quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sangria desatada


Os últimos números relativos à situação das contas externas brasileiras revelam uma estarrecedora condição na qual o país vai mergulhando. O déficit nas transações correntes do Brasil, ou seja, a diferença negativa entre todos os recursos que entraram e saíram do país na forma de lucros, juros e dividendos, alcançou, no primeiro semestre do ano, o índice recorde de 17, 7 bilhões de dólares. Segundo os próprios especialistas do Banco Central, o déficit atual se deveu ao aumento do volume das remessas de lucros e dividendos das empresas multinacionais atuantes no país para suas sedes, principalmente bancos e montadoras de automóveis (mais de 52% de todas as remessas enviadas ao exterior).
Apesar dos números extremamente negativos, Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, apressou-se em tentar tranqüilizar o público afirmando, em bom economês, que “o ingresso do IED – investimento estrangeiro direto – é mais do que suficiente para compensar o déficit” e, portanto, as nossas contas externas são “perfeitamente financiáveis”. Ora, o investimento estrangeiro direto efetuado no país no acumulado de 12 meses até junho chegou a cifra de mais de 30 bilhões de dólares, e utilizando a lógica positivista e quantitativista dos economistas de mercado chegamos à conclusão de que não há problema algum. No entanto, o raciocínio dos teólogos do deus-mercado mais esconde do que revela porque este investimento estrangeiro direto, além de se constituir diretamente em flagrante desnacionalização de nossa economia, também levará, no futuro breve, a um novo aumento das remessas de lucros enviadas às matrizes das multinacionais que aqui se instalam e apropriam do trabalho excedente da classe trabalhadora brasileira.
O quase-novo-desenvolvimentismo do governo Lula deixa cada vez mais claras suas profundas vinculações com os interesses recolonizadores do imperialismo quando, mesmo diante da divulgação destes alarmantes números, mantém inalterada a situação que isenta de taxação as remessas de lucros e dividendos das multinacionais para o exterior. A sangria desatada que drena para as potências imperialistas uma parcela imensa da riqueza nacional precisa parar, urgentemente.

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