O recente debate que foi retomado a nível local em referência ao projeto de reconstrução do PT campista começa a dar frutos bastante interessantes, nem mesmo que seja relativamente ao aprofundamento do debate político de fundo nas searas campistas. Em um artigo recente, coloquei publicamente minha posição, que agora reitero, de não estar a favor da campanha de reconstrução do PT como meta tático-estratégica no sentido da construção de uma alternativa política progressista no âmbito municipal. Minha posição eu explico em função de dois argumentos principais que detalharei abaixo.
Em primeiro lugar, entendo que o PT se tornou incapaz de representar as necessidades da maioria da sociedade brasileira, ao abandonar definitivamente um projeto político progressista, democrático e popular, pela incorporação de pressupostos liberais, encarados como naturais ou universais, no âmbito de sua concepção de prática política e de gestão pública. Como afirmei em outro artigo, mesmo antes do governo Lula – em cuja defesa o PT caminhou mais ainda para uma adequação à ordem político-social vigente – o PT já havia tornado seus os princípios políticos do liberalismo e a renúncia a qualquer superação do ordenamento social imposto não apenas pelo capital em geral, mas pelo capital em sua forma contemporânea de consolidação, dirigido pelas exigências do setor financeiro.
Os principais porta-vozes petistas, dos setores mais honestos do partido, seja a nível nacional ou local, se lançam na defesa do governo Lula afirmando que não se pode cobrar de um governo que em oito anos reverta a trajetória histórica construída no país em 500 anos, a lógica deste argumento, apesar de persuasiva está, no entanto, equivocada. O que os setores da esquerda socialista, entre os quais me incluo, exigem do governo não é romper com 500 anos de história, mas com os 10 anos anteriores, de reorientação neoliberal da sociedade brasileira, ela mesma, uma ruptura profunda com o fecundo período anterior de largas conquistas populares, inclusive, expressas na constituição de 1988.
O maior problema em relação ao PT diz respeito ao fato de que no processo de defesa do governo Lula, incorporou como seus, além dos pressupostos políticos liberais, e de uma concepção geral baseada na inevitabilidade da supremacia da arbitragem financeira nacional e internacional, na definição da política econômica, também a funesta perspectiva neoliberal no tocante à política social. Para fugir do senso comum e do debate puramente ideológico, é importante esclarecer os seus termos.
O neoliberalismo, na prática, não é a eliminação completa da proteção social estatal, mas sim o combate ao modelo social-democrata de proteção social (não-mercantil, universalista e distribuidor de renda) e a apologia ao modelo estadunidense, baseado na mercantilização dos serviços públicos, na negação do universalismo e na focalização na extrema pobreza, o que traz como conseqüência, concentração de renda. A ênfase lulista no Bolsa Família às custas da precarização de serviços como saúde e educação, não deixa dúvidas com relação à adesão do governo Lula à concepção neoliberal (estadunidense) de política social.
É importante, neste momento em que o debate político local, principalmente em torno do PT, vai ganhando fôlego, não perder de vista as relações reais, de responsabilidade, que existem entre o partido e o governo Lula, sua principal base de referência. Uma das áreas do governo em que fica mais evidente a relação de sintonia entre PT e Lula é a educação. O ministro Fernando Haddad, não só é um importante quadro político do PT, como foi celebrado por grande parte do partido, até a algum tempo atrás, como um excelente nome à sucessão de Lula. É aqui que reside justamente o problema, porque o ministério da educação, ao lado do Banco Central, pode ser considerado um dos baluartes mais importantes da concepção de mundo neoliberal no governo.
O PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) elaborado pelo ministério da educação sob a direção de Haddad, traz em si o que há de mais avant-garde em política educacional neoliberal: a noção de responsabilização (ou, no original em inglês, accountability). A política de responsabilização, incorporada no PDE, se baseia no pressuposto de que a crise educacional tem sua origem na questão da gestão e não na questão do financiamento. Ou seja, não faltaria dinheiro, faltaria uma boa aplicação do dinheiro disponível. Este primeiro pressuposto é repugnantemente falso no Brasil, onde pouco mais de 3% do PIB é aplicado em educação, enquanto que em países como os EUA e os países europeus, este percentual gira em torno dos 10%.
