sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

América Latina e os fóruns mundiais

Para aqueles que, como eu, acreditam e trabalham pela transformação social no sentido da construção de uma nova ordem digna de todas as potencialidades do ser humano, nada como constatar a efetividade daquele que talvez seja o nosso mais caro princípio teórico: a permanente e ininterrupta marcha da história. As sombrias profecias que vaticinavam o “fim da história” e condenavam a humanidade a uma eterna submissão à sanha dos operadores do mercado financeiro global, no auge do triunfalismo neoliberal, naquela primeira metade dos anos 90, que parece já ir muito mais longe no passado, desmoronaram como “castelo de cartas ideológico” que eram.

Nestes tempos idos em que era inquestionável a teologia do Deus-Mercado, obra dos “economistas de mercado” dos, hoje falidos, maiores bancos de investimentos dos EUA, a América latina se encontrava, “de cabo a rabo” (com a honrosa exceção de Cuba), submetida a projetos governamentais absolutamente submissos aos ditames do capital financeiro internacional e sua ideologia, que encontrava em Davos, no Fórum Econômico Mundial, um momento apoteótico de auto-celebração. Era praticamente uma obrigação para os chefes de Estado latino-americanos, demonstrarem seu inquestionável servilismo à lógica da arbitragem do capital financeiro internacional comparecendo ao fórum de Davos.

O Fórum Social Mundial desenhado como uma oposição a Davos no sentido da construção de um outro mundo possível, de início foi capaz de agregar em torno de si uma coalisão tão heterogênea quanto frágil de forças político-sociais, no mínimo, críticas à ortodoxia neoliberal. Apesar de seu caráter demasiadamente “frouxo” no sentido programático, o Fórum Social Mundial conseguiu se consolidar como uma arena de debates na qual o desenvolvimento uma política contra-hegemônica ao neoliberalismo é, no mínimo, possível.

Neste ano, no qual a crise do neoliberalismo se tornou evidente, é interessante perceber a relação entre os chefes de Estado latino-americanos com os dois fóruns mundiais. Ao Fórum de Davos comparecem apenas os presidentes do México e Colômbia, explicitamente submissos aos ditames da Casa Branca, enquanto o Fórum Social Mundial em Belém do Pará, pôde contar com a presença dos chefes de Estado de Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai e, last but not least, Brasil. A história marcha ou não marcha?


Artigo publicado na edição de hoje do jornal Monitor Campista

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

MST: ponte entre o passado e o futuro


No último dia 24 de janeiro o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, possivelmente o maior movimento popular do planeta, completou (juntamente com este que escreve estas linhas) mais um aniversário. Ao completar 25 anos de existência e lutas, o MST constitui-se efetivamente em uma ponte entre passado e o futuro.

A luta pela reforma agrária é uma reivindicação tradicional e muito antiga no Brasil, ligada diretamente à necessidade de inserir o Brasil em uma lógica de modernização econômica que superasse os entraves da herança da economia colonial.

Nos dias que correm, no entanto, a reforma agrária, tal como defendida pelo MST, ganha uma atualidade e uma dimensão verdadeiramente universal, ao colocar em questão a necessidade de construir um modelo econômico e de produção agrícola que não colida com as necessidades das maiorias populares do planeta e nem com as necessidades de sobrevivência da própria vida no planeta.

Diante do colapso ambiental que o capitalismo vai impondo em termos globais, a luta pela reforma agrária e pelo socialismo, preconizada pelo MST é um farol que não somente ilumina a trajetória das lutas passadas como também revela caminhos para o futuro. Segue abaixo a carta divulgada pelo MST ao final do evento de comemoração de seus 25 anos. Parabéns MST!

CARTA DO MST

13º Encontro Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

1. Nós, mais de 1.500 trabalhadores rurais sem terra, vindos de todas as regiões do Brasil, e delegações internacionais da América Latina, Europa e Ásia, nos reunimos de 20 a 24 de janeiro de 2009 em Sarandi, no Rio Grande do Sul, para comemorar os 25 anos de lutas do MST. Avaliamos, também, nossa história e reafirmamos o compromisso com a luta pela Reforma Agrária e pelas mudanças necessárias ao nosso país.

2. Festejamos as conquistas do nosso povo ao longo desses anos, quando milhares de famílias tiveram acesso à terra; milhões de hectares foram recuperados do latifúndio; centenas de escolas foram construídas e, acima tudo, milhões de explorados do campo recuperaram a dignidade, construíram uma nova consciência e hoje caminham com altivez.

3. Reverenciamos nossos mártires que caíram nessa trajetória, abatidos pelo capital. E, lembramos dos líderes do povo brasileiro que já partiram, mas deixaram um legado de coerência e exemplo de luta.

4. Vimos como o capital, que hoje consolida num mesmo bloco as empresas industriais, comerciais e financeiras, pretende controlar nossa agricultura, nossas sementes, nossa água, a energia e a biodiversidade.

5. Nos comprometemos em garantir à terra sua verdadeira função social; cuidar das sementes e produzir alimentos sadios, de modo a proteger a saúde humana, integrando homens e mulheres a um meio-ambiente saudável e adequado a uma qualidade de vida cada vez melhor.

6. Reafirmamos nossa disposição de continuar a luta, em aliança com todos os movimentos e organizações dos trabalhadores e do povo, contra o latifúndio, o agronegócio, o capital, a dominação do Estado burguês e o imperialismo.

7. Defendemos a Reforma Agrária como uma necessidade popular, que valoriza o trabalho, a agro-ecologia, a cooperação agrícola, a agroindústria sob controle dos trabalhadores, a educação e a cultura, medidas imprescindíveis para a conquista da igualdade e da solidariedade entre os seres humanos.

8. Estamos convencidos de que somente a luta dos trabalhadores, e do povo organizado, pode nos levar às mudanças econômicas, sociais e políticas indispensáveis à efetiva emancipação dos explorados e oprimidos.

9. Reafirmamos a solidariedade internacional e o direito dos povos à soberania e à autodeterminação. Por isto, manifestamos nosso apoio a todos os que resistem e lutam contra as intervenções imperialistas, como hoje faz o povo afegão, cubano, haitiano, iraquiano e palestino.

10. Cientes de nossas tarefas e dos enormes desafios que se colocam, reafirmamos a necessidade de construir alianças com as organizações e os movimentos populares e políticos em torno de bandeiras comuns, para que, unidos e solidários, possamos construir um projeto popular, capaz de romper com a dependência e subordinação interna e externa ao capital, e de construir uma sociedade igualitária e livre - uma sociedade socialista.
Sarandi, 24 de janeiro de 2009

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA - MST

VI Colóquio Internacional Marx e Engels

Aproveito a ocasião para divulgar a chamada de trabalhos do VI Colóquio Internacional Marx e Engels promovido pelo CEMARX (Centro de Estudos Marxistas) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Este evento de alto nível, do qual já tive a honra de participar em edição anterior, revela-se como um importantíssimo espaço de reflexão e troca de experiências para aqueles estudiosos amparados na concepção teórica desenvolvida primeiramente por Marx e Engels nas mais diversas áreas do pensamento social e filosófico no mundo. Se tudo der certo nos veremos por lá em novembro.


Chamada de trabalhos
VI Colóquio Internacional Marx e Engels
Centro de Estudos Marxistas (Cemarx)
do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Campinas (SP) – Brasil
Novembro de 2009


O Centro de Estudos Marxistas (Cemarx), do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), iniciou a chamada de trabalhos para o VI COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E ENGELS. A inscrição de trabalhos estará aberta entre 2 de março e 15 de junho de 2009.

