Não é mais possível, nem mesmo para o mais ufanista dos regionalistas da cidade, negar que Campos dos Goytacazes vive uma gravíssima crise política que, na verdade, se entrelaça com uma mais séria crise econômico-social.
Muito já se falou e se escreveu, principalmente nos inúmeros blogs da cidade, a respeito das manifestações, origens e conseqüências da crise presente, assim como de seus personagens principais. A exigência de uma alternativa às duas (ou seriam, agora, três) facções políticas que se estraçalham pelo controle do orçamento público municipal – exigência que ganhou corpo e consistência a partir da rede de blogs da cidade que culminou no simbólico ato “Chega de Palhaçada” – se tornou um ponto central na agenda campista, a tal ponto que esta “bandeira” – a da “terceira via” – vem sendo disputada retoricamente pelos mesmos setores que vêm se beneficiando com os múltiplos escândalos de corrupção denunciados e investigados pela Polícia Federal, Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal.
A recente prisão do antigo chefe da Polícia Civil e correligionário de Anthony Garotinho, pela organização de um esquema poderoso de corrupção mafiosa na secretaria estadual de segurança pública, esquema este que, segundo a Polícia Federal, teria em Garotinho um de seus principais articuladores, lança uma pá de cal sobre sua tentativa de se colocar no debate público como uma alternativa eleitoral moralizadora a nível municipal.
Não restam mais dúvidas, ou, pelo menos, não podem mais restar, de que é vital para o presente e para o futuro do município romper com a bizarra bipolaridade política imposta aos seus cidadãos. No entanto, o caminho através do qual seguiu o debate sobre a “terceira via”, ou melhor, sobre a necessária alternativa política a ser construída na cidade parece haver conduzido, também, a um ponto de estrangulamento, um ponto morto.
Algumas limitações importantes sufocaram, ao menos momentaneamente, o avanço da construção de uma via popular, democrática e progressista para a gestão municipal de Campos. Em primeiro lugar, o enquadramento rígido do debate sobre a “terceira via” nos marcos institucionais do PT campista, subordinou o primeiro às contradições e limitações do modus operandi do segundo.
Em segundo lugar, uma abordagem extremamente pragmática e imediatista acabou conduzindo a maior parte dos defensores da “terceira via” a subordinar o projeto de construção de uma alternativa política para a cidade à exigência de viabilidade eleitoral imediata da chapa que se lançaria como representante destes anseios de mudança. Faço questão de defender a tese segundo a qual uma alternativa política digna deste nome, com base de sustentação real suficiente para impor todas as mudanças que a cidade necessita, para ser efetiva, precisaria construir-se solidamente através de um processo de elaboração coletiva levada a cabo pela participação ativa e democrática do maior número de indivíduos e organizações possível, em uma perspectiva de mais largo prazo que não estivesse focada prioritariamente no pleito municipal deste ano.
O fato de a maioria dos defensores da “terceira via” defenderem um projeto político de natureza gerencial-empresarial, expresso em slogans em defesa da “eficiência administrativa” e na busca de alianças com expressivas lideranças empresariais da cidade, da mesma maneira, amputou o projeto da “terceira via” de toda possibilidade de assumir um caráter inequivocamente democrático, popular e progressista e, em função disto, romper as teias do clientelismo que envolvem grande parte das camadas populares da cidade.
Os mais recentes acontecimentos e reviravoltas envolvendo os dirigentes das principais facções políticas da cidade poderiam ser uma oportunidade para que voltássemos ao debate.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
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Um comentário:
O dilema enfrentado por alguns setores da terceira via, entre os quais me incluo é o seguinte:
não há acúmulo, nem tradição política suficiente que sustente uma alternativa construída a partir dos segmentos da sociedade civil, mormente os setores populares, que foram tragados pela cooptação ou estão diluídos em suas demandas próprias...
a infestação dos royalties na vida da cidade, como já diagnosticamos empobreceu e enfraqueceu o debate...
hoje a luta pelo "gerenciamento" infelizmente é ponto de consenso e partida para agrupar forças que antagonizem o modelo que apodrece...
é pobre e insuficiente, mas é o possível...
se não apostarmos em nossa capacidade de operar esse movimento por dentro, seremos em breve engolidos...
repito, é o limite que a realidade nos impõe...
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