Desde a semana passada, como resposta aos diversos eventos que têm sido realizados pelo país afora em memória dos acontecimentos históricos do ano de 1968, a grande imprensa nacional vem promovendo - através de alguns artigos de alguns pesquisadores e supostos especialistas – uma campanha de revisão histórica do significado das lutas contra a ditadura militar no Brasil, em especial, da luta armada.
Primeiramente, o historiador Marco Antônio Villa da USP publicou um artigo na Folha de São Paulo no qual buscava defender a tese segundo a qual a luta das organizações da esquerda armada, nos anos 60 e 70, teria tido papel nulo no desmantelamento do regime ditatorial e, além do mais, não deveria, sua história, ser reivindicada pelo “Brasil democrático” de hoje, pois sua luta era tão anti-democrática quanto o regime militar, já que seu propósito era a construção do socialismo e não da “democracia”.
Hoje, no jornal O Globo, o jornalista Merval Pereira retomou a tese de Marco Antônio Villa – e de outros historiadores – reafirmando a necessidade de promover a revisão da maneira como a história da luta armada contra a ditadura militar é contada no presente. Segundo Merval Pereira, Villa e outros, ao invés de serem considerados heróis que sacrificaram a vida no combate concreto contra a concreta ditadura militar, os guerrilheiros do passado devem ser considerados como anti-democráticos e truculentos rebeldes absolutamente insignificantes na história recente do Brasil.
Diante desta campanha revisionista neoconservadora é importante reafirmar algumas questões básicas: 1) independentemente de poder, ou não, ser considerada a estratégia de luta mais adequada para a época, o fato é que o desgaste promovido pela ação guerrilheira urbana e rural no aparato da ditadura militar não pode deixar de ser levado em consideração na análise do conjunto do período histórico em foco; 2) a imensa maioria dos trabalhadores, estudantes e intelectuais – além de soldados, cabos e sargentos expulsos das Forças Armadas – que compunham os contingentes armados das organizações da esquerda guerrilheira dos anos 60 e 70, realmente não estava sacrificando sua vida pelo tipo de “democracia” na qual vivemos hoje - com 90% da população dividindo apenas 25% da riqueza do país, e com 60% da população carcerária constituída de gente que sequer passou por um julgamento; 3) pessoas como Carlos Marighella, Carlos Lamarca, entre outros, devem sim ser considerados como heróis do povo brasileiro, pois lutaram e morreram defendendo a única democracia que vale este nome, aquela que se expressa não apenas no direito de votar, mas também na esfera muito real da vida sócio-econômica da nação.
Contra o revisionismo neoconservador que tenta se aproveitar da atmosfera obscurantista que invade boa parte dos departamentos universitários de ciências humanas e sociais no país, sem mencionar a grande imprensa, é preciso manter erguida bem alta a bandeira da verdade histórica e dos valores do progresso, da igualdade e da justiça social.
terça-feira, 27 de maio de 2008
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