sábado, 24 de maio de 2008

A democracia de Uribe e Bush


No dia em que o alto escalão do Estado colombiano veio a público para celebrar o suposto assassinato exitoso de Manuel Marulanda, comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP), Faço questão de propor um aprofundamento da reflexão a respeito da terrível situação real na qual está envolvido o povo irmão da Colômbia.
O presidente colombiano Álvaro Uribe Vélez, aliado incondicional e intransigente da presidente Bush e de sua política externa para a América Latina, além de promover, seguidamente, atos provocativos meticulosamente planejados contra os países vizinhos do “eixo do mal” sul-americano (como os classificariam o Departamento de Estado dos EUA), também trabalha ostensivamente para construir, no exterior, a imagem de que a Colômbia é um país democrático cujo governo luta contra a ameaça anti-democrática de uma narco-guerrilha esvaziada de todo significado político e social.
Por um lado, é bastante questionável a maneira pela qual as forças político-militares irregulares das FARC-EP são apresentadas no exterior. Sua inserção social no país, entre setores tão diversos como o campesinato, o operariado e certas camadas da classe média, é bastante real e, indo mais além, é inquestionável – de um ponto de vista seriamente analítico – que as FARC-EP se constituem em uma força beligerante em um país em franca situação de guerra civil.
Por outro lado, o governo colombiano de Uribe - que anistiou e integrou à vida política formal do país os contingentes paramilitares da extrema-direita (responsáveis por inúmeros massacres e extermínios, além de explicitamente envolvidos com o narcotráfico) – deve se responsabilizar, em sua “cruzada” contra o “terrorismo”, o “extremismo” e pela “democracia”, por mais uma brutal e recente onda de assassinatos de lideranças sindicais naquele país. A notícia que divulgo abaixo (retirada do site da Agência de Notícias por uma Nova Colômbia) refere-se a uma tradicional prática na vida política colombiana: o assassinato sistemático de líderes sindicais, em especial daquelas categorias mais organizadas e ativas. É importantíssimo que nos preocupemos em conhecer efetiva e realmente o que se passa no país vizinho, recusando a opção fácil de aceitar passivamente a propaganda reacionária do pensamento único imposto pela grande mídia do capital.

Nova e macabra onda de assassinato de sindicalistas

Novamente, uma onda de assassinatos cobra a vida de destacados ativistas do movimento dos trabalhadores colombianos. Durante os primeiros três meses de 2008 foram assassinados os seguintes 19 sindicalistas:

Em 2 de Janeiro, em Medellín,
Mario Zuluaga Correa, da Associação Médica Sindical, Asmedas; em 12 de janeiro, em San Jerônimo, Antioquia, Ramiro de Jesús Pérez Zapata, dirigente de Adida, Fecode, Cut; em 24 de janeiro, em Chaparral, Tolima, Israel González, secretário geral da Astracotol, Fensuagro, Cut; em 28 de janeiro, em Itaguí, Antioquia, Yebraín Suárez, do Sigginpec, Cgt; em 2 de fevereiro, em Macarena, Meta, José Martin Duarte Acero, do Sintrambiente, Cgt; em 08 de fevereiro, em Tame, Arauca, María del Carmen Meza Pasachoa, da Asidar, Fecode, Cut; em 09 de fevereiro, em Balboa, Cauca, Arley Benavides Samboní, da Anthoc, Cut; no mesmo 09 de fevereiro, em La Vega, Cauca, José Giraldo Mamián, da Asoinca, Fecode, Cut; em 04 de março, em Ocaña, Norte de Santander, Carmen Cecilia Carvajal Ramírez, da Asinort, Fecode, Cut; em 06 de março, em Bogotá DC, Leonidas Gómez Rozo, do comitê de empresa do Citibank, Uneb, Cut; em 08 de março, em Medellín, Antioquia, Gildardo Gómez Alzate, do Centro de Estudos e Investigações Docentes de Adida, Fecode, Cut; em 09 de março, em San Vicente del Caguán, Caquetá, Carlos Burbano, vice-presidente local da Anthoc, Cut; em 12 de março, em Codazzi, César, Víctor Manuel Muñoz, da Aducesar, Fecode, Cut; em 15 de março, em Puerto Asís, Putumayo, Manuel Antonio Jiménez, da Cicacfromayo, Fensuagro, Cut; em 18 de março, em Cartago, Valle, José Gregorio Astros Amaya, da Aseimpec, Cgt; em 22 de março, em Riohacha, Guajira, Adolfo González Montes, da Comissão de Propaganda de El Carrejón, Sintracarbón, Cut; e em 1º de abril, em La Hormiga, Putumayo, Luz Mariela Díaz López (que estava grávida de 7 meses) e Emerson Iván Herrera Ruales, da Asep, Fecode, Cut.


Vários desses assassinatos têm tido características extremamente atrozes. Os autores têm torturado as vítimas de forma vil. Leônidas, Gildardo e Adolfo, apesar de terem sido mortos em três locais distantes do país, Bogotá, Medellín e Riohacha, sofreram ataques muito parecidos, estripados dentro de suas casas, em que receberam numerosos golpes e punhaladas. Os criminosos nestes três casos usaram apenas armas perfuro cortantes. O corpo de Carlos Burbano foi encontrado em uma lixeira, cruelmente torturado. Ainda que o magistério, que realizou as maiores mobilizações em 2007 e já alcançava maior presença política, é novamente o setor que mais assassinatos registra, desta vez os assassinatos têm atingido uma ampla gama de sindicatos, em uma verdadeira agressão contra a ascensão do movimento grevista registrado no país, em setores tão diversos como a mineração (Billiton – Corromatoso), a agricultura (palma aceitera), a saúde e a administração pública (Dian, Justiça).

2 comentários:

xacal disse...

O primeiro passo para isolar e garantir a possibilidade de eliminação física de opositores é a criminalização dos seus processos políticos...

Não há dúvida que hoje, as FARC possam contar com fontes financiadoras ligadas ao narcotráfico...

Mas não nos iludamos: é justamente o "endurecimento" e criminalização que empurram movimentos políticos para a clandestinidade, e não o contrário...

Quem tem o papel institucional do diálogo são os detentores do poder estatal, e não o contrário...!

Caso parecido acontece com o MST...muito embora esse movimento tenha arrefecido com o governo Lula...

Porém o STF de Gilmar Mendes parece demonstrar que a carga voltará...!

Maurício Quitete disse...

Olá professor Maycon!
Quando acabará toda essa humilhação imposta aos reféns pelas FARC? Quem viver verá!
Fugindo do assunto: gostaria que um de seus posts falasse sobre Funai X Índios X Engenheiros! Onde está o limite entre atos indígenas e atos criminosos?
Abraços