Os promotores da política de responsabilização entendem que para resolver a crise educacional (que seria, exclusivamente, uma crise de gestão) é necessário promover a competição entre as unidades educacionais pelos recursos do governo. Aqui, o poder público abre mão da responsabilidade pela política educacional, tornando-se um mero avaliador, e transfere toda a responsabilidade pela educação aos profissionais do ensino que devem, por isto, receber prêmios ou punições pelos resultados de suas respectivas unidades escolares. Não há nenhuma crítica significativa oriunda das fileiras do PT a esta nefasta concepção de política educacional incorporada no PDE do ministro Haddad. Haveria alguma diferença entre PT e governo com relação ao tema? Com a palavra, os companheiros...
A política de responsabilização, que se expandiu internacionalmente a partir da iniciativa do governo Bush nos Estados Unidos, é a expressão maior da visão de mundo dos setores financeiros aplicada à política educacional. A idéia da “boa governança corporativa” e da arbitragem financeira, dois pilares da concepção financeira de mundo social, resumem-se, basicamente e respectivamente, às noções de que as empresas devem estar subordinadas diretamente aos interesses e ao controle dos acionistas (contra os dirigentes executivos e trabalhadores) e de que empresas e governos tornam-se mais eficientes e racionais quando subjugados às demandas e exigências impostas pelos livres fluxos de capital financeiro.
Ora, a política de responsabilização não é outra coisa senão a transferência para a política educacional dos pressupostos da “boa governança corporativa” e da arbitragem financeira desenvolvida pelos financistas internacionais. Ao se transferir tais pressupostos, em si mesmos reacionários, à política educacional, os seus resultados tendem a ser absolutamente catastróficos porque faz perder completamente de vista o que é de fato a educação, não uma mercadoria disponibilizada aos “clientes” em função dos fluxos imponderáveis da competição mercantil, mas sim um direito inalienável de todas as pessoas, fundamento indispensável de uma sociedade que se quer democrática.
Ao lado da política de responsabilização expressa no PDE, outro elemento da política educacional levada adiante pelo MEC de Fernando Haddad que se encontra afinado com o que de há de mais “up to date” no pensamento neoliberal é o Pro-Uni, o programa que disponibiliza bolsas de estudo em faculdades e universidades privadas para estudantes de baixa renda. O Pro-Uni funde a noção de que política social é algo que deve estar voltado exclusivamente aos setores mais empobrecidos da sociedade (às custas dos serviços públicos universais, que vão se precarizando) com a política educacional do voucher. Tal política parte do princípio de que o poder público não precisa fornecer educação escolar aos cidadãos, devendo, ao contrário, entregar diretamente às famílias o dinheiro necessário para que elas comprem no mercado de escolas privadas (entendidas como essencialmente mais eficientes que as públicas) a “mercadoria educacional” que lhes convém.
O principal resultado do Pro-Uni tem sido, em primeiro lugar, uma brutal transferência de recursos públicos às instituições de ensino superior privadas que, ao mesmo tempo, precarizam cada vez mais a qualidade do ensino oferecido, e, em segundo lugar, a consolidação do modelo que garante educação superior pública de qualidade aos setores sociais privilegiados que conseguem passar pelo crivo do vestibular, e educação superior privada de péssima qualidade aos setores de origem popular, promovendo uma imagem inversa do que vemos na educação básica.
