A situação político-social na cidade de Campos se tornou tão problemática, precária e, chegaria mesmo a dizer, desesperadora, que importantes setores da camada da sociedade campista dotada de maior formação cultural resolveram embarcar na lógica da auto-ilusão em relação às potencialidades progressistas do governo da Sra. Garotinho.
É possível identificar com alguma clareza dois elementos determinantes fundamentais que explicam o adesismo destes setores à candidatura Rosinha. De um lado, está a rejeição ao asqueroso esquema clientelístico-corrupto estabelecido no governo municipal, cujo representante eleitoral era o adversário da Sra. Garotinho. Por outro lado, está o ultra-pragmatismo que transforma o palpável e imediato no único fundamento da realidade, o que exclui qualquer estratégia política de mais largo prazo da agenda. A principal conseqüência deste ultra-pragmatismo é reduzir o político ao eleitoral, e o eleitoral às circunstância dadas no momento imediato.
Dentro de um ambiente político-cultural marcado por uma associação entre ultra-pragmatismo e rejeição à situação estabelecida, a única alternativa considerada viável é aquela que está imediatamente dada, independentemente de seus vícios concretos e notórios. Quando o “rouba mas faz” é considerado um avanço pelo qual se empenhar diante do “rouba mas não faz” estabelecido, mesmos as promessas e clichês mais repetitivos expressos pelas figuras políticas mais intensamente submetidas ao crivo da prática e da experiência concretas, e reprovadas neste plano, conseguem ganhar uma aura de novidade e mobilizar esperanças em torno de si.
As drogas da ilusão que entorpeceram importantes setores da sociedade campista que poderiam ser a base de um processo de verdadeira transformação político-social na cidade são os frutos amargos de uma atmosfera político-cultural asfixiante e tóxica. Diante do fato consumado da eleição da Sra. Garotinho, do deslocamento político – ao menos imediatamente – da facção adversária, e da impressionante massa de cidadãos que se negaram a participar deste processos eleitoral que, tal como estava dado no segundo turno, expressava os piores vícios da cidade (quase 70 mil eleitores se abstiveram, votaram nulo ou em branco), é preciso manter engatilhadas as armas da crítica, pois o entorpecimento causado pelas drogas da ilusão podem fazer a cidade perder a pouca capacidade de questionamento, vigilância e reivindicação que produziu até aqui.
Um comentário:
Pois é, precisamos nos organizar por aqui!
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