Informações gerais

O Colóquio Internacional Marx e Engels acolhe, fundamentalmente, dois tipos de comunicações: as que tomem a teoria marxista como objeto de pesquisa, seja para analisar essa teoria, criticá-la ou desenvolvê-la, e as que utilizem o aparato conceitual do marxismo em pesquisas empíricas ou teóricas que se enquadrem nos Grupos Temáticos desse evento.
Os pesquisadores interessados em inscrever seus trabalhos deverão indicar em qual Grupo Temático eles se inserem. Eventualmente, a Comissão Organizadora do VI Colóquio Internacional Marx e Engels poderá remanejar a distribuição das propostas de um grupo para outro.
Os Grupos Temáticos do V Colóquio são os seguintes:


GT 1 - A obra teórica de Marx
Exame crítico das obras de Marx e de Engels. As polêmicas suscitadas pela obra teórica de Marx e Engels.

GT 2 – Os marxismos
Exame crítico das obras dos clássicos do marxismo dos séculos XIX e XX. As correntes do pensamento marxista e suas transformações. A obra teórica dos marxistas brasileiros e latino-americanos. A questão da renovação e atualização do marxismo.

GT 3 - Marxismo e ciências humanas
Exame da presença do marxismo na economia, na sociologia, na ciência política, na antropologia, na história, na área de relações internacionais, na geografia, no serviço social e no direito. Exame da crítica marxista das ciências humanas e das contribuições das ciências humanas para o desenvolvimento do marxismo. Polêmicas teóricas e desenvolvimentos conceituais do marxismo nessas áreas de conhecimento. A presença do marxismo na universidade brasileira e latino-americana.

GT 4 - Economia e política no capitalismo contemporâneo
Enfoque marxista das transformações econômicas, políticas e sociais do capitalismo no final do século XX e início do século XXI. Novos padrões de acumulação de capital, nova fase do imperialismo, transformações do Estado e da democracia capitalista. A situação dos países dominantes e dos países dependentes. Brasil e América Latina.

GT 5 - Relações de classe no capitalismo contemporâneo
Enfoque marxista das transformações ocorridas na estrutura de classes. Trabalhadores, classe operária, “nova classe operária” e “classe média”. A pequena burguesia. O campesinato no capitalismo atual. O debate sobre o declínio da polarização de classes no final do século XX e início do século XXI. As classes trabalhadoras e os movimentos sociais e populares. A nova configuração da burguesia. As classes sociais no Brasil e na América Latina. O conceito marxista de classe social e de luta de classes face ao capitalismo contemporâneo.

GT 6 - Educação, capitalismo e socialismo
As relações do sistema educacional com o capitalismo da perspectiva marxista: formação da força de trabalho; educação e classes sociais; ideologia e processo educacional; política educacional. Análise marxista da educação no Brasil e na América Latina. Os aparelhos culturais do capitalismo (universidades, centros de pesquisa). Os centros culturais criados pelo movimento socialista. Análise das experiências educacionais realizadas nas sociedades surgidas das revoluções socialistas do século XX. A teoria marxista e a educação.

GT 7 - Cultura, capitalismo e socialismo
Capitalismo e produção cultural: as novas tendências; as artes plásticas, a literatura e a indústria cultural. Análise marxista da cultura no Brasil e na América Latina. Cultura e socialismo: os movimentos culturais nas sociedades surgidas das revoluções do século XX. O marxismo e a produção cultural.

GT 8 - Socialismo no século XXI
Análise marxista das revoluções do século XX. A herança comunista e socialista dos séculos XIX e XX e o socialismo do século XXI. Marxismo e socialismo. A questão da renovação do socialismo. Teoria da transição ao socialismo. Trabalhadores e transição socialista. Trunfos e obstáculos para a reconstrução do movimento socialista no século XXI.

GT 9 – Trabalho e produção no capitalismo contemporâneo
Teoria social, trabalho e produção. As concepções teóricas sobre o universo produtivo. Processos de produção: processo de valorização e processo de trabalho. Controle e gestão do processo de trabalho. Luta de classes na produção. Precarização das condições de trabalho e emprego e requalificação da força de trabalho. Teorias sobre a afirmação e recusa da centralidade do trabalho. As novas formas de exploração do trabalho: trabalho imaterial, trabalho informal, precário e informacional.

Inscrição de trabalhos

A inscrição de trabalhos poderá ser feita entre 2 de março e 15 de junho de 2009. O pesquisador deverá preencher a ficha de inscrição na página do Cemarx (
www.unicamp.br/cemarx). Além disso, deverá enviar duas cópias impressas de seu trabalho para o Cemarx, juntamente com uma cópia da ficha de inscrição. Atenção! O autor deverá indicar na parte externa do envelope e de modo visível:
a) o Grupo Temático (GT) para o qual está enviando sua comunicação ou proposta de mesa coordenada;
b) o seu endereço postal completo e o seu endereço eletrônico.

Modalidades de inscrição para apresentação de trabalhos

1. Comunicações

O texto da comunicação deverá conter entre quinze e vinte e quatro mil caracteres (contando espaço e notas), perfazendo um máximo de dez páginas, em times new roman 12. As propostas de trabalho que ultrapassarem esse limite não serão consideradas. Do texto, deverão constar: nome do evento, o título do trabalho, o nome do(s) autor(es) e a sua(s) condição(ões) (professor, pós-graduando ou pesquisador independente), GT a que se destina. O texto do trabalho deve definir claramente o tema que será examinado, a metodologia utilizada na pesquisa e apresentar as suas teses e argumentos e explicitar o debate (teórico, historiográfico ou político) no qual o trabalho se insere. Importante! Os textos devem seguir as normas de citação apresentadas na página do Cemarx.

2. Mesas coordenadas

Uma mesa coordenada é composta de um conjunto de ao menos quatro comunicações inscritas no âmbito de um GT. Um número reduzido de mesas coordenadas serão aceitas, privilegiando nesta modalidade de inscrição propostas encaminhadas por grupos, núcleos ou centros de pesquisa, bem como associações científicas e culturais. As comunicações dos participantes da mesa, formatadas de acordo com o item anterior, deverão ser enviadas conjuntamente, acompanhadas de uma breve justificativa da mesa. Cabe à instituição proponente obter os recursos necessários à participação dos componentes da mesa.


3. Pôsteres

O VI Colóquio Internacional Marx e Engels está aberto à participação de estudantes de graduação, que poderão apresentar trabalhos de pesquisa de iniciação científica ou de conclusão de curso cujos temas se enquadrem em um dos Grupos Temáticos do colóquio.
O resumo do trabalho deverá conter de três a cinco mil caracteres (contando espaço e notas) em times new roman 12. Do texto deverão constar o título do trabalho, o nome do autor e o curso de graduação no qual ele está matriculado. O texto deve apresentar o tema da pesquisa e as suas principais idéias e informações. As instruções para a confecção do pôster serão publicadas na página eletrônica do Cemarx.

Divulgação de resultados

As inscrições encerram-se no dia 15 de junho. Os trabalhos aceitos serão divulgados na página do Cemarx, conforme o cronograma abaixo:
a) 30 de julho: comunicações;
b) 15 de agosto: pôsteres.
Os resultados serão divulgados quatro meses antes do início do evento para que todos tenham tempo de solicitar financiamento às agências de fomento e universidades, uma vez que o Cemarx não pode financiar os participantes do evento.


