terça-feira, 6 de maio de 2008

Josef Fritzl e o Super-Homem de Nietzsche


O horror causado pela revelação do pai austríaco que estuprou e manteve sob cárcere privado a própria filha por 24 anos, abre uma tremenda possibilidade para avançar no debate filosófico-ético contemporâneo.
Nestes tempos que, não por coincidência, são o auge do neoliberalismo (no plano político-econômico) e do pós-modernismo irracionalista (no plano filosófico), apresenta-se como um dos mais badalados pensadores o filósofo germânico oitocentista Friederich Nietzsche. É possível identificar nas idéias de Nietzsche uma das mais importantes fontes da filosofia que, em nossos dias, se apresenta sob a forma do pós-modernismo.
Nietzsche foi, não apenas, mas principalmente, um filósofo da moral. Sua obra, escrita, de acordo com suas próprias palavras, do ponto de vista de um “soldado prussiano”, ataca frontalmente a moral judaico-cristã dominante no mundo ocidental. Podemos dizer, mais ainda, que sua obra é um ataque à moralidade que busca impor limites éticos aos desejos, paixões e pulsões do indivíduo. Para Nietzsche, o indivíduo livre, o Super-Homem, é aquele que consegue governar sua conduta virando às costas para a moralidade que busca aprisiona-lo. Não por acaso, Nietzsche é citado como uma fonte inspiradora por todo o alto comando nazista, de Hitler a Rosenberg, afinal de contas, quem mais que o oficial nazista da SS pode representar o ideal do amoral Super-Homem de Nietzsche?
Por razões que somente a luta de classes, em seu nível ideológico, pode explicar, Nietzsche chega à segunda metade do século XX e até hoje, como expoente de uma suposta defesa da liberdade individual, como um escritor supostamente “progressista”, incensado, inclusive, por parte da esquerda política e intelectual. Obviamente que o espírito do individualismo negativo e narcísico de Nietzsche casa muito bem com a lógica privatista da desregulamentação selvagem do neoliberalismo contemporâneo e, como conseqüência, não causa surpresa nenhuma que a obra filosófico-moral de Nietzsche esteja em alta no mundo acadêmico. O caso do austríaco bestial, e sua amoral selvageria pode muito bem lembrar a todos nós os riscos de exaltar uma sociedade fundada em Super-Homens nietzscheanos. Recomendo a todos a crítica demolidora a que o filósofo húngaro Györg Lukács submete a obra de Nietzsche em seu livro “O assalto à razão”.

Um comentário:

Maurício Quitete disse...

Josef Fritzl deve ser seguidor de Nietzsche! Não é possível!
É filha que mata os pais
É pai que mata a filha
Pai que escraviza a filha
Onde o mundo vai parar meu caro Maycon?