mudança que queremos!

A festa de lançamento do PSOL em Campos que se realizaria ontem teve de ser adiada em função de alguns elementos de “força maior”, entre eles a chuva que caiu durante todo dia e noite. No entanto, podemos afirmar que foi coroado de êxito o evento promovido no IFF com os deputados Chico Alencar, federal, e Marcelo Freixo, estadual, que marcou também o início das atividades públicas do partido no município.

Com o auditório repleto, lotado por um público entusiasmado e majoritariamente jovem, foi possível aos parlamentares discorrer a respeito do tema que centralizou o debate, a criminalização da pobreza, os direitos humanos e a democracia. Tendo suas trajetórias político-parlamentares caracterizadas pela luta a favor dos direitos humanos e da radicalização democrática, Chico Alencar e Marcelo Freixo puderam apresentar aos presentes uma interpretação da realidade cotidiana frontalmente oposta àquela disseminada pelos donos do poder simbólico que, a partir das corporações empresariais midiáticas, controlam e manipulam a “opinião publicada”, para usar um termo caro ao companheiro Chico, que não é necessariamente a mesma coisa que a opinião pública.

Além da rica e longa experiência militante do companheiro Chico Alencar, foi também a ousadia, a coragem, e a inflexibilidade do companheiro Marcelo Freixo em sua luta sem tréguas contra o genocídio institucionalizado das maiorias marginalizadas e contra a corrupção do aparato estatal que prendeu a atenção de todos e manteve o auditório cheio por mais de duas horas. Na verdade, o relato do momento atual da vida do deputado Marcelo Freixo, ameaçado de morte por diversos esquemas do crime organizado, mais ou menos instalados no aparato público, funcionou como uma verdadeira lufada de ar fresco em relação à visão de mundo e à concepção ética sombria dominante entre os jovens de Campos e do Brasil, de acordo com as quais a desmoralização social ampla tornou impossível a conduta coerente, justa e reta dos indivíduos frente a uma realidade deformada.

Somos, todos nós que estamos nos dedicando à construção do PSOL em Campos dos Goytacazes, profundamente gratos à contribuição que os companheiros Chico Alencar e Marcelo Freixo deram, com suas presenças e intervenções, neste momento em que iniciamos nossa atividade pública municipal. Nosso contexto local, marcado pela corrupção endêmica, pela mais aguda desigualdade social, pela voraz apropriação privada do poder público e por diversas formas de criminalização da pobreza, entre elas, a subordinação das massas aos esquemas de compra e venda (criminosas) de votos, exige uma mudança que seja uma ruptura real com o status quo.

Não vemos o PSOL dotado de uma tarefa messiânica, mas sim como um instrumento político e organizativo que se coloca, e se colocará em Campos, a serviço da maioria, lutando por uma economia que produza e distribua de modo justo a riqueza, por uma política transparente, democrática e ética e por uma vida social baseada na solidariedade, lutando, afinal, do local ao global, pelo processo de construção do socialismo e da liberdade.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

PSOL em Campos II

A Festa de lançamento do PSOL em Campos teve alguns elementos reajustados. Em primeiro lugar, é com imensa satisfação que informamos que o deputado estadual Marcelo Freixo também estrá presente ao evento juntamente com o companheiro Chico Alencar, da bancada federal de nosso partido.

Em segundo lugar, informamos que o evento não se realizará na Faculdade de Medicina de Campos, mas sim na sade do SINASEFE - sindicato dos servidores da educação báscica federal - na Rua Álvaro Tâmega, entre o restaurante Paparazzi e o SESC, no Parque Tamandaré, no mesmo dia 29/05 às 19:00 hs. Aguardamos todos lá!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Não nos calamos: diretas já nas esolas e creches!

Na última assembléia do SEPE-Campos ficou decidida a petição para uma audiência pública na Comissão de Educação a respeito da questão das eleições diretas para direção de escolas e creches municipais. Todos nós que estávamos na assembléia entendemos que esta reivindicação é essencial para uma correta gestão da educação pública. Particularmente, ficou clara a necessidade de dotar de maior densidade a argumentação em defesa das eleições diretas nas unidades de ensino.

Neste sentido, pretendo dar uma contribuição ao fortalecimento desta reivindicação - que cresce em força política e já incomoda sensivelmente os que operam o modelo de gestão anti-democrático e clientelista nas escolas e creches do município - trazendo para o debate a lucidez, a erudição e a firmeza do professor Demerval Saviani, em minha opinião, o maior especialista na questão educacional em atividade no país.

Em sua obra de 1989, "Educação: do senso comum à consciência filosófica", Saviani define o papel do diretor de escola da seguinte maneira, "(...) é preciso dizer que o diretor de escola é antes de tudo, um educador; antes de ser um administrador ele é um educador. Mais do que isso (...), ele deveria ser o educador por excelência dado que, no âmbito da unidade escolar, lhe compete a responsabilidade máxima em relação à preservação do caráter educativo da instituição escolar (...); sua ação se dirigiria, então, no sentido de subordinar e adequar as prescrições administrativas à finalidade educativa colimada no interior da escola."

Havendo definido o papel do diretor de escola, Saviani avança para indicar que, em função da natureza distinta das exigências que partem da lógica da administração governamental, por um lado, e da lógica educacional da unidade escolar, por outro lado, "(...) poderíamos mesmo dizer que um diretor será tanto mais educador quanto maior o grau de autonomia que mantém em relação às exigências do 'sistema' , subordinando suas formas aos conteúdos educativos". Ora, não há forma mais adequada de garantir a autonomia necessária ao caráter de educador do diretor de escola, frente às exigências impostas pela administração governamental, que não passe pelo direito da comunidade escolar eleger o seu diretor ou diretora.