Programação geral




3/11
4/11
5/11
6/11
9:00-12:00

Sessão Plenária II
Sessão Plenária III
Reunião dos GTs
12:00-14:00

Painéis
Painéis
Painéis
14:00-18:00
Sessão Plenária I
Mesa Coordenadas
Reunião dos GTs
Sessão Plenária IV
18:30

Lançamento de Livros
Lançamento de Livros

19:00
Reunião dos GTs
Reunião da Revista
Crítica Marxista
Reunião da Revista
Outubro
Jantar de encerramento

Endereços e contatos

Inscrições:
Centro de Estudos Marxistas (Cemarx), IFCH-Unicamp
Caixa Postal 6110 CEP 13083-970 Campinas SP ‑ Brasil
(5519) 3521-1639/
www.unicamp.br/cemarx/ cemarx@unicamp.br

Informações (a partir de 01 de agosto de 2009):
Secretaria de Eventos do IFCH-Unicamp (5519) 3521-1601 / seceven@unicamp.br

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Bolívia, Palestina e a democracia violada


A vitória do “sim” no referendo convocado na Bolívia para decidir a questão da reforma constitucional do país, deve ser saudada como um importante marco no processo de radicalização democrática no país irmão. As grandes massas da população boliviana – formada majoritariamente por indígenas de diversas etnias - atenderam ao chamado do governo de Evo Morales e foram às urnas colocar seu voto em favor daquilo que está sendo chamado pelos defensores da nova carta constitucional de “refundação do país”. O processo de votação foi claro e limpo, tal como atestado pelos observadores internacionais da OEA (Organização dos Estados Americanos) e do Mercosul. Todo o processo representa um compromisso ativo do governo boliviano com a democratização de seu país, no entanto, importantes setores políticos e econômicos da sociedade boliviana, dirigidos pelas elites empresariais, (os partidários do “não”) recusam-se a reconhecer o resultado do pleito e anunciam sua disposição de desacatar a nova constituição aprovada pelo povo.


Há três anos atrás ocorreu nos territórios palestinos uma das mais transparentes, limpas e democráticas eleições da história do Oriente Médio. Neste pleito, a população palestina, em ampla maioria, como confirmado pelos observadores internacionais presentes, escolheu o Hamas (uma organização sócio-político-militar baseada no islamismo integrista e nascida da Intifada popular contra a ocupação israelense) para dirigir a Autoridade Nacional Palestina, no lugar do partido do falecido dirigente Yasser Arafat (Al Fatah) acusado de corrupção endêmica. A vitória do Hamas significou claramente a insatisfação da população palestina com a ocupação militar israelense, com a corrupção de seus próprios dirigentes e sua adesão inabalável ao projeto de construção de um verdadeiro e viável Estado Palestino. Apesar de sua forma e conteúdo profundamente democráticos, a “comunidade internacional”, Israel, e o Al Fatah, recusaram-se a aceitar a vitória eleitoral do Hamas, o que deu origem a uma guerra civil nos territórios palestinos, sua divisão (a Cisjordânia sob controle do Al Fatah, e a Faixa de Gaza sob controle do Hamas) e o recente genocídio perpetrado pelos israelenses na Faixa de Gaza.


O que há de profundamente semelhante nestes dois episódios é o fato de que comprovam a tese defendida pelos socialistas a respeito da estrutural e crescente incompatibilidade entre o capitalismo transnacional contemporâneo e o ideal democrático. Do ponto de vista teórico, os intelectuais a serviço do status quo trabalham no sentido de consolidar uma concepção de democracia mutilada e deformada que não passa de um conjunto de mecanismos e técnicas de “circulação de elites”, tanto mais “séria” e “madura” quanto mais imune ao efetivo exercício da soberania popular. Do ponto de vista prático, e escorados em sua concepção teórica, os representantes políticos dos interesses do capital investem pesado, com todos os meios dos quais dispõem, contra a soberania popular em todas as latitudes e situações em que ela estabelece uma ruptura com os pressupostos da elite do capital. É a soberania popular sendo atacada em nome da “democracia”. Os verdadeiros democratas devem ter clareza desta aguda contradição para que possam se posicionar do lado certo nos presentes choques manifestos entre democracia e liberalismo (do ponto de vista teórico) e democracia e capitalismo (do ponto de vista prático).

A sociologia das finanças e o Brasil

Recentemente publiquei um texto neste blog criticando o silêncio impotente das vertentes hegemônicas da sociologia diante da crise econômica internacional, o que configura uma séria crise da sociologia enquanto ciência da sociedade. No entanto, é preciso fazer justiça e reafirmar que este não é o quadro todo, existem determinados campos da ciência sociológica que têm se colocado à altura das tarefas e desafios cognitivos do presente e contribuído profundamente para o desvelamento da realidade social tal como ela é.


Na última semana eu pude tomar contato com os escritos do professor Roberto Grün da UFSCar que se dedica à construção e aprofundamento da sociologia das finanças no Brasil. As pesquisas e conclusões de Grün são fantásticas e revelam todo o potencial crítico da ciência sociológica quando a serviço da compreensão e explicação da efetiva realidade social. A sociologia das finanças de Roberto Grün é fundamental para dar acesso à “caixa-preta” do mundo financeiro no Brasil contemporâneo, e mais, aos processos e dinâmicas que têm conduzido a evolução mais recente de toda nossa sociedade. Disponibilizo aqui o link de um de seus artigos disponíveis na rede: http://www2.ufscar.br/uploads/nefesi.pdf


Boa leitura!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Democracia e participação em Campos

É com satisfação que participo, agora, pela primeira vez da Rede Blog tentando dar uma contribuição ao debate proposto sobre a questão das formas através das quais seria possível garantir uma participação popular direta na vida pública do município.
Tentarei ser bem breve e apenas pontuar algumas questões que considero fundamentais sobre o tema:

1) Radicalização democrática:

Em primeiro lugar acho importante deixar claro que sou um defensor da causa da radicalização da democracia, ou, o que dá no mesmo, de libertar a democracia dos limites impostos a ela pelo modelo liberal-conservador que a mutila e deforma. Segundo os defensores da democracia “poliárquica” (segundo um dos principais representantes teóricos do liberal-conservadorismo), esta significa apenas uma técnica para a competição entre elites políticas pelos votos dos eleitores. Bem de acordo com sua concepção rigidamente empresarial e mercantil de sociedade, o papel da democracia seria simplesmente o de consolidar o espaço da política como um mercado onde as elites políticas concorreriam entre si e, utilizando as modernas técnicas do marketing, disputariam os eleitores tal como as empresas fazem com os consumidores. Em resumo, nesta visão, infelizmente hegemônica em nossos dias, o cidadão é reduzido a um mero consumidor no mercado da política eleitoral.
Uma outra posição, a que defendo juntamente com os clássicos do pensamento democrático e com os críticos do cinismo neoconservador, entende que democracia não é apenas uma técnica para a formação de governos, mas sim um modelo de sociedade. Neste sentido a democracia deve ser entendida como processo, ou seja, não como simples conjunto estático de regras eleitorais, mas sim como a permanente democratização da sociedade, o que, em última análise, significa a garantia da soberania popular e a progressiva diminuição da distância, formal e de conteúdo, entre governados e governantes. Desta forma a democracia não pode ficar limitada aos assépticos e pasteurizados mecanismos da democracia representativa, mas deve incorporar, progressivamente, novos canais de expressão da soberania popular por meio da democracia participativa.

2) Participação e cooptação:

Entendo que a existência de canais e mecanismos de abertura para a participação popular nos processos de tomada de decisão pública pode adquirir um caráter progressista ou não. Se estivermos nos referindo a uma participação submetida aos artifícios do controle do clientelismo governamental, manipulando massas de populares dirigidos rigidamente por seus chefes e patrões políticos, esta participação terá, certamente, muito pouco de um conteúdo verdadeiro de democratização política e social. No entanto, se a participação popular se realiza a partir de organismos da sociedade civil verdadeiramente ativos e independentes dos favores governamentais, aí sim, é possível falar de um avanço democrático.
Desta forma entendo que a primeira tarefa que cabe aos cidadãos e cidadãs campistas vinculados a um ideal de democratização ( e moralização) político-social no município é contribuir no desenvolvimento da organização da sociedade civil campista. Existem algumas iniciativas muito interessantes que poderiam servir de referência para nossa reflexão local. Por exemplo, em alguns municípios do Brasil, como o Rio de Janeiro, existe um Fórum Popular do Orçamento que, impulsionado pelo vereador Eliomar Coelho do PSOL, reúne diversas entidades da sociedade civil (sindicatos, universidades, etc) e individualidades para a proposição, acompanhamento e fiscalização da questão orçamentária do poder público municipal. Algo que possivelmente poderia cumprir um papel extremamente importante e mobilizador em Campos, ainda que inicialmente minoritário, seria a organização de um fórum permanente de políticas públicas, onde as questões relativas à gestão municipal pudessem ser debatidas, gerando projetos, propostas e uma atividade de acompanhamento, fiscalização e publicização das ações do governo municipal.