Estas são questões que precisam ser problematizadas pelos militantes e dirigentes do PT antes que se proponham, novamente, como uma força política capaz de representar uma ruptura com as concepções políticas reacionárias que têm sido impostas ao Brasil, seja a nível federal, seja a nível local. O debate surgido daí pode ser extremamente enriquecedor para o conjunto da sociedade, pois a partir dele ficará definitivamente claro para todos, se o PT pode, ou não, ser considerado uma alternativa política à altura dos anseios progressistas dos setores mudancistas da população brasileira e, especialmente, neste caso, campista.
Um outro argumento que explica minha oposição ao projeto de reconstrução do PT como estratégia para uma transformação progressista da política municipal, passa pela compreensão de que nenhum partido político, por si, seria capaz de promover as mudanças necessárias a nível local sem contar com a colaboração concreta de um amplo movimento político-social capaz de exercer, institucional e extra-institucionalmente, a pressão necessária a construção de uma nova hegemonia, ou seja, a hegemonia de um novo projeto de município. A iniciativa promovida, neste momento, pelo professor Hamilton Gracia da UENF, ainda que incipiente, está muito mais próximo do que entendo como necessário no atual momento, do que a reconstrução do PT, ou, dito de outro modo, da tentativa de ressuscitar os mortos.
16 comentários:
Caro Maycon,
Resumir o processo de acumulação de poder político a esfera neoliberal protagonizada pela era FFHHCC, como se fosse um acontecimento estanque da História é um grave erro, na minha modesta opinião...
FFHHCC só foi "possível" por esse acúmulo realizado nos outros 500 anos anteriores, e as forças hegemônicas que lhe deram sustentação, de uma forma ou de outra, sempre estiveram representadas no jogo do poder, mesmo que ele se apresente sob novos formatos, ou seja: escravocrata, velha república, ditadura Vargas, Redentora, etc, etc...
Se entendermos, e estabelecermos um consenso que o governo Lula, pelo menos, estancou a verticalização e concentração da renda nacional, o que nos permite em um futuro próximo apontar para as mudanças necessárias para redimensionar as bases da divisão de riqueza desse país, acredite: já estarei satisfeito, pois será uma tarefa inédita e significativa...
Repito: o pt sofre e sofrerá com o processo de incorporação(aparelhamento) no governo, e não nos iludamos: a parte que prevalece é aquela capaz de interagir com as forças conservadoras que integram o espectro político-institucional que estruturam o Estado brasileiro....
Se seria desejável fazer alianças com setores progressistas e implementar as mudanças exigíveis...? Claro...mas pergunto: onde estão essas forças...? o que elas detêm de representatividade que possam fornecer o estofo político necessário a governabilidade...?
Ou vc defende o fechamento do Congresso...?
Xacal, farei algumas considerações sobre suas questões:
1- Não é possível estabelecer um consenso mínimo em torno do suposto estancamento da concentração da renda brasileira no governo Lula porque isto não é verdade. Segundo os dados do próprio Ipea, divulgados por seu presidente, podemos constatar um aumento da concentração e renda nos últimos anos, ainda que com a redução da pobreza extrema (promovida através da distribuição da renda da classe média, principalmente).
2– Não serão possíveis quaisquer mudanças significativas e de fundo neste país, se os canais utilizados forem exclusivamente os canais institucionais. Isto não significa negar a democracia, ou mesmo a luta institucional, mas, ao contrário, articulá-la com a luta extra-institucional, ou seja, com a mobilização de massas. Nossos inimigos de classe subverteram completamente os princípios institucionais estabelecidos pela constituição de 1988, estuprando-a e desfigurando-a, valendo-se de seu principal meio extra-institucional: a corrupção. Lembremos sempre que a democracia é a soberania popular e não , como querem os cínicos representantes da elite do capital, um conjunto frio e abstrato de mecanismos formais. Devemos estar à altura das necessidades de nosso povo.
Um abração!
Caro Maycon,
Me prenderei a segunda parte de sua réplica...Sobre a primeira já discutimos exaustivamente, e bem sabes minha opinião...