Saviani escreve este texto em 1979, em pleno contexto do regime ditatorial, e vai evidenciar as contradições inevitáveis entre as exigências deste tipo de governo e as necessidades próprias à atividade educacional. Apesar de não estarmos vivendo uma ditadura, evidentemete é anti-democrática, também, a lógica política que está por trás do mecanismo de nomeações dos diretores e diretoras de escolas e creches em Campos, e este caráter anti-democrático estabelece a presente crise. A analogia entre as duas situações é bastante interessante e, por isto, vejamos as palavras de Saviani, : "a crise decorre do fato de que as exigências da 'administração superior' emergem como incompatíveis com a atividade educativa e vice-versa".

De acordo com o que o que traz ao debate o pensamento de Demerval Saviani, a crise estabelecida em função da contradição entre as exigências anti-democráticas e clientelistas da administração municipal e as exigências educativas das escolas e creches, precisa ser resolvida. Não tenhamos dúvidas, esta luta tem de ser lutada, mas não será fácil vencê-la. Estamos enfrentando o núcleo duro do esquema político montado na cidade, baseado na troca de apoio político por nomeações na máquina pública. Se não será facil, por outro lado, nossa vitória pode abrir caminho para outras, que devem apontar no sentido da devolução ao público do que é público no município de Campos.

terça-feira, 19 de maio de 2009

PSoL em Campos

Já foi apontado muitas vezes na blogosfera campista o caráter profundo e crônico da crise sócio-política que assola o município de Campos dos Goytacazes. Este espaço virtual mesmo já se dedicou mais de uma vez a analisar, identificando, as causas fundamentais que explicam o quadro atual da política, da economia e da vida social, em sentido amplo, em Campos.

O modelo político corrupto e clientelista que é responsável pelo fato de Campos estar situado entre os municípios com piores indicadores sociais do estado do Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, ser nacionalmente conhecido pelo imenso volume de recursos financeiros que recebe através do pagamento de royalties relativos à exploração do petróleo, tem suas bases na estagnação econômica do município (e o conseqüente peso desproporcional dos cofres públicos na vida econômica municipal) e a precariedade extrema das condições de vida a que estão submetidas as amplas maiorias populares campistas.

Se, por um lado, as facções políticas rivais que lutam pelo controle do orçamento público se mantém à cabeça da vida política do município graças à utilização corrupta e clientelista do quadro de estagnação econômica reinante e de extrema miséria da maioria da população, por outro lado, a própria estagnação econômica e a precariedade material do povo são reproduzidas pelo fato de que são as facções políticas corruptas e clientelistas que se mantém no controle do poder público municipal.

Diante da situação que está dada em Campos, fica claro que o avanço das condições econômicas e sociais do município depende de uma ruptura real com o modelo político vigente que somente se realizará com a derrota das facções corruptas de empresários da política que o sustentam. Para tanto é necessário que todas e todos os campistas honestos e decentes não percam sua capacidade de se indignar com os crimes diários que são cometidos contra o presente e o futuro do município por parte daqueles que pensam que o poder público de Campos é parte de seu patrimonial pessoal ou familiar.

A todas e todos aqueles que se recusam a parar de sonhar e acreditar em um futuro diferente e melhor para a cidade, com progresso econômico, justiça social e ética na política; a todas e todos aqueles que não perderam a digna capacidade de questionar e criticar aquilo que é sabidamente errado e injusto, fica aqui o convite para participar conosco da construção de uma alternativa política para o município e o país, a construção do PSoL (Partido Socialismo e Liberdade) em Campos dos Goytacazes.

Tendo sido formado por aqueles militantes que não aceitaram compactuar com as escolhas e rumos tomados pelo PT e pelo governo Lula, com os “mensalões” e com a manutenção das velhas estruturas políticas e econômicas do país, o PSoL surge na vida brasileira como um novo partido contra a velha política. Profundamente comprometido com a verdadeira democratização da sociedade, com os interesses e necessidades dos trabalhadores e de todo o povo, e com o combate frontal contra a apropriação privada do patrimônio público, o PSoL chega a Campos para ser uma alternativa real a todas e todos os que acreditam firmemente que o município pode e deve ter um futuro à altura de suas potencialidades. Construa conosco o PSoL e vamos mudar o sombrio panorama da Campos que não queremos para realizar a Campos que merecemos.

Festa de lançamento do PSoL na sexta-feira, dia 29/05 às 20:00 hs, na Faculdade de Medicina de Campos (área de lazer da Sociedade Fluminense de Cirurgia e Medicina), com a presença do deputado federal pelo PSoL do Rio de Janeiro, o companheiro Chico Alencar.

domingo, 17 de maio de 2009

Petrobrás e questão nacional

A Petrobrás ocupa o centro da questão política nacional desde antes de sua fundação na década de 1950. É possível demarcar dois claros campos políticos que se definem em relação à sua posição diante da petrobrás e seu papel na economia e na soberania nacional. A aliança formada, basicamente entre o PSDB, as Organizações Globo e a Editora Abril, que impulsiona a CPI da Petrobrás no Senado, não possui um histórico de defesa desta empresa, ao contrário, sempre constituiu um bloco vigoroso em defesa de sua fragmentação e privatização.

Interessa a todos os brasileiros democráticos e progressistas que a gestão da Petrobrás seja transparente, até para que os interesses dos seus acionistas privados e estrangeiros, não se sobreponha aos interesses públicos nacionais, tal como vem acontecendo em diversos planos. Na verdade, interessa à sociedade brasileira que a Petrobrás volte a constituir um patrimônio 100% público e nacional, principalmente diante da descoberta do Pré-sal. No entanto, é importante perceber que a instalação desta CPI no Senado e sua amplificação midiática, estão servindo, para a aliança anti-nacional descrita mais acima, ao propósito de tentar matar dois coelhos com uma cajadada só: o governo e a Petrobrás.