Espero que esta contribuição seja de alguma validade para o aprofundamento do debate e vida longa à Rede Blog!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A elite da elite

Desde que comecei meus estudos em ciências sociais, um dos pesquisadores que mais me causou admiração foi professor da UFF, o uruguaio naturalizado brasileiro, René Dreifuss, lamentavelmente falecido. Apesar de seu livro sobre o golpe de 1964 (1964: a conquista do Estado) ser a obra sua mais famosa, é outro o que mais me impressiona: “A internacional capitalista”. Neste livro Dreifuss desenvolve sua teoria na qual afirma que a dominação de classe do empresariado no capitalismo não se reproduz devido a nenhum tipo de lógica inerente “ao capital”, mas sim, devido a ação planejada por aquilo que o autor conceituou, baseado no italiano Antonio Gramsci, como “elites orgânicas”.

As elites orgânicas são, em linhas gerais, organizações políticas pára-partidárias dedicadas à reprodução da dominação burguesa na sociedade capitalista. Reúnem em seu seio a vanguarda dos empresários, tecno-empresários, intelectuais, militares e políticos (estes com menor expressão) que se empenham em elaborar a estratégia política (em sentido lato) para garantir a viabilização prática dos interesses do grande capital na sociedade, com táticas adequadas a cada momento histórico.

No Brasil de hoje, existe uma organização que pode ser identificada como a principal elite orgânica capitalista em atividade: o Instituto Millenium. Esta organização que se constitui como “um centro de estudos, pesquisa, divulgação e formação em assuntos públicos de governo, política, economia, sociedade e cultura, que promove os valores e princípios de uma sociedade livre – liberdade individual, direito de propriedade, economia de mercado, estado eficiente, democracia representativa, estado de direito e limites institucionais à ação do governo”, deixa claro que o objetivo dos membros do grupo é “alcançar o público formador de opinião e o público em geral para garantir que nos tornemos uma força efetiva e poderosa em nome da liberdade econômica, política e cultural. A idéia, portanto, não é apenas produzir pesquisa, mas apontar soluções consistentes com nossa visão e divulgá-las.

Esta verdadeira elite da elite, constitui o núcleo duro dos interesses do grande capital no Brasil, em especial os setores da grande mídia corporativa, do capital financeiro e dos setores associados ao capital transnacional. Revestem-se da capacidade de se formar como a principal base de defesa do modelo neoliberal ortodoxo no país. Para todos aqueles, em maior ou menor medida, empenhados em tentar acompanhar os rumos da vida política brasileira, recomendo não perder de vista os movimentos realizados pelo Instituto Millenium enquanto força efetiva de organização e mobilização dos interesses do grande capital. Se alguém tiver dúvidas sobre a capacidade real desta organização, segue abaixo a lista com os seus integrantes retirada de sua página de Internet (www.imil.org.br)


Diretor Executivo

Paulo Uebel
Advogado, graduado pela PUC/RS. Especialista em direito tributario pela UFRGS. Certificado em Lideranca Global pela Georgetown University. Presidente do Instituto de Estudos Empresariais - IEE na Gestao 2005/2006.


Conselho de Governança e Mantenedores

Eduardo Viola
Professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, tem doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Foi professor visitante das universidades de Stanford, Colorado, Notre Dame e Amsterdam. Tem orientado dezenas de teses de mestrado e doutorado, é membro de vários comitês científicos nacionais e internacionais e conta com dezenas de artigos publicados em prestigiosos periódicos.

Gustavo H. B. Franco
Bacharel e mestre em Economia pela PUC-Rio, e possui os títulos de mestre e doutor pela Universidade de Harvard. No serviço público foi secretário de política econômica (adjunto) do Ministério da Fazenda, diretor de assuntos internacionais e presidente do Banco Central do Brasil. Participa de diversos conselhos de administração, consultivos e de eventos corporativos como palestrante. Em paralelo, mantém algumaatividade acadêmica (aulas e pesquisas) e escreve para jornais e revistas. Seus escritos podem ser encontrados em sua home page: www.econ.puc-rio.br/gfranco.

Gustavo Marini
Sócio-fundador da Turim Family Office. Foi diretor-presidente do Santander Brasil Asset Management e do Santander Brasil Private Equity, enquanto diretor ­ executivo do Banco Santander do Brasil. Foi executivo do Banco de Investimentos Garantia e diretor ­ executivo do banco Bozano, Simonsen. Tem MBA pela COPPEAD / UFRJ e M.Sc. em Business pelo MIT ­ Massachussets Institute of Technology.

Helio Beltrão Filho
Foi executivo do Banco CSFB Garantia, é membro do Conselho do Grupo Ultra e sócio da Gestora de Recursos Sextante Investimentos. Tem MBA na Universidade de Columbia de NY.

João Roberto Marinho
Vice-presidente das Organizações Globo.

Jorge Gerdau Johannpeter
Presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau.

Luiz Eduardo Vasconcelos
Foi diretor executivo das Organizações Globo e é atualmente membro do Conselho de Administração da Infoglobo e do Conselho Editorial das Organizações Globo. É engenheiro pela Universidade Gama Filho.

Maristela Mafei
Sócia-diretora e fundadora do grupo Máquina, agência de comunicação. Formada em Jornalismo pela PUC-SP, foi repórter da Folha de S.Paulo e editora da revista Globo Rural. Trabalhou também no Departamento de Pesquisas da Rede Globo e atuou como produtora na rádio e na televisão Cultura.

Patrícia Carlos de Andrade (Presidente)
Economista, graduada, com mestrado pela PUC-RJ, tendo cursado, sem concluir a tese, o programa de doutorado da Universidade da Pensilvânia. Trabalhou nos bancos Icatu e JPMorgan.Autora do livro “Oriente-se Guia de Profissões e Mercado de Trabalho”, lançado em 2000. Foi diretora executiva do Instituto Millenium no periodo de 2005 a 2008.

Paulo Guedes
Sócio e diretor-estrategista da Fiducia, além de membro de seu Comitê Executivo. Foi diretor e um dos sócios fundadores da JGP Asset Management. Foi também sócio-fundador do Banco Pactual S/A esócio-presidente do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais ­ - IBMEC. Mestre e PhD em Economia pela Universidade de Chicago, foi professor da EPGE-FGV, do departamento de economia da PUC-Rio e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada.

Pedro Henrique Mariani
Presidente do banco BBM.

Roberto Civita
Presidente do Grupo Abril.

Sérgio Foguel
Conselheiro de Administração da Odebrecht S.A.

Washington Olivetto
Publicitário, Diretor de Criação e Presidente da W/Brasil.

William Ling
Diretor Presidente do grupo Petropar.


Conselho Fiscal

Augusto Teixeira de Freitas
Diretor-sócio da Ativa S.A.

Odemiro Fonseca
Empresário

Paulo Áreas
Economista.


Conselho Editorial

Antonio Carlos Pereira
Editor de editorias e opinião do Jornal Estado de São Paulo.

Eurípedes Alcântara
Trabalhou no jornal O Globo e está na Veja há 25 anos. Começou como chefe de Belo Horizonte e em seguida fez carreira na redação de Veja, tendo sido editor-assitente, editor, editor-executivo, correspondente em Nova York, redator-chefe e, até março de 2004, diretor adjunto. Hoje é diretor da redação de Veja e recentemente assumiu também a diretoria editorial das revistas Veja São Paulo e Veja Rio.