Fico um pouco confuso quando vc, fiel a seus valores e sua ética respeitável, coloca toda sua "fé" em uma democracia popular "soberana", que a seu ver, estaria à salvo dos "vícios" do formalismo institucional que nos governa atualmente...
Creio que as "vontades soberanas das massas" podem ser tão corruptas quanto esses formalismos, e não há, em meu raso entendimento, um senso "puro", uma "vontade imaculada" da população, a espera de um vanguardismo revolucionário igualmente sacrossanto...
Sabe bem vc que a corrupção não é uma mal em si...ela é ferramenta de mediação de conflitos e necessidade...são "atalhos"...
Nem de longe faço aqui a defesa desse mal, mas sabemos, também, que não há saída para prevenir que essas distorções se "legitimem" sem a defesa das instituições formais e republicanas...
O que penso é: se considerarmos a eleição e o governo de Lula um avanço sobre a era FFHHCC, estamos autorizados a pensar que o avanço pode continuar se trabalharmos para solidificar as conquistas já alcançadas...
Lembremo-nos que só há 20 anos recomeçamos a eleição direta para presidente, e não é exagero dizer que a democracia institucional e a república não esgotaram suas possibilidades por aqui...
um abraço, e boa folia para vc, a patroa e os meninos...
Carao Maycon, o debate está muito interessante. Mas acho que seu diagnóstico sobre o PT carece de um enfrentamento realista (sociológico) da questao das classes pobres no Brasil. A idéia de mobilizar as massas, como o Xacal já disse, cai sempre na idealizacao dos pobres. Meu caro, a esquerda precisa aprender de uma vez por todas que nao existe classe trabalhadora no Brasil capaz de aglutinar qualquer projeto de transformacao social semelhante à social-democracia. O PT perdeu sua identidade porque essa classe trabalhadora que lhe empresta o nome perdeu a pouca relevancia que um dia teve na nossa vida social e política. Veja bem. Esse meu diganóstico nao tem nada a ver com adesao à idéia de que o mundo do trabalho perdeu a centralidade na reproducao da vida social. Estou dizendo que, enquanto identidade política, a oposicao entra trabalho e capital nao tem nenhum potencial transformador entre nós. O que existe entre nós é um ralé de pobres, com uma fracao que se exprema na porta de saída para uma posicao pequeno-burguesa cujos tracos se renovam com o tempo. A esquerda tem que pensar a si mesma a partir do que existe e do sentido que motivao os atores a agir. Acho que o PT está muito mais próximo de se tornar um partido capaz de propor algo radical em vista de nossas relacoes de classes, do o PSoL com sua visao idealista dos pobres e da mobilizacao das massas.
Caro Maycon, parabéns pelo excelente artigo! Concordo plenamente que o PT não é uma alternativa progressista, especialmente em Campos dos Goytacazes. Concordo com seus dois argumentos principais, pois embora o PT represente avanços em relação aos neoliberais, vide as ações da Polícia Federal atingindo diversos setores da corrupção e também o fortalecimento do serviço público com a contratação de milhares de servidores públicos concursados em todo o país, efetivamente não aponta para reformas estruturais que poderiam ao menos ser iniciadas, tais como: o mínimo apoio a reforma agrária, ações de defesa e fortalecimento do Sistema Único de Saúde, uma política ambiental minimamente séria...
O fato é que o PT sim poderia e deveria ter construído bases mais sólidas para avanços sociais e fortalecimento dos movimentos populares nesses seis anos no poder.
Quando o colega Xacal pergunta onde estão essas forças progressistas, eu respondo que certamente não estão no PTB, no PL ou no PMDB. Com certeza seria necessário compartilhar o Governo Federal com parte dessas forças, mas sem entregar as nossas principais bandeiras de luta que construíram as bases e a história do PT e possibilitaram ao Lula chegar no poder.