Segue abaixo a entrevista que foi publicada originalmente pelo Correio da Cidadania em janeiro deste ano, com Fernando Siqueira, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás. Fica claro o histórico destes agentes que hoje se proclamam verdadeiros "cruzados" em defesa da Petrobrás contra a gestão atual. Deixo claro que aqui não expresso uma posição de defesa ao governo federal e nem de seu papel a frente da Petrobrás, existem inúmeras críticas a se fazer a respeito da gestão lulo-petista da Petrobrás e da questão do petróleo, em sentido mais amplo, mas, trata-se aqui de desautorizar a frente Tucana-Globo-Veja como suposta defensora deste patrimônio público brasileiro.


Correio da Cidadania: No último mês de 2008, vieram a público informações a respeito de empréstimos que a Petrobrás vem tomando da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. Os comentários acerca do tema são exageros e tais operações podem ser consideradas rotina de uma empresa de tal porte. Ou será que há sinais de que a estatal estaria passando por dificuldades em suas contas?

Fernando Siqueira: A meu ver, todo este estardalhaço do noticiário faz parte de uma nova campanha de descrédito da Petrobrás perante a opinião pública, visando a desacreditá-la como capaz de desenvolver a produção do pré-sal, uma descoberta monumental, que tem reservas seis vezes maiores que as existentes até hoje. Já vimos esse filme...

Em 1995, houve forte participação da mídia na defesa da quebra do Monopólio Estatal do Petróleo. Foi montada uma campanha sórdida na mídia contra as estatais em geral e a Petrobrás em especial. A Veja, por exemplo, na ocasião fez uma matéria de dez páginas atacando a empresa com informações absurdamente falaciosas e não respeitou o direito de resposta nem mesmo como matéria paga, desrespeitando o artigo 5º da Constituição.

No caso presente, essas operações financeiras são feitas como de rotina, mas receberam um destaque na mídia muito maior do que, por exemplo, o caso da americana AES, que na privatização adquiriu a Eletropaulo com dinheiro do BNDES, remeteu lucro para o exterior e não pagou a dívida com o Banco.

Portanto, é uma operação de rotina da Petrobrás usada como pretexto para uma nova campanha da grande mídia que faz o jogo dos seus anunciantes, ou seja, as corporações multinacionais.

Outro fato: em 1999, FHC substituiu seis diretores da Petrobrás no Conselho de Administração (CA) por seis conselheiros do setor privado, alguns representantes do sistema financeiro internacional, ficando o CA com nove membros externos. Este CA decidiu por uma economia forçada na empresa, cortando promoções e até despesas com papel higiênico. Objetivo: tentar mostrar ao povo que a empresa está com dificuldades financeiras e não pode conduzir o pré-sal.

CC: A partir dos empréstimos, começou a se aventar que na verdade o problema da Petrobrás é administrativo, pois foram anos colhendo grandes lucros, com importantes negócios inclusive fora do país. Esse raciocínio pode ser considerado válido?

FS: Eu não diria que a atual administração tem a competência ideal, pois além da permanência da maioria do segundo escalão do governo FHC, há alguns gerentes nomeados mais por militância do que por competência. Mas, ainda assim, ela consegue ser muito melhor do que as administrações de Reichstul e Francisco Gros.

Durante a gestão Reichstul, a Petrobrás teve 62 acidentes sérios em dois anos, contra uma série histórica de menos de um acidente grave por ano de 1975 a 1998. Este fato, inclusive, nos levou a suspeitar de sabotagem para jogar a opinião pública contra a Petrobrás. E, a partir de nossas denúncias, os acidentes cessaram. O objetivo era desmoralizar a empresa para desnacionalizá-la. Reichstul chegou a mudar seu nome para Petrobrax com esse objetivo. Ele também desmontou a equipe de planejamento estratégico da Petrobrás, entregando-o à empresa americana Arthur De Little, presidida por seu amigo Paulo Absten. E esta fez um planejamento catastrófico. Definiu a ida para o exterior e a compra de ativos podres na Bolívia, Argentina e Equador como problemas. Ele dividiu a Petrobrás em 40 unidades de negócio para desnacionalizá-la, conforme preconizado pelo Credit Suisse First Boston.

Francisco Gros, segundo sua biografia publicada em revista da Fundação Getulio Vargas, voltou ao Brasil como diretor do banco Morgan Stanley com a missão de assessorar as empresas americanas no processo de privatização brasileiro. Gros foi para a diretoria do BNDES (que comandou o processo) e acumulava a direção daquele banco com o Conselho de Administração da Petrobrás. Com a saída de Reichstul, ele assumiu a presidência da empresa e, em discurso em Houston (EUA), logo após a posse, declarou que a Petrobrás passaria de empresa estatal para empresa privada de capital internacional. Nós barramos esse seu intento. Mas outro grande estrago foi feito.

CC: Quanto aos acidentes, o ano começou com o surgimento de outro tema preocupante: a morte de um funcionário, terceirizado, na Bacia de Campos. Desde 95, são 273 mortes, sendo 220 de pessoas ligadas a empresas prestadoras de serviços; em 2008, foram 15 os acidentes fatais. O que pode ser dito desses números e das condições de trabalho dos funcionários, especialmente daqueles que realizam as tarefas de maior margem de risco?