Conselho de Fundadores e de Curadores

Armando Castelar Pinheiro
Pesquisador e professor de Economia diplomado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1977, mestre em MatemáticaAplicada (Instituto de Matemática Pura e Aplicada, IMPA, 1981) e em Administração (COPPEAD/UFRJ, 1983) e PhD. em Economia pela University of California, Berkeley, em 1989. Desde 1990 é professor adjunto do Instituto de Economia da UFRJ. Atualmente é membro da Comissão de Economia da Federação Brasileira de Bancos, pesquisador do Instituto de Pesquisa Economia Aplicada/IPEA e articulista do jornal Valor Econômico, SP. Possui ampla produção acadêmica, publicada em revistas e livros, no Brasil e no exterior.

Carlos Pio
Professor de economia política internacional da Universidade de Brasília ­ UnB e é mestre e doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro - IUPERJ. Entre suas publicações, destacam-se: “A Estabilização Heterodoxa no Brasil: idéias e redes políticas” e “Liberalização do Comércio: padrões de interação entre elites burocráticas e atores sociais”, incluído no volume Reforma do Estado e Democracia no Brasil.

Héctor Leis
Doutor em filosofia, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e autor de numerosos trabalhos nas áreas de filosofia política, relações internacionais, e sociologia ambiental.

João Accioly
Estudante de Direito da PUC-Rio e trabalha no escritório Macêdo, Lobo & Advogados. Foi premiado pelo Instituto Liberal em 2005 - II Prêmio Donald Stewart, Jr., com o ensaio: “Brasil: A Caminho da Servidão”.

Jorge Maranhão
Publicitário, consultor, escritor, mestre em Filosofia pela UFRJ, autor de A Arte da Publicidade e de Mídia e Cidadania, além de outros livros de ficção. Tem colaborado com artigos de opinião sobre mídia, cidadania, arte, cultura, política e comunicação nos principais jornais do país. Atualmente, produz e apresenta os Boletins da Voz do Cidadão nas rádios Globo e CBN.

Maria José de Queiroz
Doutora em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais e professora catedrática, por concurso, da mesma Universidade. Visiting professor da Univesidade de Indiana, nos Estados Unidos, professeur associée da Universidade de Paris-Sorbonne, professora convidada de inúmeras universidades européias, vem associando o exercício do magistério ao estudo e à pesquisa de grandes temas que interessam à literatura geral, à filosofia, à antropologia à história das idéias.

Raphael Tosti de Almeida Vieira
Jornalista formado na PUC-RIO.

Rodrigo Constantino
Economista pela PUC-Rio, com MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalha no mercado financeiro desde 1997. É autor dos livros Prisioneiros da Liberdade e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, e Egoísmo Racional - o individualismo de Ayn Rand.


Membros Colaboradores

Alberto Oliva
Filósofo, escritor e professor da UFRJ. Mestre em Comunicação e Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor-palestrante da EGN (Escola de Guerra Naval) e da ECEME (Escola de Comando e Estado-maior). Pesquisador 1-A do CNPq. Possui sigficativas publicações como “Liberdade e Conhecimento”, “Ciência e Sociedade. Do Consenso à Revolução”, “A Solidão da Cidadania”, “Entre o Dogmatismo Arrogante e o Desespero Cético” e “Ciência e Ideologia”.

Antônio Carlos Salles
Possui uma sólida carreira na área de Assuntos Corporativos, Comunicação Corporativa e Relações Governamentais, desenvolvida em empresas como Ciba-Geigy, Perdigão e Novartis. Atualmente, ocupa a posição de Diretor de Assuntos Corporativos e Relações Governamentais da Bristol-Myers Squibb. É formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Pará, em Publicidade e Propaganda pela Faculdade Cásper Líbero, pós-graduado em Gestão de Processos Comunicacionais pela ECA/USP e em Formação Política pela Escola de Governo. Ari Francisco de Araújo Jr Professor e pesquisador do IBMEC-MG e do Instituto de Desenvolvimento Humano Sustentável da PUCMINAS.

Ari Francisco de Araújo Jr.
Economista graduado pela Universidade de São Paulo (1998) com mestrado em Teoria Econômica pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001). Atualmente é professor assistente III do Ibmec Minas e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Claudio Considera
Professor da Faculdade de Economia e Finanças do Ibmec e do Departamento de Economia da UFF, e consultor econômico do escritório Fontes, Tarso Ribeiro Advogados.

Demetrio Magnoli
Formou-se em Ciências Sociais e Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). É doutor em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Fernando Veloso
Economista, professor, coordenador do Mestrado em Economia do Ibmec/RJ, Ph.D. pela University of Chicago e autor de diversos artigos.

Guilherme Fiúza
Jornalista, colunista do site No Mínimo e titular do blog Política & Cia. É autor dos livros “Meu Nome não é Johnny” e “3000 Dias no Bunker”.

Gustavo Ioschpe
Formado magna cum lauda na University of Pennsylvania ­ Strategic Management (B.S., Wharton School), Ciência Política (B.A., College of Arts and Sciences). Mestre em Desenvolvimento Econômico e Economia Internacional ­ Yale University. Autor de Como Passar no Vestibular da UFRGS (1995), Vestibular não é o Bicho (1996, 2ª ed 1997) e A Ignorância Custa um Mundo ­ O Valor da Educação no Desenvolvimento doBrasil (2004), além de co-autor de diversos outros livros. Colunista da Folha de S. Paulo (1996-2000), Folha Online (2000-01), Gazeta Vargas (FGV-SP, 2002) e revista Educação (2005- ). Autor de artigos publicados, inter alia, em Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo, Zero Hora, Carta Capital e Istoé. Consultor de projeto do Banco Mundial/PNUD para o Ministério da Educação do Brasil sobre financiamento internacional de educação (2005-…). Vencedor do Prêmio Jabuti 2005 e recipiente de menção honrosa do Senado Federal pelo livro A Ignorância Custa um Mundo. Fundador e presidente da G7 Investimentos. Conselheiro da Iochpe-Maxion S.A. e Fundação Ioschpe.

José Andrés Lopes da Costa
Advogado, trabalha com direito tributário e societário, sócio da Rennó, Aragão & Lopes da Costa. Leciona Contratos Financeiros na FGV - DIREITO na pós graduação. Foi professor do curso de Direito Tributário Internacional da pós-graduação em Direito Internacional da PUC - RJ e professor substituto de Direito Comercial e Societário da UFRJ. Hoje trabalha internamente no Grupo Bozano.

Maria Helena Zockun
Economista, pesquisadora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), atualmente exercendo a função de coodernadora de pesquisas da instituição.

Mario Cesar Flores
Almirante-de-Esquadra (Reformado), ex-Ministro da Marinha e da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Modesto Carvalhosa
Advogado atuante na área do direito societário.

Octavio Amorim Neto
Professor de ciência política da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE), da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro. É autor de Presidencialismo e Governabilidade nas Américas (Rio de Janeiro: FGV Editora e Konrad-Adenauer-Stiftung, 2006)

Pedro Bial
Jornalista e apresentador de televisão. Ex-correspondente internacional da Rede Globo em Londres, no início da década de 1990 cobriu eventos importantes como a Guerra do Golfo, o colapso da União Soviética e a queda do Muro de Berlim. Trabalhou no Jornal Hoje e nos programas Globo Repórter e Fantástico. Atualmente comanda o reality show Big Brother Brasil.

Roberto DaMatta
Um dos mais ilustres antropólogos brasileiros. Ocupa a Cátedra Reverend Edmund P. Joyce, CSC da Universidade Notre Dame, em Indiana, Estados Unidos. É autor de vários estudos importantes, entre os quais se destacam “Carnavais”, “Malandros e Heróis”, “A Casa & a Rua” e “O que faz o brasil, Brasil?”.

