quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

MST: ponte entre o passado e o futuro


No último dia 24 de janeiro o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, possivelmente o maior movimento popular do planeta, completou (juntamente com este que escreve estas linhas) mais um aniversário. Ao completar 25 anos de existência e lutas, o MST constitui-se efetivamente em uma ponte entre passado e o futuro.

A luta pela reforma agrária é uma reivindicação tradicional e muito antiga no Brasil, ligada diretamente à necessidade de inserir o Brasil em uma lógica de modernização econômica que superasse os entraves da herança da economia colonial.

Nos dias que correm, no entanto, a reforma agrária, tal como defendida pelo MST, ganha uma atualidade e uma dimensão verdadeiramente universal, ao colocar em questão a necessidade de construir um modelo econômico e de produção agrícola que não colida com as necessidades das maiorias populares do planeta e nem com as necessidades de sobrevivência da própria vida no planeta.

Diante do colapso ambiental que o capitalismo vai impondo em termos globais, a luta pela reforma agrária e pelo socialismo, preconizada pelo MST é um farol que não somente ilumina a trajetória das lutas passadas como também revela caminhos para o futuro. Segue abaixo a carta divulgada pelo MST ao final do evento de comemoração de seus 25 anos. Parabéns MST!

CARTA DO MST

13º Encontro Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

1. Nós, mais de 1.500 trabalhadores rurais sem terra, vindos de todas as regiões do Brasil, e delegações internacionais da América Latina, Europa e Ásia, nos reunimos de 20 a 24 de janeiro de 2009 em Sarandi, no Rio Grande do Sul, para comemorar os 25 anos de lutas do MST. Avaliamos, também, nossa história e reafirmamos o compromisso com a luta pela Reforma Agrária e pelas mudanças necessárias ao nosso país.

2. Festejamos as conquistas do nosso povo ao longo desses anos, quando milhares de famílias tiveram acesso à terra; milhões de hectares foram recuperados do latifúndio; centenas de escolas foram construídas e, acima tudo, milhões de explorados do campo recuperaram a dignidade, construíram uma nova consciência e hoje caminham com altivez.

3. Reverenciamos nossos mártires que caíram nessa trajetória, abatidos pelo capital. E, lembramos dos líderes do povo brasileiro que já partiram, mas deixaram um legado de coerência e exemplo de luta.

4. Vimos como o capital, que hoje consolida num mesmo bloco as empresas industriais, comerciais e financeiras, pretende controlar nossa agricultura, nossas sementes, nossa água, a energia e a biodiversidade.

5. Nos comprometemos em garantir à terra sua verdadeira função social; cuidar das sementes e produzir alimentos sadios, de modo a proteger a saúde humana, integrando homens e mulheres a um meio-ambiente saudável e adequado a uma qualidade de vida cada vez melhor.

6. Reafirmamos nossa disposição de continuar a luta, em aliança com todos os movimentos e organizações dos trabalhadores e do povo, contra o latifúndio, o agronegócio, o capital, a dominação do Estado burguês e o imperialismo.

7. Defendemos a Reforma Agrária como uma necessidade popular, que valoriza o trabalho, a agro-ecologia, a cooperação agrícola, a agroindústria sob controle dos trabalhadores, a educação e a cultura, medidas imprescindíveis para a conquista da igualdade e da solidariedade entre os seres humanos.

8. Estamos convencidos de que somente a luta dos trabalhadores, e do povo organizado, pode nos levar às mudanças econômicas, sociais e políticas indispensáveis à efetiva emancipação dos explorados e oprimidos.

9. Reafirmamos a solidariedade internacional e o direito dos povos à soberania e à autodeterminação. Por isto, manifestamos nosso apoio a todos os que resistem e lutam contra as intervenções imperialistas, como hoje faz o povo afegão, cubano, haitiano, iraquiano e palestino.

10. Cientes de nossas tarefas e dos enormes desafios que se colocam, reafirmamos a necessidade de construir alianças com as organizações e os movimentos populares e políticos em torno de bandeiras comuns, para que, unidos e solidários, possamos construir um projeto popular, capaz de romper com a dependência e subordinação interna e externa ao capital, e de construir uma sociedade igualitária e livre - uma sociedade socialista.
Sarandi, 24 de janeiro de 2009

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA - MST

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