terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Banco do Brasil e os Ermírio de Moraes

Na semana passada o governo anunciou a compra de uma boa parte do Banco Votorantin pelo Banco do Brasil. O ministro Guido Mantega fez questão de enfatizar, diante da imprensa, que esta era uma operação de grande significado no que diz respeito ao fortalecimento do sistema financeiro no Brasil, no entanto, alguns analistas mais críticos, como o professor Reinaldo Gonçalves do Instituto de Economia da UFRJ, não compartilham do mesmo entusiasmo do ministro e preocupam-se com as motivações ocultas e menos festivas que levaram a esta operação. Confira abaixo a entrevista concedida pelo professor á Radioagência NP divulgada no portal da Agência Brasil de Fato (www.brasildefato.com.br).

Radioagência NP: Reinaldo. Como você avalia esta compra?

Reinaldo Gonçalves: Esse caminho está parecendo uma operação de resgate feita pelo governo federal, principalmente se levarmos em conta que o grupo Votorantin foi um dos grupos mais afetados pela crise cambial no último ano. Esse grupo teve grandes perdas em operações no mercado de derivativos em função de operações com dólares, com taxa de câmbio. O resultado é que o governo federal está de uma forma ou de outra atuando no sentido de evitar turbulências na área financeira.

Essa medida faz parte da política do governo para combater a crise financeira mundial?

No conjunto de baterias para enfrentar a crise financeira, uma delas é criar o que se chama empresa de gerenciamento de ativos. É o que a medida provisória 443 criou com a Caixa e o BB. Acontece que esse tipo de medida funcionou muito bem na Suécia, mas em vários outros países não funcionou, porque há problemas de avaliação dos ativos dos bancos que estão sendo comprados. Então, isso abre margem para muita prática oportunista.

E o que motiva o governo a adotar medidas como essa?

Essa é uma avaliação difícil de ser feita. O grupo Votorantin é um grupo grande, que tem patrimônio, que tem ativos substantivos, é um grupo politicamente muito importante no país, economicamente muito poderoso, então pode ser que o governo esteja fazendo política também. Agora o outro lado é saber se vale a pena o Banco do Brasil deslocar seus recursos para resgatar esse banco privado, que, na verdade, é um banco que há dez anos praticamente não existia. Outros bancos de grupos privados brasileiros quebraram, faliram, foram vendidos para outros bancos sem a necessidade de intervenção do setor público.

O governo alegou que com essa aquisição, o Banco do Brasil se aproxima muito do Itaú-Unibanco, o maior banco do país em termos de ativos. Isso faz a compra valer a pena?

Isso é um argumento absolutamente irrelevante. O problema é o que o Banco do Brasil faz em termos de políticas de crédito, de sua atuação, que tenha um impacto social, um benefício social significativo, que o Itaú não tem - é um banco privado que está interessado em acumulação do capital do banco e lucro dos acionistas. O Banco do Brasil não deve ter essa função. Então, não tem a menor relevância se o BB tem 80% ou 120% dos ativos equivalentes aos ativos do banco Itaú. E a dúvida que fica é que essa participação minoritária no grupo Votorantin não necessariamente melhora a relação benefício social.

Por quê?

O que o Banco do Brasil fez foi injetar recursos no Banco Votorantin e não controlando o grupo. Deixou o controle com o setor privado. Então, claramente isso é uma linha de crédito que um banco paraestatal está dando para o setor privado. Isso mostra o viés privatista do governo Lula. E você corre o risco de transformar o BB e a Caixa em hospital de bancos, o que aconteceu com o BNDES no passado.

E quais medidas você acha que deveriam ser adotadas?

A recomendação no caso específico dessa operação de resgate é que a sociedade civil tenha controle de fato sobre essas operações, porque isso dá margem para se criar um balcão com recursos públicos que a sociedade não sabe exatamente a relação de custo-benefício. Está no momento de fazer um saneamento, uma maior regulação e maior controle sobre o setor financeiro e, particularmente, sobre os bancos privados brasileiros que tem práticas comerciais restritivas muito sérias.

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