Sérgio Coelho
Advogado, sócio de Coelho, Ancelmo & Dourado Advogados, Pós Graduado em Direito da Economia e da Empresa (FGV/RJ), professor convidado da Escola de Pós Graduação em Economia (EPGE) da FGV/RJ, membro do Conselho de Representantes da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro e Conselheiro do SESC/RJ.

Silvério Zebra
Diretor-Presidente do PROBUS Consulting Group (licenciado 2004-2007) e Coordenador do Programa de Estudos Interamericanos do Centro de Estudos das Américas da Universidade Cândido Mendes (PIAM/CEAs/UCAM). Economista do BNDES com diplomado em Economia Social de Mercado pela Universidad Miguel de Cervantes (Santiago, Chile) e Mestrando em Relações Internacionais na PUC-Rio (com extensão na International Leadership Academy da Universidade das Nações Unidas (Amã, Jordânia)). Consultor e observador internacional da OEA, PNUD, União Européia, IRI (EUA), KAS (Alemanha), FAES (Espanha), ODCA (Chile) e DDC (Cuba). É representante-residente da The Graduate School of Political Management at The George Washington University (GSPM/GWU) no Brasil.

Walter de Mattos Junior
Economista graduado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro ­ UERJ, com cursos de pós-graduação em negócios pela London Business School (LEP) e em administração (SEP) pela Insead França, curso de extensão em gestão pelo IMD Suíça e MBA Executivo em finanças pelo IBMEC. Foi vice-presidente do Grupo “O Dia” durante 9 anos. Fundou em 1997 e é presidente e editor do Grupo LANCE!, o primeiro diárionacional de esportes do Brasil; também foi fundador e membro do Conselho do Viva Rio. Membro do Conselho de Administração da Lorentzen (Aracruz Celulose, Norsul Navegação e Ideiasnet).


Equipe

Cristina Camargo
Bacharel em Comunicação Social pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Luiz Felipe Costamilan
Bacharelando em Administração na PUC-RJ.

Julliane Fuly
Bacharelanda em Administração na PUC-RJ.

Christianne Mattos
Bacharelanda em Direito na Universidade Estácio de Sá.


Gestor do fundo patrimonial

Armínio Fraga
Ex-Presidente do Banco Central do Brasil (março de 1999 a dezembro de 2002). Anteriormente, ocupou durante 6 anos o cargo de Diretor Gerente da Soros Fund Management LLC em Nova York. Durante 1991-92, ocupou o cargo de Membro da Junta de Diretores e Diretor do Departamento de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil. Trabalhou em Salomon Brother em Nova York e no Banco de Investimentos Garantia, no Brasil. Atualmente, é professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. Lecionou também na Escola de Assuntos Internacionais da Universidade de Colúmbia, na Escola Wharton e na Universidade Católica do Rio. É Doutor em Economia formado na Universidade de Princeton

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O programa da FIESP


Os efeitos da crise econômica vêm, cada vez mais, se impondo no Brasil e diante deles os diferentes setores da sociedade vão demarcando suas posições no campo de batalha político-social. De um lado, grande parte do movimento sindical afirma a exigência de investimentos governamentais de estímulo anti-cíclico e combate às demissões, o setor financeiro busca garantias governamentais por meio da estatização dos riscos (e prejuízos), outros setores do grande capital, principalmente da indústria, (liderados pelo presidente da Vale do Rio Doce) propõem a suspensão dos direitos trabalhistas e, na prática, já se lançam em uma política agressiva de demissões. O governo Lula, por sua vez, começa a evidenciar, de modo relativamente dramático, as contradições contidas na sua natureza de precária composição social ampla hegemonizada pelos interesses do grande capital. Enquanto alguns setores do governo desenham medidas anti-cíclicas, o Banco Central, contra praticamente o país inteiro, segura nas alturas as taxas de juro.

Diante do avanço das demissões na indústria paulista, principalmente entre as montadoras de automóveis, recentemente apoiadas com recursos públicos destinados pelo governo federal, o ministro do trabalho Carlos Lupi reagiu e anunciou a possibilidade de impor às empresas auxiliadas pelo governo federal uma contrapartida baseada na garantia de estabilidade aos trabalhadores. O anúncio do ministro agitou os meios empresariais, porque a exigência de estabilidade no emprego no contexto de crise é uma bandeira clássica dos programas de luta das organizações políticas e sindicatos da classe trabalhadora. Ontem à noite, o editorial do Jornal da Globo deu o alarme em relação ao anúncio do ministro. Hoje a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) anunciou um programa de combate aos efeitos da crise, baseado na redução da jornada de trabalho com redução de salários e sem estabilidade no emprego. Ou seja, os industriais não querem ceder nada, garantem a manutenção da sua margem de ganhos, e da sua plena autonomia administrativa e produtiva, e os trabalhadores, assistem à precarização de suas condições de trabalho como ante-sala de suas potenciais e possíveis futuras demissões.

É importante ficar claro que neste momento não há muro para se ficar em cima, na crise sempre alguém perde, os empresários perdem parte de seus lucros e de sua autonomia ou os trabalhadores perdem renda, emprego e dignidade. Cabe ao governo federal colocar-se, concretamente, de um destes lados. A trajetória pregressa do governo Lula não promete muitas notícias positivas, mas é bem possível que suas contradições internas se agucem no contexto de aprofundamento da crise e das conseqüentes disputas político-sociais que se avizinham. É hora de exigir do governo um programa que seja, em essência, oposto ao programa da FIESP. A manutenção e ampliação do poder aquisitivo dos trabalhadores é um elemento fundamental no combate aos efeitos recessivos da crise. Não basta o presidente Lula falar aos trabalhadores para que eles consumam, porque diante do risco de desemprego os trabalhadores vão reduzir as compras. É necessária uma política estatal de combate às demissões que utilize mecanismos coercitivos – em maior ou menor medida - sobre as grandes empresas, principalmente. A crise avança e a luta deve fazer o mesmo.

A sociologia, a crise e o silêncio


A presente crise econômica internacional, como não poderia deixar de ser, tem remexido em áreas que, em princípio, não estariam imediatamente relacionadas à esfera econômica stricto senso. Uma destas áreas é a do pensamento. Para além da questão que vem sendo colocada em relação à crise do pensamento neoliberal ortodoxo, gostaria de fazer uma reflexão sobre um outro aspecto: a relação entre a crise econômica e a sociologia enquanto ciência.


É possível concordar com Georg Lukács – e eu sou um dos que concordam – quando ele afirma que a sociologia nasce enquanto vertente do pensamento na Alemanha (mas não apenas lá) como uma reação de corte burguês ao empreendimento intelectual iniciado por Marx e Engels dedicado a buscar compreender e explicar o “ser social” com base nos fundamentos do materialismo e da dialética (que, em si, pressupõe a história). Do ponto de vista de Lukács, é por isto que a sociologia nascerá como uma tentativa de compreender e/ou explicar a vida social prescindindo da economia (enquanto área de atividades da vida humana).


Entendo que, mesmo concordando com Lukács, não é necessário e nem desejável descartar a sociologia enquanto projeto científico em função deste seu “vício de origem”, o fato é que em nossos dias, o caráter, por assim dizer, anti-econômico da sociologia se expressa com uma força impressionante nos meios acadêmicos. Acredito que esta seja, provavelmente, a causa do constrangedor silêncio da maior parte dos “figurões” daquilo que Clóvis Moura chamou de “sociologia acadêmica” diante da crise econômica mundial que vem se estabelecendo e se aprofundando.


A orientação de construir a sociologia como uma ciência que estuda a vida social apenas a partir do âmbito cultural, político ou da articulação entre ambos, excluindo qualquer consideração sobre a dinâmica da atividade econômica, tem desarmado a nossa ciência (e grande parte de nossos cientistas) para enfrentar os desafios cognitivos relativos à compreensão/explicação do mundo social, o que, por sua vez, tem marginalizado a sociologia frente a “grande ciência social”: a economia (também, por sua vez extremamente empobrecida e precarizada em sua vertente dominante).