FS: A terceirização é outro problema sério. Faz parte do plano de ataque à integridade da Petrobrás. Além disto, é uma exploração da mão-de-obra de pessoas que, em sua maioria, são usadas para dar lucro a gigolôs de mão-de-obra. Essas pessoas não têm a menor garantia, como encargos sociais, treinamento ou planos de saúde. De modo geral, são contratados via cooperativa ou são obrigados a criar uma empresa para que os encargos sociais e impostos sejam reduzidos.Lembro que quando o Credit Suisse First Boston coordenou a venda da YPF argentina para a Repsol, antes da privatização, a YPF passou de 37.000 para 7.000 empregados, contratando os demitidos como terceirizados. O mesmo banco entregou ao governo Collor um plano de privatização da Petrobrás. Consistia em vender as subsidiárias e dividir a holding em novas subsidiárias para privatização. Terceirizar era parte do plano.

Collor começou o processo. Itamar Franco, nacionalista, o interrompeu, mas FHC o retomou, tendo elaborado projeto de lei que cria subsidiárias sem ouvir o Congresso e dividido a Petrobrás em 40 unidades de negócio para transformá-las em subsidiárias e privatizá-las. Começou com a Refap do Rio Grande do Sul e pretendia fazer o mesmo com as demais 39 unidades. Parou porque, junto com os dirigentes do Sindipetro-RS, ganhamos uma liminar que suspendeu o processo.

CC: O desligamento do instituto Ethos, pedido pela Petrobrás no final do ano passado, acabou gerando muitas críticas à empresa, que por sua vez também saiu disparando contra os governos de São Paulo e Minas, acusando-os de conspirar contra a imagem da estatal. Ter adiado a adequação do combustível aos padrões ambientais exigidos não consiste em uma atitude negativa para a imagem da empresa?

FS: Há informações da própria Petrobrás de que o Instituto Ethos fazia uma campanha insidiosa contra a empresa. Dizia, por exemplo, que a poluição da cidade de São Paulo era devida ao teor de enxofre no diesel, o que não procede. A poluição é formada por poeira, ozônio e outras partículas. Muito pouco tem a ver com enxofre.

Diz a empresa: `O diretor da Petrobrás classificou de `desinformada e irreal` a crítica de que a empresa não teria se preparado para fornecer o diesel S-50`. Ele destacou os investimentos realizados nas refinarias, no total de US$ 4 bilhões, que permitirão à empresa produzir o diesel. Atualmente, o produto está sendo importado. O diretor ressaltou que somente o fornecimento de um diesel menos poluente não será suficiente para resolver os problemas de qualidade do ar das grandes cidades. Ele chamou atenção para a presença de veículos antigos na frota brasileira, além do tráfego elevado nas grandes cidades, como elementos que devem ser levados em conta. `Não basta só o combustível`, afirmou.

Outra questão é que o Instituto alegava que a Petrobrás não cumpria a resolução 315 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) que regulava o teor de enxofre; segundo a empresa, não existe uma resolução do Conama que regule o índice de enxofre no diesel.`A Procuradora do Ministério Público Federal (MPF), Ana Cristina Bandeira Lins, destacou a iniciativa da Petrobrás em cumprir o acordo com o MPF. Ela esclareceu que a resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente regulamentava as emissões nos veículos com tecnologia P-6, que não estarão disponíveis no mercado brasileiro`.

Lembro que a gestão do PSDB governando o país foi responsável pela quebra do monopólio do petróleo, pela venda de 36% das ações da Petrobrás na Bolsa de Nova York por menos de 10% do seu valor real. Elaborou o projeto de lei e fez com que o Congresso aprovasse a famigerada lei do petróleo (a Lei 9478/97) que contraria a Constituição, dando a propriedade do petróleo a quem o produz. Além disto, fixou a participação da União na produção de petróleo entre 10 e 40%, quando no mundo os países exportadores recebem a média de 84% de participação e os da OPEP, 90%.

O governo do PSDB vendeu a Vale do Rio Doce por valor menor do que um milésimo do valor dos ativos e direitos minerários que ela detinha. Ou seja, o PSDB não gosta da Petrobrás. Nem do Brasil.

CC: Quais são as projeções de investimento para 2009, em meio à queda do preço do petróleo e às expectativas quanto ao pré-sal?

FS: Segundo o presidente Gabrielli, em entrevista ao portal G1, de 22/12/2008, os investimentos de 2009 crescerão de R$ 50 bilhões para R$ 72 bilhões. Entretanto, o planejamento estratégico da empresa, que inclui o pré-sal, ainda não foi fechado, tendo sido adiado para o final de janeiro. A queda atual do petróleo é temporária. O viés é de alta, em face de estarmos atingindo o pico de produção mundial.

Acho até que a atual crise mundial foi triplamente oportuna para os EUA:1) o dólar estava despencando mundialmente, pois todos os países descobriram que, após a decisão unilateral de Nixon em 71, desobrigando o lastro-ouro para cada dólar emitido, havia US$ 3 trilhões emitidos; e foram emitidos mais 45 trilhões após 71, sem qualquer garantia. A débâcle do dólar quebraria o país (os emitentes de dólar são o Banco Central americano - o FED - e suas 12 filiais – todas privadas). A crise levou os investidores para os títulos do tesouro americano, ressuscitando o dólar;2) Os EUA importam cerca de 5 bilhões de barris de petróleo por ano. A crise derrubou o preço do barril dando um enorme alívio à sua economia;3) Os EUA estão montando um esquema de pressão e lobby para obter o pré-sal, tendo até reativado a 4ª frota. Com a queda brutal dos preços esse trabalho fica mais fácil, porque os brasileiros passam a achar o pré-sal inviável e reduzem o interesse e a mobilização em defesa dessa imensa riqueza, cada vez mais estratégica e mais escassa.

