O filósofo húngaro Georg Lukács, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, já afirmava que a etapa de desenvolvimento do sistema econômico capitalista que se abria, trazia como seu complemento no âmbito do pensamento, o reforço das tendências irracionalistas nascidas no período anterior. Posteriormente, Frederic Jameson vai afirmar que o pós-modernismo – constituído sobre a base do mais radical irracionalismo – é a matriz cultural própria ao capitalismo tardio, conceito este desenvolvido pelo economista belga Ernest Mandel para definir o capitalismo em seu desenvolvimento pós-II Guerra.
No entanto, é apenas a partir do final da década de 80 e, principalmente, ao longo da década de 90 do século passado, no contexto da restauração capitalista na ex-URSS e nos países do leste europeu, e da ofensiva globalizada do neoliberalismo, que a hegemonia do pensamento irracionalista, na sua vertente pós-modernista, vai conseguir se estabelecer de forma avassaladora. Suas principais conseqüências serão fundamentalmente, de um lado, o questionamento da validade social do pensamento científico e, de outro lado, a expansão de um relativismo radical que abrirá espaço para o avanço das diversas matrizes do pensamento anti-científico, em especial, o fundamentalismo religioso.
O preocupante progresso do criacionismo no que diz respeito à educação, é um dos resultados dos ataques ensandecidos e injustos promovidos pelo irracionalismo pós-modernista ao pensamento científico. Segue abaixo uma perturbadora notícia divulgada no jornal O Estado de São Paulo a respeito do avanço galopante do criacionismo em grades escolas privadas brasileiras. É hora de rearmar o racionalismo, em suas diversas tendências, para desempenhar seu papel no bom combate contra as forças do obscurantismo irracionalista contemporâneo.
Escolas adotam criacionismo em aulas de ciência.
O criacionismo se espalha pelas escolas confessionais brasileiras - e não apenas no ensino religioso, mas nas aulas de ciências. Escolas tradicionais religiosas como Mackenzie, Colégio Batista e a rede de escolas adventistas do País adotam a atitude de não separar religião e ciência nas aulas, levando aos alunos a explicação cristã sobre a criação do mundo junto com os conceitos da teoria evolucionista. Algumas usam material próprio. Outros trabalham com livros didáticos da lista do Ministério da Educação e acrescentam material extra. "Temos dificuldade em ver fé dissociada de ciência, por isso na nossa entidade, que é confessional, tratamos do evolucionismo com os estudantes nas aulas de ciências, mas entendemos que é preciso também espaço para o contraditório, que é o criacionismo", defende Cleverson Pereira de Almeida, diretor de ensino e desenvolvimento do Mackenzie.
O criacionismo e a teoria da evolução de Charles Darwin começam a ser ensinados no colégio entre a 5ª e 8ª séries do fundamental. Na hora de explicar a diversidade de espécies, por exemplo, em vez de dizer que elas são resultados de milhares de anos do processo de seleção natural, se diz que a variedade representa a sabedoria e a riqueza de Deus.
Especialistas ouvidos pela reportagem consideram um equívoco a presença do criacionismo na aula de ciências."É completamente inadequado ensinar como teoria científica, porque não é teoria científica", diz Ildeu de Castro Moreira, diretor do departamento de Popularização da Ciência e da Tecnologia do Ministério da Ciência e da Tecnologia. Para ele, não há problema abordar o assunto, "assim como se fala em alquimia na história da ciência", mas "oferecê-lo como alternativa é uma inverdade."
As informações são do jornal O Estado de São Paulo
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
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7 comentários:
Evolucionismo e Criacionismo são apenas teorias, não há nada de ciência nisto.
paz
Equívoco seu meu amigo, o criacionismo é apenas fé, o evolucionismo é um ponto de vista já ampla e profundamente comprovado em fatos e evidências concretas.
é esse tipo de raciocínio que a propagação do criacionismo (e o design "inteligente) querem empurrar "goela adentro"...
são "teorias"...
o primeiro passo é tentar nivelar as categorias, depois passam a desqualificar uma delas, nesse caso, o evolucionismo...
grave, gravíssimo...
O criacionismo esperneia para sobreviver e, por isso, faz seus filhotes, entre os quais o chamado design inteligente tão bem lembrado por Xacal. Essa gente não estuda por opção ou por ignorância?
Removi o comentário acima pois estava muito mais confuso do que este aqui...
Parece que há dois tipos de cristãos: os que acreditam na evolução e os que acreditam que há apenas um tipo de cristão.