A abordagem culturalista e politicista hegemônica na sociologia contemporânea precisa ser rapidamente revista se quisermos garantir algum papel efetivo à nossa ciência na vida real. A integração da vida econômica nos estudos sociológicos é um empreendimento tão necessário quanto plenamente possível, como o prova a trajetória de grandes nomes da sociologia: Florestan Fernandes (principalmente aquele da “Revolução burguesa no Brasil”), Octavio Ianni, Rui Mauro Marini, Francisco de Oliveira, etc. Só para ficarmos no Brasil.


Não é necessário concordar com os marxistas ou filo-marxistas e atribuir à economia o papel de determinante em última instância da vida social, mas excluir a esfera econômica da análise do social é condenar a sociologia à esterilidade intelectual e prática.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Banco do Brasil e os Ermírio de Moraes

Na semana passada o governo anunciou a compra de uma boa parte do Banco Votorantin pelo Banco do Brasil. O ministro Guido Mantega fez questão de enfatizar, diante da imprensa, que esta era uma operação de grande significado no que diz respeito ao fortalecimento do sistema financeiro no Brasil, no entanto, alguns analistas mais críticos, como o professor Reinaldo Gonçalves do Instituto de Economia da UFRJ, não compartilham do mesmo entusiasmo do ministro e preocupam-se com as motivações ocultas e menos festivas que levaram a esta operação. Confira abaixo a entrevista concedida pelo professor á Radioagência NP divulgada no portal da Agência Brasil de Fato (www.brasildefato.com.br).

Radioagência NP: Reinaldo. Como você avalia esta compra?

Reinaldo Gonçalves: Esse caminho está parecendo uma operação de resgate feita pelo governo federal, principalmente se levarmos em conta que o grupo Votorantin foi um dos grupos mais afetados pela crise cambial no último ano. Esse grupo teve grandes perdas em operações no mercado de derivativos em função de operações com dólares, com taxa de câmbio. O resultado é que o governo federal está de uma forma ou de outra atuando no sentido de evitar turbulências na área financeira.

Essa medida faz parte da política do governo para combater a crise financeira mundial?

No conjunto de baterias para enfrentar a crise financeira, uma delas é criar o que se chama empresa de gerenciamento de ativos. É o que a medida provisória 443 criou com a Caixa e o BB. Acontece que esse tipo de medida funcionou muito bem na Suécia, mas em vários outros países não funcionou, porque há problemas de avaliação dos ativos dos bancos que estão sendo comprados. Então, isso abre margem para muita prática oportunista.

E o que motiva o governo a adotar medidas como essa?

Essa é uma avaliação difícil de ser feita. O grupo Votorantin é um grupo grande, que tem patrimônio, que tem ativos substantivos, é um grupo politicamente muito importante no país, economicamente muito poderoso, então pode ser que o governo esteja fazendo política também. Agora o outro lado é saber se vale a pena o Banco do Brasil deslocar seus recursos para resgatar esse banco privado, que, na verdade, é um banco que há dez anos praticamente não existia. Outros bancos de grupos privados brasileiros quebraram, faliram, foram vendidos para outros bancos sem a necessidade de intervenção do setor público.

O governo alegou que com essa aquisição, o Banco do Brasil se aproxima muito do Itaú-Unibanco, o maior banco do país em termos de ativos. Isso faz a compra valer a pena?

Isso é um argumento absolutamente irrelevante. O problema é o que o Banco do Brasil faz em termos de políticas de crédito, de sua atuação, que tenha um impacto social, um benefício social significativo, que o Itaú não tem - é um banco privado que está interessado em acumulação do capital do banco e lucro dos acionistas. O Banco do Brasil não deve ter essa função. Então, não tem a menor relevância se o BB tem 80% ou 120% dos ativos equivalentes aos ativos do banco Itaú. E a dúvida que fica é que essa participação minoritária no grupo Votorantin não necessariamente melhora a relação benefício social.

Por quê?

O que o Banco do Brasil fez foi injetar recursos no Banco Votorantin e não controlando o grupo. Deixou o controle com o setor privado. Então, claramente isso é uma linha de crédito que um banco paraestatal está dando para o setor privado. Isso mostra o viés privatista do governo Lula. E você corre o risco de transformar o BB e a Caixa em hospital de bancos, o que aconteceu com o BNDES no passado.

E quais medidas você acha que deveriam ser adotadas?

A recomendação no caso específico dessa operação de resgate é que a sociedade civil tenha controle de fato sobre essas operações, porque isso dá margem para se criar um balcão com recursos públicos que a sociedade não sabe exatamente a relação de custo-benefício. Está no momento de fazer um saneamento, uma maior regulação e maior controle sobre o setor financeiro e, particularmente, sobre os bancos privados brasileiros que tem práticas comerciais restritivas muito sérias.

Passado e presente


Esta é mais uma excelente charge do artista e ativista brasileiro Carlos Latuff em solidariedade ao povo palestino.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

No caminho errado

Neste contexto de crise econômica mundial, é possível identificar claramente duas lógicas opostas de raciocínio se afirmando no que diz respeito à gestão pública. A primeira lógica é aquela que parte de uma compreensão superficial e incorreta da natureza da crise que assola a economia mundial, e que ao postar-se reverentemente diante do Deus-Mercado, entende que o poder público deve assumir um papel meramente passivo e supostamente defensivo diante da crise: cortando investimentos públicos e esperando a “crise passar”.

Este ponto de vista leva a uma maior redução da demanda no consumo, uma maior contração econômica e um aprofundamento do caráter recessivo da crise. Infelizmente este raciocínio preso às referências ideológicas do mesmo neoliberalismo que acionou a espoleta da crise, é o raciocínio que aparece expresso nos discursos da maioria dos prefeitos recém-empossados no país, e Campos não é uma exceção. A apatia intelectual e política diante da crise, promete apenas aprofundar os seus efeitos.

Por outro lado, o ponto de vista oposto em relação à crise, que parte de uma compreensão desta como uma grave crise do sistema capitalista como um todo, e não apenas como um mero abalo financeiro, entende que o poder público deve ter um papel ativo no combate aos efeitos recessivos da crise: impulsionando o investimento público como forma de ampliar a demanda, estimular a produção, criar condições para aumentar a arrecadação pública e dinamizar o processo anti-recessivo.

Esta lógica de raciocínio é aquela que entende que o poder público deve ser a expressão da soberania popular, e como tal, deve trabalhar ativamente, por todos os meios necessários, contra toda possibilidade de degeneração das condições de vida da maioria da população. É preciso combater a hegemonia do pensamento neoliberal que, consciente ou inconscientemente, tende a paralisar a ação dos gestores públicos diante da crise, tendendo a condenar as maiorias populares a uma queda no seu já insuficiente padrão de vida. Miseravelmente, de acordo com suas últimas declarações e ações, é possível afirmar que o governo municipal de Campos está no caminho errado.




Artigo publicado na edição de hoje do Monitor Campista.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Liberdade aos estudantes presos em Israel

Este blog se soma a campanha internacional em defesa da libertação dos jovens israelenses presos por se recusarem a invadir e massacrar palestinos em Gaza. Segue abaixo texto publicado na página da agência Carta Maior.


Estudantes israelenses presos por rejeitar alistamento pedem ajuda

No dia 18 de dezembro de 2008 foi iniciada uma campanha mundial em apoio aos estudantes israelenses presos por rejeitarem o alistamento no exército, por objeção de consciência. Os Shministim defendem um futuro de paz entre israelenses e palestinos e criticam a ação de seu país nos territórios ocupados. Eles esperam receber centenas de milhares de mensagens de apoio que serão entregues ao ministro da Defesa de Israel.