O colega Roberto está totalmente descrente da possibilidade concreta de se mobilizar as massas populares. É claro que não participo de qualquer "idealização" das massas, mas também não reconhecer o potencial revolucionário, mesmo que pequeno, de nossa população acredito ser igualmente um equívoco. Pois, essa população apostou no PT contra toda a pressão capitalista, o que aconteceu é que o vanguardismo do PT acabou antes de iniciar o seu Governo. Onde estão as propostas revolucionárias ou mesmo reformistas do PT para a população apoiar e se mobilizar?
Oi Erik.
Cara, eu acho que hoje eu acredito mais no potencial de mobilizacao do que em alguns anos atras. Realmente passei por um período de descrenca mesmo, mas acho que voltei dele. Acho que me expressei mal. O que eu quis destacar é que nao podemos tomar a idéia de mobilizar a massa como algo óbvio; precisamos pensar, junto com o potencial de mudanca que eu ainda acredito haver na experiencia do sofrimento dos pobres, o que faz as pessoas aceitarem a vida que levam, tanto individual como coletivamente. Precisamos saber que o PT nunca foi um partido dessas massas, embora o MST tenha um peso grande na história do partido. Na verdade, essa massa sempre precisou da lideranca carismática e acho que esquerda precisa compreender e trabalhar em cima disso, e nao achar que a massa despossuída pode agir politicamente como o dito trabalhador organizado de outrora.
Roberto, concordo contigo!
Um grande abraço.
Caro Erik,
Vamos aos fatos: a população não apostou no pt contra toda a pressão capitalista...ela apostou na carta ao brasileiros, que ao contrário mostrava um pt muito mais palatável e digerível para setores conservadores de todos os extratos sociais brasileiros, desde a base até o topo...
as propostas mais vanguardistas do pt foram clamorosamente derrotadas nas outras eleições as quais perdemos...
pode ser um equívoco, mas não enxergo nenhum potencial revolucionário, ainda que microscópico, em nenhum setor da sociedade brasileira...
o problema é que vcs delegam ao pt a responsabilidade sobre o nanismo político das forças que vcs consideram a vanguarda...ora, ora, ora, sabemos que a experiência de legitimar essas forças da sociedade civil organizada em setores do governo deu em desastre, pois, para nosso espanto, essa "vanguarda" quando chegava ao palácio reeditava práticas tão conservadoras capazes de fazer corar até o ACM...
não esqueçamos da tragédia do ministério do desenvolvimento agrário, que esteve sob controle do mst no início do governo...
a verdade é que o governo lula(e mais uma vez é preciso distingüir pt x governo) não entregou as bandeiras históricas, porque não se elegeu em cima dessas bandeiras...
se elegeu com a promessa de distribuir renda, e o faz sistematicamente, de garantir a estabilidade da moeda e da economia, e também o faz, se elegeu para retomar o crescimento econômico, dentre outras premissas...agora, se vcs concordam ou não com elas, é outra discussão...
repito: exigir do governo lula em oito anos a recuperação do atraso histórico de 500 anos beira a loucura...
acho que as bases de um futuro melhor estão lançadas, com o fortalecimento da democracia e das instituições...quem sabe o pstu e o psol possam eleger a maioria dos deputados e senadores nas próximas eleições e permitir que formemos um bloco de governo mais à esquerda...?
Mesmo assim, pelo que a experiência latinoamericana tem nos mostrado(Venezuela, Bolívia e Equador) não basta maioria formal nas instituições...
Creio que em um futuro próximo possamos contar com a massa descamisada toda mobilizada por essa nova vanguarda pstu/psol, e então haja bases populares para essa revolução democrática que tanto desejamos...
quem sabe...?
Eu diria que neste dois últimos anos de mandato há uma grande heranca do governo que está sendo legada: o incentivo ao debate ideológico. O tema do desenvolvimento nacional está ai. O embate ideológico está mais acirrado e as posicoes do PT também podem se formatar por ele.
