sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

América Latina e os fóruns mundiais

Para aqueles que, como eu, acreditam e trabalham pela transformação social no sentido da construção de uma nova ordem digna de todas as potencialidades do ser humano, nada como constatar a efetividade daquele que talvez seja o nosso mais caro princípio teórico: a permanente e ininterrupta marcha da história. As sombrias profecias que vaticinavam o “fim da história” e condenavam a humanidade a uma eterna submissão à sanha dos operadores do mercado financeiro global, no auge do triunfalismo neoliberal, naquela primeira metade dos anos 90, que parece já ir muito mais longe no passado, desmoronaram como “castelo de cartas ideológico” que eram.

Nestes tempos idos em que era inquestionável a teologia do Deus-Mercado, obra dos “economistas de mercado” dos, hoje falidos, maiores bancos de investimentos dos EUA, a América latina se encontrava, “de cabo a rabo” (com a honrosa exceção de Cuba), submetida a projetos governamentais absolutamente submissos aos ditames do capital financeiro internacional e sua ideologia, que encontrava em Davos, no Fórum Econômico Mundial, um momento apoteótico de auto-celebração. Era praticamente uma obrigação para os chefes de Estado latino-americanos, demonstrarem seu inquestionável servilismo à lógica da arbitragem do capital financeiro internacional comparecendo ao fórum de Davos.

O Fórum Social Mundial desenhado como uma oposição a Davos no sentido da construção de um outro mundo possível, de início foi capaz de agregar em torno de si uma coalisão tão heterogênea quanto frágil de forças político-sociais, no mínimo, críticas à ortodoxia neoliberal. Apesar de seu caráter demasiadamente “frouxo” no sentido programático, o Fórum Social Mundial conseguiu se consolidar como uma arena de debates na qual o desenvolvimento uma política contra-hegemônica ao neoliberalismo é, no mínimo, possível.

Neste ano, no qual a crise do neoliberalismo se tornou evidente, é interessante perceber a relação entre os chefes de Estado latino-americanos com os dois fóruns mundiais. Ao Fórum de Davos comparecem apenas os presidentes do México e Colômbia, explicitamente submissos aos ditames da Casa Branca, enquanto o Fórum Social Mundial em Belém do Pará, pôde contar com a presença dos chefes de Estado de Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai e, last but not least, Brasil. A história marcha ou não marcha?


Artigo publicado na edição de hoje do jornal Monitor Campista

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