Os Shministim são jovens estudantes israelenses, todos com idade entre 16 e 19 anos, no final do segundo grau. Eles recusam o alistamento no exército de Israel por objeção de consciência. Estão presos por isso. Esses estudantes defendem um futuro de paz para israelenses e palestinos e negam-se a pegar em armas. Além da prisão, enfrentam uma enorme pressão da família, de amigos e do governo de Israel. No dia 18 de dezembro foi iniciada uma campanha mundial pela libertação desses jovens.

Os Shministim pediram ao grupo "Jewish Voice for Peace" para buscar pessoas em todo o mundo para pressionar o governo de Israel. Eles esperam receber centenas de milhares de cartões que serão entregues ao ministro da Defesa de Israel. Eles esperam representar não apenas os milhares que os precederam, não apenas os muitos jovens para quem eles são um exemplo, mas também querem representar pessoas de todo o mundo que querem a paz.Para enviar uma carta apoiando os estudantes israelenses, entre no
site dos Shministim.

Mais que palavras

Diante da criminosa e brutal ofensiva das forças armadas israelenses contra a população palestina da Faixa de Gaza, os governos do mundo inteiro foram incapazes de ir além de, quando muito, censurar verbalmente o caráter “desproporcional” do massacre imposto aos palestinos.

A pressão do governo estadunidense vem impedindo que qualquer iniciativa internacional mais efetiva se realize para por fim à ilegalidade monstruosa promovida pelo Estado de Israel. Neste contexto, deve ser aplaudida a iniciativa do presidente Hugo Chávez Frias da Venezuela. O governo venezuelano expulsou do país o embaixador israelense e o seu pessoal diplomático, em protesto contra a violação do direito internacional promovido por Israel.

Segundo o documento divulgado pelo ministério de relações exteriores da Venezuela, a comunidade internacional deveria se posicionar e tomar “medidas urgentes e necessárias para deter a invasão do Estado Israel contra o território palestino”, mais adiante o documento afirma que a ação do governo venezuelano contra a representação diplomática de Israel se legitima em função da "utilização planificada do terrorismo de Estado, com o qual este país se colocou à margem do concerto das Nações". Mais que palavras, o governo de Hugo Chávez conseguiu traduzir em atos o repúdio que a maior parte da opinião pública internacional sente em relação à truculência e bestialidade do militarismo israelense.

Parabéns Geraldo Gamboa!

Ontém à noite, em um simples mas aconchegante boteco, em frente ao estádio do Goytacaz, um dos mais importantes membros da velha guarda do samba campista, Geraldo Gamboa, comemorou com amigos e admiradores em uma animada roda de samba, os seus 80 anos de idade.
Geraldo Gamboa, compositor de talento inquestionável, homem de esquerda -identifica-se orgulhosamente com a causa do comunismo - é mais que um simples sambista, é o tipo de pessoa humana que precisa tornar-se uma referência muito mais em evidência na cidade. Parabéns Seu Geraldo, pelo que você fez, faz e é.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Qual solução final?


O paquistanês Tariq Ali, um dos mais importantes intelectuais do mundo islâmico, serviu-se da tribuna do jornal britânico The Guardian para cumprir três objetivos fundamentais no momento. 1) Condenar o massacre perpetrado pelo exército israelense no “Gueto de Gaza”. 2) Responsabilizar os governos dos EUA e da União Européia pela cumplicidade no genocídio que está sendo levado adiante na região. 3) Amplificar, no debate público, a reivindicação de construir em todo o território da Palestina (incluindo a parcela onde hoje se encontra Israel), um único Estado laico, democrático e binacional, como única saída viável para a solução do problema palestino.

A idéia de um único Estado palestino para as duas nações é uma reivindicação que vem ganhando cada vez mais terreno na opinião pública da região (principalmente entre os cidadãos árabes-israelenses) e é a possibilidade que mais aterroriza as lideranças sionistas e pode explicar muito da atual onda de terrorismo de Estado em Gaza, transformada, de fato, em um imenso campo de concentração. Abaixo segue um trecho do texto de Tariq Ali, a íntegra pode ser acessada no seguinte link:

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15453

Das cinzas de Gaza

O assalto a Gaza, em planejamento há mais de seis meses e executado em momento cuidadosamente selecionado, foi feito, como Neve Gordon observou corretamente, como instrumento de campanha eleitoral, com vistas às eleições do mês que vem e para manter no poder os partidos que estão hoje no governo de Israel. Os palestinos assassinados são trunfo eleitoral, numa disputa cínica entre a direita e a extrema-direita israelenses. Seus aliados em Washington e na União Européia, perfeitamente informados de que Gaza estava para ser atacada, exatamente como no caso do Líbano em 2006, sentaram e esperaram.

(...)

O verdadeiro problema dos EUA e da União Européia, motivo da oposição obcecada ao Hamas, é que o Hamas recusou-se a aceitar a capitulação implícita nos Acordos de Oslo, e, depois, de Taba a Genebra, tem-se recusado a esquecer as calamidades que EUA e a União Européia têm imposto aos palestinos. Desde Oslo, EUA e a União Européia têm, como prioridade, quebrar a resistência do Hamas. Cortar os financiamentos à Autoridade Palestina é instrumento óbvio, para minar a influência de qualquer iniciativa política local na Região. Outro, é inflar os poderes de Abbas – escolhido a dedo, por Washington, como, também, Karzai, em Cabul –, ao mesmo tempo em que minam a influência do Conselho Legislativo.


Não houve qualquer esforço sério na direção de negociar com as lideranças políticas eleitas na Palestina. Duvido muito que o Hamas se deixasse rapidamente subordinar aos interesses israelenses e ocidentais, mas se assim acontecesse, não seria o primeiro. O próprio Hamas carrega uma pesada hipoteca sobre os ombros, desde a formação: a fraqueza fatal do nacionalismo palestino, que sempre acreditou que só haveria duas vias, ou a completa rejeição de Israel ou a completa aceitação do desmembramento dos retalhos da Palestina, até ser reduzida a 1/5 de seu próprio território. Entre o delírio maximalista da primeira via, ao patético minimalismo da segunda, praticamente não há caminho para fora do abismo, como o demonstrou a história do Fatah.


O teste de vida e morte para o Hamas, não é ser ou não ser 'adaptado' de modo a tornar-se palatável para a opinião pública ocidental, mas, sim, conseguir separar-se do peso devastador de seu passado. Logo depois da vitória eleitoral do Hamas, em Gaza, um palestino perguntou-me, numa entrevista, o que eu faria se estivesse no lugar do Hamas, recém-eleito. "Dissolveria a Autoridade Palestina", respondi. Para acabar com a encenação. Isso feito, seria possível repor a causa nacional palestina sobre bases adequadas para exigir que o território e seus recursos sejam partilhados proporcionalmente entre populações assemelhadas em quantidade – não com 80% para os israelenses e 20% para os palestinenses, uma violência tão grande que, no longo prazo, nenhum povo jamais a aceitará. A única solução aceitável é um único Estado, para israelenses-palestinenses, no qual os crimes do sionismo possam afinal ser reparados. Não há outra possibilidade. Só essa.


Os cidadãos de Israel bem podem meditar sobre essas palavras de Shakespeare (n'O Mercador de Veneza), em que introduzi pequenas mudanças:


"Sou palestino. Palestino não tem olho? Não tem mãos, órgãos, altura, peso, sentidos, afeições, afetos, paixões? Não come a mesma comida, não morre pelas mesmas armas, não padece as mesmas doenças, não se cura pela mesma cura, não se aquece no mesmo verão e não congela no mesmo inverno, como o judeu? Se nos furam, não sangramos? Se nos fazem cócegas, não rimos? Se nos envenenam, não morremos? Se nos fazem mal, não nos podemos defender? Se somos iguais em tudo, não reclamem de sermos iguais também nisso… A vilania que nos ensinaram, nós a aprendemos; seremos vis; menos vis que vocês, sim, porque viemos depois. Aprendemos com vocês, mas a vilania purga-se, no tempo. Mais do que isso, não posso prometer."