quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O programa da FIESP


Os efeitos da crise econômica vêm, cada vez mais, se impondo no Brasil e diante deles os diferentes setores da sociedade vão demarcando suas posições no campo de batalha político-social. De um lado, grande parte do movimento sindical afirma a exigência de investimentos governamentais de estímulo anti-cíclico e combate às demissões, o setor financeiro busca garantias governamentais por meio da estatização dos riscos (e prejuízos), outros setores do grande capital, principalmente da indústria, (liderados pelo presidente da Vale do Rio Doce) propõem a suspensão dos direitos trabalhistas e, na prática, já se lançam em uma política agressiva de demissões. O governo Lula, por sua vez, começa a evidenciar, de modo relativamente dramático, as contradições contidas na sua natureza de precária composição social ampla hegemonizada pelos interesses do grande capital. Enquanto alguns setores do governo desenham medidas anti-cíclicas, o Banco Central, contra praticamente o país inteiro, segura nas alturas as taxas de juro.

Diante do avanço das demissões na indústria paulista, principalmente entre as montadoras de automóveis, recentemente apoiadas com recursos públicos destinados pelo governo federal, o ministro do trabalho Carlos Lupi reagiu e anunciou a possibilidade de impor às empresas auxiliadas pelo governo federal uma contrapartida baseada na garantia de estabilidade aos trabalhadores. O anúncio do ministro agitou os meios empresariais, porque a exigência de estabilidade no emprego no contexto de crise é uma bandeira clássica dos programas de luta das organizações políticas e sindicatos da classe trabalhadora. Ontem à noite, o editorial do Jornal da Globo deu o alarme em relação ao anúncio do ministro. Hoje a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) anunciou um programa de combate aos efeitos da crise, baseado na redução da jornada de trabalho com redução de salários e sem estabilidade no emprego. Ou seja, os industriais não querem ceder nada, garantem a manutenção da sua margem de ganhos, e da sua plena autonomia administrativa e produtiva, e os trabalhadores, assistem à precarização de suas condições de trabalho como ante-sala de suas potenciais e possíveis futuras demissões.

É importante ficar claro que neste momento não há muro para se ficar em cima, na crise sempre alguém perde, os empresários perdem parte de seus lucros e de sua autonomia ou os trabalhadores perdem renda, emprego e dignidade. Cabe ao governo federal colocar-se, concretamente, de um destes lados. A trajetória pregressa do governo Lula não promete muitas notícias positivas, mas é bem possível que suas contradições internas se agucem no contexto de aprofundamento da crise e das conseqüentes disputas político-sociais que se avizinham. É hora de exigir do governo um programa que seja, em essência, oposto ao programa da FIESP. A manutenção e ampliação do poder aquisitivo dos trabalhadores é um elemento fundamental no combate aos efeitos recessivos da crise. Não basta o presidente Lula falar aos trabalhadores para que eles consumam, porque diante do risco de desemprego os trabalhadores vão reduzir as compras. É necessária uma política estatal de combate às demissões que utilize mecanismos coercitivos – em maior ou menor medida - sobre as grandes empresas, principalmente. A crise avança e a luta deve fazer o mesmo.

Um comentário:

Roberto Torres disse...

Concordo plenamente Maycon. Nesse momento de crise se deve lutar por uma tomada de posicao do governo.