CC: Um assunto que parece ainda inevitável para este ano é o que se refere ao atual marco regulatório do petróleo. Será necessária a mobilização popular contra o lobby em favor dos estrangeiros ou o governo poderá dar conta de realizar as alterações desejadas pelos setores mais nacionalistas e prometidas pelo próprio Lula sem essa mobilização?

FS: O governo precisa muito da participação popular na defesa do nosso petróleo. Ele vem sofrendo pressões terríveis contra a mudança do marco regulatório, altamente pernicioso para o país. Há duas fontes poderosíssimas comandando esse lobby:1) Os Estados Unidos, que consomem cerca de 10 bilhões de barris por ano e só têm 29 bilhões de reservas. O pré-sal representa para eles cerca de 9 anos de consumo;2) O cartel internacional do petróleo, formado pelas sete irmãs, e que domina o setor há 150 anos com todo tipo de ações pouco recomendáveis, como suborno, deposição e assassinato.

Agora esse cartel está vendo ameaçada sua sobrevivência pelo fato de suas reservas minguarem para apenas 3% das reservas mundiais, contra 65% em poder das 8 `irmãs` estatais: Saudi Aramco (Arábia Saudita), INOC (Irã), Petrochina, Petronas (Malásia), Gazprom (Rússia – renacionalizada), Petrobrás, PDVSA (Venezuela) e Pemex (México). O Financial Times publicou matéria que prevê menos de 5 anos de vida ao cartel se a situação de suas reservas permanecer assim. Eles não vão aceitar esta morte facilmente.

Há, portanto, um lobby pesado pela manutenção do marco regulatório, que favorece muito os EUA e o cartel das irmãs. Ocorreram quatro audiências públicas e seminários no Senado Federal em 2008. Cada um com cerca de cinco mesas. Cada mesa com pelo menos dois lobistas. Estavam lá nomes como: João Carlos de Luca, presidente da Repsol (empresa espanhola adquirida pelo banco Santander - braço do Scotland National Bank Corporation, de capital Anglo-Saxão); David Zilberstajn - ex-diretor da ANP, que iniciou os leilões dotando os blocos de áreas 220 vezes maiores que os blocos licitados no Golfo do México; Eloi Fernandes, idem a Zilberstajn; Adriano Pires, lobista do Instituto Liberal, criado pela Shell para ajudar a derrubar o monopólio do petróleo; Jean Paul Prates, idem a Adriano. E muitos outros.

Nós enviamos uma carta ao Senado reclamando nossa participação como contraditório. Numa das audiências nos concederam cinco minutos para falar. O lobby é poderoso.

Gabriel Brito é jornalista; Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

Publicado originalmente: (Correio da Cidadania - 20-Jan-2009)

sábado, 16 de maio de 2009

Uma crítica necessária


O silêncio e a impotência da maior parte da opinião pública diante do projeto de reformulação currícular que o MEC pretende impor (e este é o termo) à educação básica brasileira foram rompidos na semana passada pelo imprescindível pronunciamento do deputal federal Ivan Valente (PSol-SP) no plenário da Câmara dos Deputados. O caráter superficial, demagógico e autoritário do projeto é desvelado completamente. Segue abaixo a íntegra do prinunciamento.

Boa leitura!



“ Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na última segunda-feira os jornais noticiaram que o MEC pretende alterar o currículo do ensino médio, acabando com sua organização por disciplinas. A proposta do governo é distribuir o conteúdo das atuais 12 matérias em quatro grupos: 1) línguas 2) matemática 3) humanas e 4) exatas e biológicas. O Ministério justifica tal mudança sob o argumento de que o currículo hoje é muito fragmentado e o aluno não vê aplicabilidade no programa ministrado, o que reduz o interesse do jovem pela escola e a qualidade do ensino. Essa é mais uma proposta que reforça a convergência das políticas educacionais do governo Lula com as de FHC e dos governos estaduais tucanos. Estamos vivenciando ações semelhantes a essa no Estado de São Paulo, onde o Governo Serra vêm impondo uma proposta curricular que retira completamente a autonomia da escola, tanto no aspecto organizativo quanto didático, transformando professores em meros executores de atividades e transmissores de conteúdos apostilados, rígidos e descontextualizados e que reduz a formação de nossos estudantes à preparação para provinhas, provões e toda ordem de testes e exames.


Ao propor esta mudança na forma de organizar os conteúdos, sem debater amplamente com todos os setores envolvidos e numa perspectiva de resolver problemas pela imposição de modelos, o MEC desconsidera que o currículo escolar é o resultado de uma construção social que diz respeito a práticas, saberes, vivências, elementos da cultura global e ao contexto no qual a escola está inserida, indo, portanto, muito além da simples seleção e agrupamento de conteúdos.


Sem dialogar com aqueles que são os responsáveis pelo currículo vivo no cotidiano escolar, essa proposta se tornará uma medida meramente burocrática, incapaz de se enraizar nas práticas escolares e muito menos de avançar na solução dos problemas relacionados à qualidade do ensino.


Mas esse é apenas um aspecto do problema, pois é mais uma medida fragmentada, que trata a questão curricular de forma isolada, ao invés de compreender o assunto a partir de um projeto de educação nacional, de um projeto que articule e integre os diferentes elementos que compõe o sistema educacional. Como a União não pode impor o sistema, pois os Estados são os responsáveis por este nível de ensino, a proposta será implantada através de incentivos financeiros e técnicos, e deverás e valer de instrumentos baseados em exames, como Prova Brasil, ENEN e o novo sistema de vestibular para forçar a reorganização das redes segundo este novo modelo.


