segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Arregaçar as mangas


O resultado eleitoral da cidade de Campos, ainda que não totalmente resolvido até agora em função das previsíveis querelas jurídicas, não traz – como já era de se esperar - nenhuma boa notícia para o futuro dos munícipes. A vitória de uma ou outra das facções políticas principais do lumpen-empresariado local representa a tremenda capacidade de reprodução dos esquemas de poder baseados no clientelismo corrupto e corruptor que são, ao mesmo tempo, o reverso da moeda da estagnação (ou decomposição?) econômica da cidade e da devastadora miséria e incontáveis carências que afligem a imensa maioria de sua população. A manutenção do binômio estagnação-miséria como característica fundamental do município torna bastante difícil a tarefa de derrotar politicamente as duas facções dominantes já mencionadas, principalmente se esta tarefa for limitadamente compreendida como um esforço a ser empreendido apenas seguindo o calendário eleitoral. É preciso ter clareza que os esquemas de poder estabelecidos precisam ser derrotados, mais que eleitoralmente, politicamente, e isto somente poderá ser realizado por um esforço coordenado, consciente e militante, de largo prazo, e em um sentido decididamente político que se proponha, em primeiro lugar, combater a arrasadora desigualdade social constitutiva da sociedade campista.
A expressiva votação da candidatura do PC do B deixa claro que uma parcela significativa – ainda que previsível e inevitavelmente minoritária – da população campista (por nascimento ou escolha) resiste ao corrosivo ambiente político-cultural dominante e à profunda putrefação ética que dissemina em todos os estratos sociais, e está disposta a apoiar politicamente um projeto que defenda a ruptura dos esquemas de poder estabelecidos e das facções políticas que os articulam. Entendo que é necessário relacionar os elementos anteriormente explicitados com o tremendo êxito da blogosfera campista em se tornar um indispensável, vital e, diria mesmo, poderoso ponto de referência ético-político para os crescentes setores mais críticos da população. A consagração da credibilidade da blogosfera campista em detrimento da maior parte da imprensa comercial tradicional é a prova cabal da vitória da tese que afirma que credibilidade midiática não está ligada à mítica “imparcialidade” (como querem os liberais e positivistas) mas sim ao posicionamento decididamente parcial do lado da crítica e dos interesses e necessidades sociais progressistas.
O momento atual é o momento de arregaçar as mangas. Os cidadãos e forças políticas verdadeiramente democráticas e progressistas da cidade precisam se organizar para construir uma vontade coletiva que possa agregar em torno de um movimento político-social (muito mais que eleitoral) transformador, setores da classe trabalhadora pauperizada das periferias e distritos, os estudantes e intelectuais avançados, além da classe média trabalhadora e dos pequenos empresários, com base em um programa democratizante e de combate à desigualdade social. Somente o fortalecimento de um movimento político-social como este pode enfrentar a apatia e desmoralização corruptas, no plano ético, o privatismo individualista e conservador, no plano cultural, e o facciosismo irracionalista, no plano político, que garantem, juntamente com o binômio estagnação-miséria, no plano econômico-social, a reprodução do nefasto quadro atual.

3 comentários:

George Gomes Coutinho disse...

Também gostaria de acreditar que o momento leve ao que você, de maneira justa, vislumbra. Veremos.. Espero mesmo que o Fórum que ocorreu na UENF seja um primeiro passo.

Certamente foi mais profícuo que movimentos espasmódicos, mas com excelentes intenções, da sociedade civil. Estou devendo uma análise final sobre o evento ocorrido na UENF.. Mas, pelo volume de trabalho aqui estou prevendo que irá demorar.

Maycon Bezerra disse...

Pois é meu caro, na verdade eu também aponto isto muito mais como uma necessidade do que propriamente como algo que está em vias de se realizar. Assim como você eu estou depositando alguma expectativa no fórum da UENF e, mais a largo prazo, na movimentação do ambiente político-cultural que os novos cursos da UFF podem promover. De qualquer forma, mantenhamos vivo o debate. Um abraço!

xacal disse...

Caros amigos,

Também deposito nessa instância um bocado da minha crença de que é possível vencer o imobilismo...

Pelo que vi por lá, fiquei animado...

um abraço a todos...