Pela primeira vez desde o início do governo Lula, as diferentes centrais sindicais, organizações estudantis e movimentos populares colocaram suas diferenças estratégicas, programáticas e partidárias de lado e construíram, unitariamente, uma grande mobilização nacional contra as demissões, restrições salariais e demais impactos reacionários causados pela crise econômica internacional.
Por todo o país, as ruas foram tomadas por manifestações dos trabalhadores e da juventude exigindo que o governo se posicione decididamente a favor das necessidades das maiorias populares da nação, e não das grandes empresas transnacionais que, instaladas aqui, revertem para suas sedes as divisas que, em nossas terras, poderiam contribuir para a ampliação das ações públicas necessárias ao combate à crise mundial. A redução drástica dos juros e a imposição da estabilidade no emprego para os trabalhadores, são duas das principais reivindicações que as centrais e movimentos souberam trazer ontem para o debate público, fechando as ruas e abrindo o horizonte de perspectivas para o país.
É certo que as crises cíclicas de superprodução relativa de mercadorias são parte da natureza do sistema capitalista, causadas pelo inevitável descompasso entre a ilimitada capacidade de ampliação da produção de mercadorias e a limitada capacidade de crescimento do mercado consumidor, no entanto, não é parte de nenhuma suposta natureza humana aceitar de modo submisso as anti-sociais conseqüências impostas pelo empresariado ao conjunto da sociedade no contexto das crises. É imprescindível que se expanda, nestes momentos, e de forma definitiva, a esfera e o controle públicos e democráticos sobre áreas até então submetidas à tirania do interesse privado.
Enquanto o governo Lula convoca os trabalhadores a não reivindicarem melhorias salariais e a submeterem-se passivamente às diretrizes e condições de trabalho impostas pela patronal como única forma de tentar salvar os empregos, esquecendo-se (será?) da contradição capital-trabalho como eixo estruturante de toda atividade econômica capitalista, os trabalhadores e a juventude organizados, ocupando as ruas, deixam claro que a formulação e o desenvolvimento de uma alternativa político-social à ofensiva patronal reacionária, que exige liberdade para demitir e bilhões em recursos públicos, não virá dos gabinetes e salões de Brasília, mas da iniciativa das organizações das classes populares e dos setores políticos a elas vinculadas verdadeiramente.
É necessário, diante da crise, que a esquerda que se manteve fiel a seu compromisso histórico com os trabalhadores e as maiorias populares do país, saiba aprofundar a construção coletiva de um projeto alternativo para o país, em coordenação com os sindicatos, movimentos populares e estudantis. A classe média, encolhida e brutalizada nas últimas duas décadas, precisa ser incorporada a este projeto fazendo com que o grande capital, e não ela própria, financie a redução da pobreza extrema no Brasil, diferentemente no que vem sendo feito no presente governo. Trabalhadores, juventude, classe média, pequenos e médios empresários, intelectuais, todos estes precisam construir uma capacidade política para definir os rumos futuros deste país, ou então, da crise não nascerá uma oportunidade – como em 1930 – mas sim a ruína. Agora é a hora e a vez dos trabalhadores apontarem o caminho.
Artigo publicado na edição de hoje do jornal Monitor Campista
terça-feira, 31 de março de 2009
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