Mais uma vez o governo prioriza a organização de um sistema de avaliação ao invés de assumir a construção de um Sistema Nacional de Educação, reivindicação histórica dos movimentos em defesa da escola pública.


Esse ajuntamento de conteúdos em novos grupos, não ataca problemas cruciais de nossas escolas: a superlotação das salas de aula, a falta de equipamentos, a falta de pessoal de apoio, os baixos salários e ausência de carreiras estruturadas para os profissionais, a falta de qualidade nos cursos de formação de professores, a insuficiência dos recursos financeiros, a falta de autonomia, entre outros. Ao contrario avança num modelo de escola, voltada para atender a demanda de avaliações externas e processos vestibulares, dentro de uma lógica meritocrática e competitiva que inegavelmente pressupõe a desigualdade e a exclusão de grande parte da população, aos moldes da visão do mercado.


Essa fragmentação das ações e projetos fica ainda mais evidente quando o governo propõe medidas como esta e as mudanças propostas para o vestibular e ao mesmo tempo, tardiamente, inicia o processo de construção de uma Conferência Nacional de Educação que teoricamente deveria ser o momento central na definição de um projeto para a educação nacional. Como ficam os apelos para que a sociedade tome parte de um processo real de construção de um sistema e de planos para a educação nacional? Isto é muito contraditório e nos leva e questionar o quanto a sociedade organizada poderá, de fato, intervir na definição das políticas educacionais a partir da Conferência Nacional de Educação.Este modelo fragmentado, imposto de forma arbitrária, vem sendo levado a cabo há quase duas décadas no Brasil e seus resultados já deixaram claro sua ineficácia e incompetência para garantir a necessária qualidade na educação brasileira.


A questão que se coloca como maior justificativa para essa proposta é a necessidade de integração entre as diversas áreas do conhecimento para dar um sentido prático e concreto aos conteúdos ensinados. Ora, isso não trás nenhuma novidade, já de muito tempo essa necessidade se apresenta nas produções acadêmicas, em pesquisas e estudos, mas principalmente na organização dos projetos político-pedagógicos da grande maioria das escolas, que se esforçam para desenvolver um trabalho interdisciplinar que mantenha relação direta com o cotidiano dos alunos.


Mas, que condições foram dadas às escolas para que isso ocorresse? Como os professores podem organizar-se coletivamente para dar conta dessa tarefa, se trabalham em várias escolas? Como desenvolver projetos a médio e longo prazo se existe uma alta rotatividade de profissionais a cada ano letivo? Como articular os conhecimentos entre as diversas disciplinas se os professores não têm garantido o tempo de trabalho pedagógico coletivo? Como ele pode desenvolver um projeto se o seu tempo é ditado por uma série de provas e exames, que o obrigam a transformar suas aulas em treino para provinhas? Como articular as diferentes áreas do conhecimento se é obrigado a utilizar apostilas que desconsideram a diversidade e as diferenças regionais?


É importante sim uma ampla e aprofundada discussão sobre o currículo de nossas escolas, mas isso não pode ocorrer de forma isolada da discussão de todos os outros aspectos de um verdadeiro projeto de educação para o Brasil, e principalmente não podemos nos calar diante dessas ações que tentam achar soluções mágicas para os problemas da educação, sempre de forma fragmentada, ao mesmo tempo em que evitam tocar em questões cruciais como financiamento, a responsabilidade do Estado e a garantia da educação como um direto de todos.


Muito obrigado.


Deputado Ivan Valente

Emir Sader, o PT e o capital financeiro

Emir Sader é um ilustre representante daquele setor da intelectualidade progressista que, ainda que mantendo uma concepção claramente anti-neoliberal da política e da economia, mantém-se identificado com o PT e com o governo Lula. No último artigo publicado no seu blog, o professor Sader defende um programa de controle do capital financeiro com subordinação do Banco Central e fortalecimento do mercado interno com distribuição de renda e expansao do emprego como forma de fortalecer a posição do país no contexto da crise.

Algumas questões importantes se colocam para todos aqueles que como o professor Emir Sader apontam no sentido do enfrentamento aos interesses do grande capital mas se mantém vinculados ao projeto partidário do PT. Há no petismo contemporâneo alguma possibilidade de superar, internamente, a orientação impressa por aqueles que trouxeram Henrique Meirelles para o Banco Central? Se esta possibilidade existe, ela é capaz de se expressar no governo atual ou na candidatura governista para 2010? Esperar que os Mercadantes, Paloccis e Genoínos imponham o controle governamental nacional-desenvolvimentista sobre o Banco Central, sobre os fluxos de capital financeiro e sobre os interesses do grande capital em geral, não é mais ou menos o mesmo, ou talvez menos realista, do que esperar que o vereador petista de Campos use o seu mandato a favor de um projeto político efetivamente democrático, popular e progressista?

Se a resposta às duas primeiras questões é negativa e à terceira é positiva, temos que colocar claramente para os companheiros e companheiras progressistas que se mantém no PT que a saída é pela esquerda. Nós do PSoL estamos de braços abertos para receber todos aqueles que querem trilhar de verdade o caminho da luta pela democracia e pela justiça social no país e no município. Segue abaixo o artigo do professor Sader.

Aprender com a crise e sair mais fortes

Uma crise, que não foi gestada aqui, nos atinge profundamente. Por que, como defender-nos dela e que lições tirarmos? Como sair mais fortes dela? A primeira lição é localizar e combater as fragilidades que permitem que uma crise nascida lá fora penetre tão fundo na nossa economia. As vias de indução da crise são duas: o peso do capital financeiro e o do mercado externo na economia.