Caro Xacal, é importante relembrar que em 2002 a população votou sim contra toda uma pressão do capitalismo que apontava de forma sistemática em praticamente todos os meios de comunicação para uma verdadeira tragédia que ocorreria no país em caso de eleição de Lula para a Presidência do Brasil. Assim falavam em instabilidade econômica, política e até institucional...
Amigo, dizer que após três eleições como candidato a Presidência e por conseqüência de todo um processo histórico de identificação do PT e do Lula com a ética, com as mudanças e na defesa de uma série de bandeiras históricas a população votou no Lula principalmente por causa da "Carta aos Brasileiros", fala sério? Existe alguma forma de se simplificar mais essa discussão?
Com relação ao nanismo político das vanguardas é importante lembrar que o PT já foi vanguarda e no início era muito pequeno, portanto em muitos casos pode ser necessário dezenas de anos para se julgar esse tal nanismo não é mesmo?
Xacal, por favor, pare de repetir que estamos querendo exigir do Governo lula a recuperação de 500 anos, pois assim está parecendo que você não está lendo o que estamos postando, pois sempre afirmamos aqui a necessidade do Lula apontar a direção, ou seja: não esperamos que o Governo resolva o problema da Reforma Agrária,por exemplo, mas que ao menos inicie o processo...
Com relação ao Psol eleger a maioria dos deputados e senadores para que o PT possa formar um bloco a esquerda será que essa é a única opção para o PT voltar a ser um partido de esquerda?
Fico feliz em ver a sua crença que em um futuro próximo o PSol estará realizando uma revolução democrática, de fato acredito nessa luta como um projeto de mudanças para se alcançar em décadas de lutas, porém se ocorrer antes estarei ainda mais satisfeito...
Saudações Revolucionárias!
Caro Erik,
Me perdoe se pareço repetitivo...é um vício, mas também uma necessidade frente ao açodamento dos extremistas e vanguardistas em "atropelar" a História, seu tempo de maturação e as possibilidades dialéticas que estão postas...
Por isso repito a questão da crucial diferença entre vontade e realidade, onde entre ambas há um longo e tortuoso caminho de mediações, conflitos, idas e vindas que nem sempre obedecem aos nossos sonhos e desejos...
Ser romântico e acreditar em revoluções é legítimo, e acredito que tais utopias movem o mundo(para frente)...Deixar de enxergar os limites entre a parcela factível de transformação dessas "bandeiras, compromissos históricos", etc, etc, e toda os termos da propaganda neobolcevique é ingenuidade...ou má-fé...
Não retomarei a polêmica sobre a carta aos brasileiros, porque sua retórica se prende a ela, como um fim si mesma, descolada dos fatos...
É uma questão de fé...e fé eu respeito(quando posso) e não discuto...
Fico só a imaginar a população a votar contra a "pressão capitalista", com viés ideológico claro nos seus sufrágios, e tento adequar esse seu dogma ao fato do presidente ter sido eleito em uma chapa onde o vice, zé de alencar, é um dos maiores industriais do Brasil, do ramo da confecção...
É certo que algum dos votos conferidos a Lula vieram dos setores de "vanguarda"...Mas se o próprio presidente e seu núcleo duro reconhecem e afirmam que foi o "amolecimento" das "bandeiras históricas", associada a um pragmatismo e com um amplo leque de alianças que foram os ingredientes principais da vitória do pt em 2002, fico de novo a imaginar: quem está com a verdade: eles, que fizeram, ou a ultra esquerda que se decepcionou não por que tenha sido traída, e sim porque alimentou sonhos além da capacidade deles se tornarem reais(como é de costume)...
Você tem razão...o PT já foi vanguarda, se ampliou(concordemos ou não com seu novo perfil) e cresceu...
Gostaria mesmo que o psol e pstu pudessem ampliar seu espectro e capital político, mas a julgar pelo andar da carruagem (da história)a tendência é que se confinem cada vez mais...e isso não sou eu quem digo como estratégia discursiva, ou provocação: são os números, os fatos e seu peso na política nacional...
