A gravidade da crise econômica atual é tão inquestionável e impactante que, nos meios intelectuais, começa a se projetar uma virada importante, novamente, em direção a afirmação inequívoca do socialismo como solução a ela. Deixo como reflexão o último artigo publicado pelo insuspeito Emir Sader. Feliz ano novo (se pudermos tê-lo)!!!!
A crise, o neoliberalismo e o capitalismo - (Emir Sader)
Uma crise que começou como mais uma crise financeira, acumulada pelas formas precárias de reagir às bolhas especulativas das crises anteriores, para se estender à estrutura produtiva, gerando um processo recessivo no conjunto da economia, o que, na era de globalização, universaliza a crise. De crise financeira para recessão gera, de crise norte-americana para crise global.
A crise, o neoliberalismo e o capitalismo - (Emir Sader)
Uma crise que começou como mais uma crise financeira, acumulada pelas formas precárias de reagir às bolhas especulativas das crises anteriores, para se estender à estrutura produtiva, gerando um processo recessivo no conjunto da economia, o que, na era de globalização, universaliza a crise. De crise financeira para recessão gera, de crise norte-americana para crise global.
Dada a crise, o que fazer? O diagnóstico e os remédios refletem a ideologia de cada um.
Uma primeira linha divisória nas reações à crise está entre os que querem soluções epidérmicas, apenas de apoio às empresas em dificuldades, até que passe a crise a se restabeleçam os mecanismos mercantis impostos pelos liberais ao conjunto da economia. E os que pretendem diminuir os efeitos profundos da crise, impondo mecanismos de regulação, de reativação econômica, que apontem para os mecanismos profundos da crise: a anarquia da competição mercantil no capitalismo.
Uma primeira linha divisória nas reações à crise está entre os que querem soluções epidérmicas, apenas de apoio às empresas em dificuldades, até que passe a crise a se restabeleçam os mecanismos mercantis impostos pelos liberais ao conjunto da economia. E os que pretendem diminuir os efeitos profundos da crise, impondo mecanismos de regulação, de reativação econômica, que apontem para os mecanismos profundos da crise: a anarquia da competição mercantil no capitalismo.
Em um segundo plano está a divisão entre os que pretendem apensas domar certos mecanismos mais selvagens do mercado e os que pretendem salvaguardar os interesses da grande maioria da população, resguardando sobre tudo o nível de emprego e penalizando as empresas que mais diretamente promoveram fraudes especulativas.
No entanto, não bastam medidas defensivas como estas, mesmo quando buscam garantir o nível de emprego como contrapartida para os apoios financeiros governamentais. Porque estas crises se repetirão. Em primeiro lugar, porque elas são a expressão mais clara dos resultados da desregulação econômica, característica típica do neoliberalismo. Ela permitiu que se desse uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo ao especulativo, ao mesmo tempo que garantiu a livre circulação e a liquidez total do capital financeiro, sem regulação e praticamente sem taxação. Voltará a se repetir, como se deu ao longo de toda a década passada e agora ataca no centro do sistema.
É necessário impor um modelo abertamente anti-neoliberal, que regulamente a circulação do capital financeiro, que centralize o câmbio, que penalize com altas taxas os investimentos especulativos, que submeta, de fato e de direito, os Bancos Centrais aos governos, que priorize o social contra a ditadura da economia, que promova centralmente o mercado interno de consumo de massas, entre outras medidas. E que se comprometa estrategicamente com o desenvolvimento econômico e social como meta central dos governos.
Porém a lógica da crise reiterada não é apenas do neoliberalismo, ela remete a um mecanismo muito mais profundo e perene, remete ao processo mesmo de acumulação de capital, que teve algumas das suas características acentuadas no neoliberalismo. O capitalismo se desenvolve – como o próprio Marx reconheceu no Manifesto Comunista – como nenhum outro tipo de sociedade, as forças produtivas, porém, ao mesmo tempo, não gera os mecanismos de consumo para essa produção multiplicada. Suas crises são sempre de desequilíbrio entre produção – a cuja multiplicação está comprometido, para poder recuperar na massa o que perde em cada produto, ao elevar o gasto em capital constante e diminuir relativamente em capital variável, vinculado à mais valia – e consumo, que podem ser chamadas de crises de superprodução ou de subconsumo. Sempre geram excedente de capital que no neoliberalismo se dirigiu exponencialmente para o setor financeiro e a especulação.
As crises, tanto as de ciclos curtos, como as de virada de ciclos longos expansivos a recessivos e vice-versa, são parte inerente do capitalismo. Na era neoliberal, tem um componente financeiro, que as desata, mas se estendem ao processo produtivo, conforme a magnitude que tenham – como é o caso da atual. Sua superação só pode se dar com política anticapitalistas, de socialização da produção, de planejamento democraticamente realizado da economia, de poder para os trabalhadores decidirem os destinos econômicos de que eles mesmos são os sujeitos, mas que sofrem como vítimas no capitalismo, onde o poder está nas mãos dos detentores do capital.
5 comentários:
Ótima reflexão companheiro! Gostaria de acompanhar esse blog mais de perto. Você não poderia tornar disponivel o ícone que permite o acompanhamento automático desse blog?
Um grande abraço!
Gostei bastante do Texto do Emir Sader Maycon. Mas, preso demais nos limites de Marx, ele também nao nos oferta avancos rumo a uma análise social e política da dinamica e da lógica do Capital. Algo como juntar o "capital" com o "dezoito brumário"... precisamos saber, em situacoes históricas determinadas como a atual, em que relacao social se dá a crise de superproducao do capital, de "erro estratégico" no processo de reproducao da mais valia através do consumo. Além de constatar que o setor financeiro constitui um pólo fundamental da crise, com capital acumulado ameacado de desvalorizacao, é preciso saber como se dá politicamente essa desvalorizacao. Uma "crítica da economia política", como queria Marx, deve pretender demonstrar a dimesao política desta relacao (de poder) envolvendo producao e consumo, a qual, junto com a desvalorizacao relativa e paulatina do trabalho face ao capital, nao impede que o próprio capital seja também desvalorizado, vítima de sua própria artificialidade diante do trabalho.
Olá Erik, seja bem-vindo a este espaço, acompanho seu blog com atenção e admiro bastante sua "linha editorial", seu eu conseguir eu vou colocar na página o recurso para acompanhamento. Caro Roberto, acho que seu questionamento é sugestivo, no entanto, sem querer afirmar nenhum sectarismo fanático em torno do pensamento do "velho", eu discordaria de você por entender que a obra de Marx - em todas as suas nunaces e ênfases distintas - é muito uma chave que abre portas à compreensão da situação presente do que um limite que aprisione. No mais, um abraço e mantenhamos o debate!
Com certeza Maycon, também vejo assim a obra de Marx. Mas, nessa tentativa atual de reler o "velho", precisamos determinar os limites de Marx, ou seja, ter generosidade com ele ao apontar os limites históricos de um pensador genial para atualizarmos a sua crítica.
Excelente reflexão!!!
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