A desregulamentação levada a cabo pelas políticas neoliberais promoveu uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo ao especulativo, ao mesmo tempo que fez com que a economia dependesse desses capitais, que passaram a ter um poder de veto sobre a economia. As crises neoliberais – incluídas as três do governo FHC – assumiram a forma de ataques especulativos, em que o capital financeiro se vale do papel estratégico que passou a ter, para desequilibrar a economia, para obter ainda mais concessões.

Nesta crise, o capital financeiro foi o canal indutor da crise externa para a economia brasileira. A regulação da sua circulação torna-se obrigatória, para limitar sua capacidade de ação negativa sobre a economia. Da mesma forma que é fundamental subordinar o Banco Central – cuja independência de fato e as taxas de juros reais mais altas do mundo expressam a força o capital financeiro – ao conjunto de prioridades econômicas e sociais do governo.

A fortíssima recessão internacional induziu para nossa economia uma grande retração da demanda externa. Os países participantes dos processos de integração regional sofrem menos a crise, porque diversificaram seu comércio internacional – para a Europa, para a Ásia, para o comercio intrarregional – e expandiram o mercado interno de comercio popular. (O México, que assinou Tratado de Livre Comércio com os EUA e tem com esse país 90% do seu comércio exterior, é a maior vítima da crise, já apelou ao FMI.)

A via para defender-nos dessa vertente é diminuir o peso do mercado externo e das exportações, aumentando o peso do mercado interno de consumo e os intercâmbios regionais, que estão mais ao nosso alcance controlar. Fortalecer o mercado interno de consumo popular associa estreitamente a expansão econômica com a distribuição de renda sobre suas diferentes formas – elevação do poder aquisitivo real dos salários, do nível de emprego formal, entre outras. Nenhum apoio a empresas privadas sem contrapartida indissolúvel de garantia do nível de emprego.

Atuando dessa maneira, estaremos agindo contra as duas mais nefastas conseqüências das políticas neoliberais: a financeirização da economia e a precarização das relações de trabalho. Sair mais fortes da crise significa atuar contra esses efeitos, bloquear a possibilidade de sofrer outras crises como esta ou a sequência de uma crise que deve se prolongar muito lá fora.

Essas medidas, junto a um conjunto de outras, significa, concretamente dar passos claros na direção de um novo modelo econômico e de um projeto de sociedade e de Estado com um perfil muito distinto – na verdade, contraposto – ao neoliberal. Sair fortalecidos da crise – na realidade, poder sair da crise – é sair com um padrão de desenvolvimento distinto, produtivo, distribuidor de renda, integrador, soberano

O neoliberalismo nos levou a esta crise. Pelas bolhas especulativas que se acumularam e finalmente explodiram no centro do capitalismo. Somos vítimas da propagação dessa crise, pelas fragilidades que o neoliberalismo produziu na nossa economia. Sairemos mais fortes, na medida em que sairmos do modelo neoliberal e passemos a construir um modelo pósneoliberal, centrado na esfera social e nos direitos, no lugar do mercado e do ajuste fiscal, fortalecendo a esfera pública em detrimento da esfera mercantil.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Obras, emergências e financiamento de campanha

Os últimos movimentos da prefeita Rosinha, que dispensou de licitação a contratação de duas empreiteiras ligadas diretamente a importantes apoiadores de sua campanha eleitoral, em função de uma suposta situação de emergência no município, abre espaço para um debate absolutamente fundamental no momento.

Certamente o município de Campos vive uma situação de emergência, e ela diz respeito à manutenção da ocupação do poder público por parte de facções políticas que tratam o orçamento e o conjunto da coisa pública como assunto privado. Esta situação de emergência exige, ao contrário das recentes operações da máquina municipal, uma observância rigorosa dos procedimentos legais e morais para a execução de todas as ações do poder público, como as contratações e concessões.

Salta aos olhos a necessidade de se promover uma verdadeira democratização do poder público, estabelecendo mecanismos de efetivo controle democrático dos governados sobre os governantes, sem os quais continuaremos submetidos, no município e no país, a todo tipo de perversão política anti-popular. No momento em que o debate sobre a reforma política vêm a público, com todas as posições divergentes que o constituem, dois pontos básicos devem estar firmemente estabelecidos.

Em primeiro lugar, a reforma a ser realizada deve ir além da questão meramente eleitoral, deve estabelecer fundamentos para uma democratização real da sociedade brasileira por meio de uma democratização do poder político. Em segundo lugar, no que diz respeito especificamente à questão eleitoral, é urgente pôr fim à promiscuidade da relação entre o interesse econômico privado e os representantes eleitos e, neste sentido, o estabelecimento do financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais representa, sem a menor sombra de dúvidas, um avanço notável.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Diretas para diretor!

Amanhã ao meio-dia será lançada, no calçadão do centro de Campos, a campanha do SEPE pelas eleições diretas para diretor de escolas e creches da rede municipal. É importante que possamos garantir que o ato conte com uma presença maciça, resultado de uma mobilização na base da categoria, para dar densidade à reivindicação. Todos ao calçadão. Eu também quero votar!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Festa, feijão e samba

Nós, integrantes da Chapa 4 que concorre à eleição do SEPE Campos, convocamos a todos os leitores e leitoras a comparecerem à festa que estamos promovendo neste sábado (dia 09/05) no Salão do Sindicato dos Bancários (na Rua Aquidaban, quase em frente ao Apaloosa) a partir das 13:00 hs.

