A crise econômica mundial é muito real e, além disso, traz em si, um potencial destrutivo de dimensões ainda não completamente previsíveis, mas certamente inéditas. Todo o conjunto dos países centrais do capitalismo já se encontra assumidamente em recessão e, obviamente, as conseqüências deste fenômeno serão sentidas, inevitavelmente, em espectro global. No que diz respeito ao Brasil, os flancos pelos quais deveremos ser mais duramente atacados, pois já o estamos sendo, são aqueles representados pela retração do crédito externo e das exportações. Neste contexto, duas posições são inaceitáveis: a primeira é aquela que se baseia na crença de que o Brasil é – e continuará sendo - imune à crise mundial e, por isso, nada de especial deve ser feito, e a segunda é aquela baseada na crença quase religiosa na impotência absoluta dos homens (e dos governos) diante da onipotência do Deus-mercado e seus ditames e “vontades” que, em conseqüência, entende que a sociedade deve se submeter passiva e voluntariamente à destruição provocada pela crise.
Em um momento no qual os governos do mundo todo buscam saídas (necessariamente) heterodoxas para a crise, vem ganhando destaque a figura do imbecil econômico, que se gaba de sua inabalável ortodoxia monetarista. Enquanto a maioria dos governos lança iniciativas – mais ou menos acertadas e incisivas - que visam a estimular o consumo e a produção, aumentando o gasto público, reduzindo as taxas de juros e priorizando o combate à recessão deflacionária que vai se estabelecendo, o imbecil econômico, soberbamente e indiferente à realidade, se mantém na defesa da limitação do consumo, da redução do gasto público, da manutenção das taxas de juros, e da priorização do combate à inflação (um fantasma nos dias que correm).
Em nosso país, a equipe do Comitê de Política Monetária, e a oposição neoliberal puro-sangue ao governo Lula, fazem questão de se manter na vanguarda dos imbecis econômicos nacionais. A manutenção da taxa de juros, por uns, e a repetição insistente da exigência de redução dos gastos públicos, pelos outros, tornam-se posições cada vez mais imbecis e, indo além, anti-sociais. É possível e necessário ao poder público enfrentar a crise e seus impactos com uma postura ativa e com uma intervenção decidida na economia. Impulsionar o consumo e a produção em um ambiente internacional de crise recessiva passa, necessariamente, pela ação consciente do poder público com os instrumentos políticos, econômicos e financeiros de que dispõe.
Longe de restringir o gasto público, o governo – em nível federal, estadual e municipal – deve se lançar em uma empreitada baseada no estímulo anti-cíclico: ampliação dos serviços e bens públicos através da construção de infra-estrutura e equipamentos e da contratação de mão-de-obra (por meios legais, obviamente), desenvolvimento de mecanismos jurídicos e fiscais em defesa do emprego, financiamento de iniciativas econômicas efetivamente geradoras de renda e capazes de manter e elevar o nível de consumo da população, etc.
No que diz respeito ao município de Campos dos Goytacazes é preocupante que importantes figuras do governo eleito estejam reproduzindo, diante da crise mundial, o discurso típico do imbecil econômico, a cantilena da redução dos gastos públicos. Aqui, onde os indicadores econômicos e sociais mantém-se assustadoramente baixos, mesmo no contexto nacional de crescimento econômico, a repetição, agora, das velhas fórmulas neoliberais de gestão pública, ainda que pareçam modernas e sofisticadas frente ao diletantismo corrupto, tendem a produzir um aprofundamento da estagnação econômica e da precariedade que caracteriza o panorama social campista.
Ao poder público municipal cabe, na etapa que se abre, entre outras ações, desenvolver um amplo programa de obras que dote verdadeiramente o município da infra-estrutura e dos equipamentos públicos necessários ao seu desenvolvimento social (escolas, hospitais, praças, moradias, etc), efetivar sua capacidade de intervenção através da ampliação do quadro de servidores públicos nas atividades-fim, promover o financiamento de iniciativas econômicas com alta capacidade de incorporação de mão-de-obra e geração de renda (em especial, as de caráter cooperativo), impulsionar uma transformação do padrão agrário e agrícola do município no sentido da superação do secular e estagnado modelo atual.
No entanto, para que se caminhe neste sentido que pode fazer Campos dos Goytacazes enfrentar a crise de cabeça erguida e apontar para um futuro de dignidade, será necessário, em primeiro lugar, reunir forças para derrotar a mentalidade ainda dominante do imbecil econômico, desmontar o poderoso mecanismo clientelista e corrupto vigente, e vincular-se aos interesses sociais das massas trabalhadoras, da classe média e dos pequenos empresários contra os interesses parasitários do lumpen-empresariado local. O próximo governo municipal estará disposto a lançar-se nesta empreitada? Mais ainda, será ele capaz de fazê-lo? Esta é questão que urge ser respondida.
Um comentário:
Veja o que fazem na Europa, camarada.
http://www.elpais.com/articulo/cultura/Capital/Marx/salta/pequena/pantalla/elpepucul/20081212elpepucul_6/Tes
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