Por fim, deixemos a teoria e sigamos a prática:
Onde estão os números que lhe autorizem a dizer que o governo Lula fez mais ou menos pela Reforma Agrária...?
Assentou mais ou menos, destinou mais ou menos recursos...?
Talvez vc se queixe de que o presidente fale pouco no tema...Mas, sinceramente, se for o caso e assim ficar comprovado pelos dados do INCRA, eu prefiro que ele faça mais e fale menos...
Não se iluda: a reforma agrária não é uma plataforma da revolução socialista, ela é uma arrumação capitalista para dividir, democtratizar a propriedade, criando uma base de atividade econômica que pode subsistir como pequeno negócio ou se render novamente ao agrobusiness...
Cada assentado vira proprietário e precisa de dinheiro e assistência para virar(pasmem)um bom empresário, que lucre bastante e produza a contento...
Alterar essa agenda para slogans só atrasa a reforma agrária, como fez até hoje...
Se um governo que mais abre universiades federais, recupera o funcionalismo público com os maiores aumentos e com a retomada dos concursos, pondo fim gradualmente ao desmonte do Estado, faz o maior programa de transferência de renda do mundo, e tudo isso com estabilidade e taxas de crescimento notáveis, eu te pergunto:
Como vcs fariam melhor...me apresente aí as teses econômicas do psol ou do pstu...
ahh, falei teses e não pauta de reivindicações...
Meu caro, não esqueça, na maioria das vezes a simplificação ajuda o debate...o que não pode é cair no simplismo, aliás muito ao gosto dos ultra, tanto de direita quanto de esquerda...
Um democrático abraço, e sucesso aos ultras...afinal, alguém tem que fazer o papel do grilo falante(vc lembra, não, a consciência do pinóquio...?)
PS: agora é provocação:
será coincidência que os DEMos e os psol/pstu só tenham diminuído e ficado confinados aos grotões e feudos políticos onde nasceram...?
uma boa questão para se refletir...
Meus caros debatedores, fico extremamente satisfeito em saber que este artigo tenha dado origem a um debate tão interessante. Só agora me posiciono pois estou em viagem e sem acesso decente à rede, desta forma serei quase telegráfico, correndo um sério risco de cair no simplismo mas, vmaos lá:
Xacal, meu caro não podemos nos esquecer que a vontade também faz parte da complexidade que é o real, opor esquematicamente vontade e realidade (ou numa terminologia que me é mais cara, objetividade e subjetividade) é empobrecer a compreensão do real.
Roberto, respeito bastantesuas erudição e abertura ao debate mas discordo frontalmente de seu paradigma teórico que, no extremo oposto ao pensamento do Xacal, absolutiza o aspecto subjetivo da realidade social, ou seja, a consciência é tudo e a existência é seu reflexo imediato. Entendo que apesar de sua clara motivação progressista, sua base teórica tende ao conservadorismo.
Meu caro Erik, mais uma vez volte sempre a este espaço. Gostaria de te parabenizar por sua luta no âmbito do serviço público e dizer que estamos juntos nesta luta social mais ampla.
Um abraço a todos!
Então, caro Maycon, no caso do pstu/psol falta vontade...?
Xacal, acho que essa discussão merece um novo post do companheiro Maycon.
Maycon, parabéns pelo blog, pelos posts consistentes que promovem debates como esse. Precisamos disso. Admiro sua paixão pela luta social, visto que, mesmo tendo nascido em outra cidade, se preocupa com questões locais, da cidade que adotou ou que o adotou.
Acredito na mobilização das massas, embora pense que seja necessário refletir sobre o significado disso hoje. Não sei se as pessoas se encantaram mesmo com a "Carta aos Braisleiros", muitos não a leram.
Acho que tratamos de questões aqui que vão além do partidário. Passam por aqui petistas, liberais, petistas liberais, tem você do PSol, enfim, acho que dá pé.
Um abraço a todos.
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