Nossa festa será um grande encontro regado a feijoada e samba de verdade (tocado pelo espetacular Grupo Ébano) aberto a todos os velhos e novos amigos e amigas. O ingresso custa R$ 8,00 e dá direito a um bom prato de feijoada, e ainda nos ajuda a custear nossa campanha.

A sua presença para nós é fundamental. Nos vemos por lá. Um grande abraço!

sábado, 2 de maio de 2009

Um ano de Razão e Crítica

Hoje completa um ano do início das atividades do blog, e registrar esta data significa, aqui, não uma iniciativa de auto-celebração, mas sim, um momento de agradecimento a todos aqueles e aquelas que por aqui passaram neste ano. A manutenção do blog tem sido uma riquíssima experiência que tem contribuído profundamente para a minha formação enquanto indivíduo, cidadão e professor, e isto graças às diversas e imprescindíveis participações de todos os que colaboram debatendo, criticando, polemizando e apoiando este espaço. Um agradecimento sincero a todos

Força à blogosfera campista!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Primeiro de maio e a atualidade do socialismo


Neste Dia Internacional dos Trabalhadores, celebrado no ano em que se completam 50 anos da vitória da Revolução Cubana e 60 anos da Revolução Chinesa, é conveniente e necessário fazer uma reflexão a respeito da atualidade do socialismo, a causa da classe trabalhadora, nestes tempos de crise global do capitalismo.

Se a derrocada, na ex-União Soviética e leste europeu, dos regimes totalitários de partido único e economia burocraticamente planificada conhecidos como “socialismo real”, no início da década de 1990, foi anunciada pelos arautos da “nova ordem” que se construía como o sepultamento definitivo do projeto socialista, a crise econômica estrutural do capitalismo mundial que vivemos hoje, por sua vez, traz novamente o socialismo para o centro do debate público, como resultado do próprio movimento da realidade social.

Marx, já em seu tempo, havia dito que o comunismo não era uma bela e bem projetada construção ideal a ser imposta à realidade, mas, ao contrário, a saída humanista para as crescentemente graves contradições colocadas na realidade social pelo desenvolvimento da ordem social capitalista.

O socialismo – ou comunismo – não apareceria na história como uma tentativa de reinventar de modo arbitrário as formas de vida social dos seres humanos, apareceria sim como uma superação progressista dos impasses colocados na realidade pelos limites inerentes à irracionalidade da ordem capitalista. Ali onde o capitalismo colocasse os limites para o desenvolvimento das formas de vida propriamente humanas, o socialismo apareceria como uma alternativa de desenvolvimento para além do capital.

Os imperativos anti-humanos impostos à realidade pelas exigências da ordem capitalista já foram capazes de produzir duas guerras mundiais, o nazi-fascismo, o colonialismo, as ditaduras latino-americanas, o neoliberalismo e outros fenômenos de signo negativo da mesma ordem, a presente crise econômica global já vêm cobrando o preço do desemprego em massa, da regressão social nos países capitalistas centrais e na periferia, e da expropriação criminosa dos recursos públicos para salvar o capital parasitário que se locupletou com a orgia financeira das últimas duas décadas.

A superação dos entraves colocados na realidade pelas necessidades do capital, como o avanço das fronteiras da esfera pública por sobre os domínios até há pouco incontestes do privado na economia, na forma de nacionalização de bancos e grandes empresas industriais, realizada, ainda que de forma contraditória e incoerente, no coração do sistema capitalista global, aponta para o horizonte socialista de possibilidades que se configura no presente. Hoje, tal como no passado, vale a célebre reflexão: socialismo ou (mais) barbárie!

Nosso continente latino-americano, depois de sofrer as maiores agruras do neoliberalismo selvagem da década de 90, se encontra na vanguarda do processo de formulação prática de alternativas sociais à ordem que se encontra em crise. As ricas e complexas experiências político-sociais que vêm se desenvolvendo no continente, com seu epicentro na Venezuela, Bolívia e Equador, não caminham inevitavelmente para o socialismo, mas, efetivamente, abrem possibilidades reais neste sentido.

O fato concreto é que as novas constituições dos três países citados, construídas por amplos e massivos processos de mobilização popular, dotadas de conteúdo profundamente democrático, bem como o questionamento prático à soberania do capital expresso em uma série de medidas e ações governamentais levadas a cabo por lá, apontam a saída em direção ao futuro. Neste dia primeiro de maio devemos ressaltar novamente a atualidade do projeto socialista como única alternativa aos custosos impasses colocados para a humanidade pelas exigências da ordem capitalista, isto significa, consolidar o império do público por sobre os restritos interesses e privilégios do privado, a consolidação da verdadeira democracia e o estabelecimento real do conceito de res publica (coisa pública) em todos os âmbitos da vida social, incluindo a economia, onde ele sempre foi impedido de entrar.

Privatização da educação carioca!

O projeto de lei enviado pelo governo de Eduardo Paes à Câmara Municipal do Rio de Janeiro que entrega a gestão das escolas públicas a organizações privadas do "terceiro setor", e que constitui uma iniciativa verdadeiramente criminosa de privatização da educação pública no município carioca, foi aprovado por uma ampla maioria de vereadores naquela casa. Dos 50 vereadores, 39 votaram a favor do projeto de lei enviado pelo Executivo, em um amplo arco político que vai dos "verdes" amigos de Gabeira (Sirkis e Aspasia Camarago) até a filha da prefeita campista, Clarissa Garotinho.

Diante do ocorrido e no contexto das eleições para o SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação), uma pergunta não quer calar: como se posicionam os campanheiros do PT e do PC do B, que buscam se apresentar como uma alternativa responsável e pragmática de direção para o sindicato da categoria, frente ao fato de seus partidos integrarem o secretariado do privatista governo Paes?