Para muitos evangélicos de todas as estirpes o criacionismo — a noção de que Deus criou o universo e o nosso mundo em seis dias literais — faz parte do conjunto mais essencial de doutrinas cristãs, ao lado, digamos, da doutrina do pecado original e do sacrifício substitutivo de Jesus.
Descobri que alguns cristãos apesarem de acreditarem que Deus criou o Universo acreditam na evolução.
De nada adianta argumentar que muitos cristãos contemporâneos dentre os mais austeros e ortodoxos — digamos, John Stott — crêem que a evolução foi o modo peculiar através do qual Deus moldou o homem do barro. Stott crê que o universo, a vida na Terra e a humanidade vieram à luz mais ou menos como explicam os livros de ciência — porém sob a égide oculta de um interessado Produtor, um supervisor e patrocinador que interveio de forma esporádica mas decisiva em um processo natural e em muitos sentidos aleatório.
Pensadores como Stott parecem ter se dobrado a abraçar uma doutrina limitada da evolução diante do peso da evidência científica.
Embora a evidência em favor da factualidade da evolução seja vasta e eloqüente, não acredito que é a autoridade (sempre arbitrária) da ciência o que de fato me atrai na idéia.
No fim das contas, alguns cristãos acreditam na evolução por motivos literários — ou, para dizer de outra forma, motivos espirituais.
A evolução soa-me como história melhor do que a narrativa literal da criação. Fala de um Deus mais próximo do Deus da Bíblia e da experiência cotidiana.
Gosto de ler a Bíblia, o Deus da evolução é comedido e introspectivo, intervindo apenas quando e na medida em que julga necessário; sendo independente das suas criaturas, ele deseja que suas criaturas sejam "santas",o que para mim isto é, autônomas e singulares, como ele parece ser.
Ele deixa sua criação (ou seja, nós e o universo) correr o seu curso e o acaso fazer suas próprias escolhas.
Quando leio sobre o Deus de Abraão e Moisés, imagino ele poderoso o bastante para lidar de forma criativa com o imprevisto, e escolhe escrever a história da criação e da vida em conjunto com as suas criaturas, e não a partir de um roteiro pré-estabelecido.
Quando leio sobre o Deus de Paulo, ele pede que interpretemos o espírito, não a letra do que ele diz. Como o Deus do dia-a-dia, ele é presente e unânime e onipresente, e ao mesmo tempo tão recatado que pode tranqüilamente passar despercebido.
A narrativa do Gênesis parece ter sido escrita para que saibamos que esse Deus está espetacularmente por trás de tudo.
A sacada da evolução, bem como o Deus distanciado da experiência do dia-a-dia, estão aí para dizer que esse Deus o faz da forma mais espetacularmente sutil.
O Deus do criacionismo pode parecer grande, mas o Deus da evolução é necessariamente maior — acredito ser, portanto, apenas o retrato de mais uma face do Deus tremendo de Gênesis.
A evolução ensina que cada espécie (e cada espécime) de animal e de planta é um tipo particular e insubstituível de graça, e não a mera representação física de um projeto ideal numa prancheta eterna.
Para o criacionista pouca diferença faz se tigres e florestas e bugios e campos gerais são extintos pela cegueira da ambição humana; para o evolucionista, a cada golpe na biodiversidade um milagre da graça mais improvável é apagado para sempre.
Estamos habituados a louvar a criação, mas a evolução fala de milagres maiores; fala do conhecimento do bem e do mal e da responsabilidade de administrar com sabedoria o jardim da Terra, coisas das quais tentaremos sempre nos esquivar.
O notável é que a narrativa da criação do Gênesis poderia muito bem ser literal e factual; seria apenas uma solução menos extraordinária do que a da evolução.
Às vezes penso que a evolução era [uma das coisas] que Jesus tinha em mente quando disse que o reino de Deus está no meio de nós.
A lapidação lenta e improbabilíssima de galáxias e planetas e espécies e nações e indivíduos alinha-se de forma mais eloqüente com os métodos do Deus de Jesus, que tem como o Filho a ambição de estar em todos lugares e ser reconhecido, até a cortina final, em nenhum.
Bela reflexão e defesa do evolucionismo a partir de um ponto de vista cristão, professora Hilda. Mesmo não compartilhando de sua perspectiva, nos colocamos no mesmo campo neste sentido. No entanto, gostaria de ir um pouco mais além e afirmar que o criacionismo não está buscando submeter, de boa-fé (perdoem o trocadilho), a teoria da evolução ao primado da dúvida razoável. Ao contrário, a perspectiva da evolução somente pode ser contestada - diante do imenso universo de evidências concretas - por uma perspectiva fanatica e irracionalmente militante, que é a perspectiva dos fundamentalistas.
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